Lorraine Shesmesh
"Durante festa de arromba, pressente a nata dos políticos e diplomatas no país, o milionário anfitrião, meio tocado, fez-se ouvir:
_ Quero dizer-vos que a minha piscina é mágica.
Pensando ser delírio do dono da casa, todos riram. Nisto, ele corre, pula para o azul transparente da piscina, e grita:
_ Cerveja!
A água muda para cerveja. Nada, bebe, e, ao sair do outro lado, a piscina volta ao normal.
O embaixador italiano, estupefacto com o presenciado, corre também, dá um salto e grita:
_ Vinho!
E a água transforma-se em vinho. Nada, sai e, novamente, a piscina regressa ao azul.
O adido francês dá pulo para a piscina e grita:
_ Champanhe!
A água muda para champanhe. Ao sair, a piscina está como antes.
José Sócrates, vibrátil de emoção com o milagre portugês, corre para mergulho acrobático. Já no ar, Armando Vara, amigo de infância e anjo protector, diz-lhe:
_ Cuidado Zé, tens o telemóvel e a carteira no bolso!
Sócrates grita:
_ Merrrrdaaaaaaaa!"
E tanta foi que deu no visto e sofrido. Hoje, ‘Dia de São Portugal Parado’, amanhã, ‘Dia de São Portugal Desarrumado’. Como ontem e anteontem. Siga a música!
CAFÉ DA MANHÃ
Sonia Roji e Greg Horn
Procuram o sol nos cantos onde o vento descansa. Ajuntam-se, aos poucos, quando a manhã arrastou mais de metade. Idosos. Passada lenta. Bengala um por outro. Com excesso de peso quase todos _ caminho andado para corações e artérias atrofiadas. ‘Bom dia!’ à chegada. Palavras escassas depois. Olham, sem ver, o visto diário. Vislumbre de ânimo quando mais um se acomoda nos bancos comunitários.
Nas sombras frias que Abril não aqueceu, os mais novos. Desocupados dia sim, dia sim. Falta de trabalho ou de vontade em utilizar com proveito social as horas que fogem perdidas em inutilidade. Cigarro numa mão, cerveja na outra. Magros. Olham e/ou interpelam sem talento as mulheres que passam. No resto, tão velhos como os aquecidos pelo sol. Em frente, apartamentos com boa cara são coberta que os aconchega chegado o tempo da janta. Da noite.
Atravessam sol e sombras mulheres elegantes. Passeiam cães ou caminham em passo rápido até desembocarem nos parques onde a saúde e as formas exemplares do corpo são promessa. Equipadas com o melhor do sportswear. Saem dos condomínios fechados. Ignoram velhos e novos próximos pela vizinhança, distantes pelo estatuto da morada e da profissão. A eles e elas acontece virem a casa num pulo. Entram e saem temerosos. Carrões deixados à porta por tempo curto, não os saqueiem ou vandalizem os novos postados nas sombras, camisetas justas, calças descidas, orelhas furadas. Pacíficos no seu bairro _ se desmandos fazem escolhem lonjuras convenientes. Tristes, todos. Uns porque as dores chegaram e adivinham fim próximo, outros pela ociosidade e boa/má vida, os «ricos» pela mediania encapotada, pelos recursos insuficientes para satisfação de prazeres grandiosos, cópias dos abastados de facto. Semelhanças (in)visíveis.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possívedl identificar
Noite de sábado de um verão sem arrefecer a pele. Lisboa por cenário. Na rua da Barroca, a «espumanteria». Casa de boa comida. Ostras como entrada; seis em número, tamanho e frescura a preceito. Germinadas em França, adultas no Sado. Limão cortado noutros tantos gomos. Espumante rosé nas flutes. O prato de substância foi risotto de alheira e trufas. Dispensada a sobremesa. Como remate, café.
Pela eficiência e conhecimento do servido, pela afabilidade isenta de snobismo, lugar para muitos regressos. Desde 17 de Setembro, mais mesas e sítio para fumadores que outros lugares de serventia ao palato ostracizam.
Quem, no Bairro Alto, não cometia infidelidades ao Pap’Açorda ficou rendida. Afinal, a mulher faz em casa semelhante à mítica mousse de chocolate do sítio/referência. Até a Cila, bem ensinada, deixa produto melhorado em taça no frio. Perfeita. A Cila e a mousse.
Abaixo da Travessa da Espera, «morangoska» no Cenas de Copos. Fresca e deliciosa. Na Rua das Salgadeiras, o Bairro Arte. Objectos alternativos que retêm o olhar. Um trolley de compras em verniz preto, «one» cosido em branco, faz arranjo no transporte das minudências de fim-de-semana vendidas nas mercearias de bairro. O chique cabe em qualquer lugar se tiver serventia.
O Bairro, dito Alto, apetece de raro em raro. Antes da enchente noctívaga, que nele se peregrine e seja descida rua/viela até ao Camões.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros