Nathalie Picoulet
Num país de «inhos» e «inhas», declaro-me tão portuguesinha que dói – humilde, teimosa, condoída, hospitaleira, desenrascada no pior, orgulhosinha quando, lá fora, o povo de que sou é desvalorizado, alvo de galhofa xenófoba, e riposto com subtileza para achincalhar quem a profere empertigando queixo e nariz. Como típico produto nacional, logro coluna erecta disposta a desafiar muitos num ‘venham daí que chego para todos’. Ora, portugesinho prezado é fanfarrão como a padeira da lenda provinda de Aljubarrota que com a pá do forno matou sete, possivelmente nem um, mas se ela disse ou consta pela bravura enche alma colectiva. Garantem seis dedos na lendária mulher errante, pouco virtuosa, que, antes de terminar honesta, foi sequestrada por piratas – se teve ‘partes com eles’ não sei, como diria Augusto Abelaira no ‘Bosque Harmonioso’ – e vendida a ricaço da Mauritânia. Em síntese: _ Desenrascou-se e ajeitou-se. Fez bem.
A mulher/escriba, facto raro, tem andado macambúzia. Deu em «inha» preocupada com o futuro pessoal e do Zé Povinho - cartão eleitoral atesta dela a pertença à casta desvalida (todos os portugueses, pois então!). Logo ela dita força da mãe natura, epíteto em que não se revê. Tem dias, isso sim, embora mais comuns os prazenteiros do que os tristinhos. Aborrece-a tanta manobra e feia obra para aprovar Orçamento do Estado que nem é, nem deixa ser. Entediam-na boatos sobre pacotes a cada dia piorados: _ já sabes disto e mais daquilo? E ela que não. Alguns que sim. No ano último, aprendeu experimentalmente que das vozes surgem nozes podres envernizadas para melhor serem dadas como boas. Aos boatos começa a prestar atenção. Por isso pessoazinha. E pondera se o seu atávico estado alegre não a inclui no clube dos contentinhos que, pela inércia em encontrar pá que carregue trastes para longe, atrasam em vez de adiantar Portugal.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros