“Já se sabe que Yanis Varoufakis – pelas boas ou más razões, isso fica ao critério de cada um — anda nas bocas do mundo. Por arrastamento do fenómeno mediático em que se transformou, também a sua mulher, Danae Stratou, passou a ser alvo da curiosidade geral. Isto fora da Grécia, porque dentro já o era há muito, antes mesmo de se tornar a senhora Varoufakis, por mérito próprio do seu trabalho de artista plástica, e por herança – o seu pai era e é um dos industriais mais ricos de terras helénicas. Mas o que até há poucos dias ninguém sabia – talvez nem a própria – é que Danae, na verdade, já era uma estrela pop à escala mundial desde que Jarvis Cocker e os seus Pulp lançaram o single Common People em Maio de 1995 (canção que veio a integrar o marcante álbum Different Class do mesmo ano). Para quem não sabe, Common People é a mais cantada e ouvida canção dos Pulp. E das mais cantadas e ouvidas canções pop de sempre – uma das tais canções pop cuja perenidade (já lá vão vinte anos e ninguém consegue cansar-se dela) contradiz a própria essência de efemeridade da pop. Como se percebe pela letra da canção (ou, mesmo antes, pelo seu título), Common People trata de alguém – uma jovem de vida folgada, nascida num meio social que lhe permitia todos os luxos e mordomias – que teria como aspiração a de viver como “gente vulgar”, com os recursos limitados de uma “pessoa normal” (não levem a mal as expressões, as aspas indicam bem que não são minhas e me limito a traduzir o que Jarvis Cocker quis dizer através da canção).
Ora, a ser verdade o que esta semana contou um jornal grego, Jarvis Cocker inspirou-se em Danae para escrever a canção. A própria letra desvenda o mistério: a jovem em causa vinha da Grécia, tinha um pai rico que lhe pagava as contas todas, e, nos anos 80, estudava (tal como Jarvis) no St. Martins College of Art and Design. Acontece que Danae, para além de bela e rica, estudou escultura no St. Martins College entre 1983 e 1988. E parece que, nesse período, não haveria outra jovem grega bela e rica no St. Martins (ou, pelo menos, tão bela e rica como ela). Só numa coisa Jarvis faltou escandalosamente à verdade. A miúda nunca o quis levar para cama, o próprio já admitiu que ele, sim, tentou fazê-lo, sem o conseguir. Até o facto de Jarvis Cocker ter falhado as suas tentativas para a levar para a cama bate certo. Só isso explica que tenha tentado compensar o falhanço com uma canção tão cínica e mordaz. Um gentleman – e Jarvis Cocker, apesar de lhe dar para a alarvidade em palco, é um gentleman com as senhoras — nunca faria isso a uma mulher (e muito menos a uma linda senhora como Danae) que com ele partilhou a cama.”
Nota – Texto publicado por Diogo Leote no ‘Escrever é Triste’.
CAFÉ DA MANHÃ
Rui Kink
CAFÉ DA MANHÃ
Balthus – “The White Skirt”, 1937, expressionismo, retrato, coleção privada
Da Babilónia, Heródoto relatou o costume das mulheres da sociedade se ofereceriam nos templos aos estrangeiros em troca de algumas moedas e oferendas para a deusa. O Livro de Josué menciona a prostituta Raab que pela bondade e coragem arriscou a vida ao esconder em casa dois espiões israelitas de visita à cidade de Jericó. Na Grécia, as hetairae conquistaram relevância social pela inteligência, pelo desprendimento, pela esperteza e pela capacidade de administração do capital; circulavam nos meios masculinos e teciam políticas. Rodopis, prostituta grega acumulou fortuna no Egito que justificou a construção duma pirâmide. "Não castigarei as filhas de Israel porque elas se prostituíram" Osaías versículo 12. Por estas e outras, conheço quem só ofereça uma Bíblia aos filhos depois dos 18 anos. Esta diversidade persiste e impede cristalizar uma ou outra versão da prostituição, decorrendo a pergunta se não é a economia que regula e define a prática.
Li: “Enquanto se considerar prostituta uma mulher de segunda e o sexo como algo que suja - especialmente as mulheres que se atrevem a tocá-lo já que os homens devem usar luvas - é difícil ultrapassar a cultura que penaliza a liberdade sexual feminina. E muitas vezes a simples liberdade de agir segundo a própria vontade, quando se quer menorizar essa mulher é colada a reputação mesmo sem culpa próxima ou remota. O reverso do poder do sexo também é esta perversão de enxovalhar quem atenta contra o estabelecido.” De seguida, comentário: _ “E ao gajo/utente que nome atribui? Puto?”
Substância não falta à perplexidade. O masculino do vulgarismo puta não existe. Equivalente, mas soando a promoção, há prostituto. Para a mulher termo pejorativo, para o homem termo profissional. O português metafórico é igualmente injusto para a mulher.
- Vadio: homem que não trabalha.
- Vadia: puta.
- Boi: homem gordo, forte.
- Vaca: puta.
- Aventureiro: homem que se arrisca, viajante, explorador.
- Aventureira: (…)
NOTA – Publicado integralmente aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Andy Warhol
"Ambrósio, apetecia-me qualquer coisa..." "Um comentário explosivo, madame?" "Ná. Outra coisa..." "Uma explosão, talvez?"
“Esta ditadura insuportável do «politicamente correcto» tira-me do sério. Durante séculos soubemos sempre – e ninguém levou a mal – que Deus era um homem barbudo, branco, já idoso mas ainda viril (como eu), vestindo uma toga e dormindo num edredão de nuvens (como eu). Agora vêm sugerir que talvez possa ter outra forma, género e até outra cor. Apre! Há limites para a insensatez destes fanáticos. Qualquer dia até nos vão tentar convencer de que Jesus era circuncisado...”
“Grécia Vila Morena.”
“Desculpem lá, mas Pedro Passos Coelho desta vez tem inteira razão. O governo grego está a cumprir as promessas feitas em campanha eleitoral?!? Por amor da santa, há limites para a demagogia...
ENTREMENTES, EM PORTUGAL... "Cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas/cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas..."
[Maldita a hora em que Sérgio Godinho meteu esta lengalenga numa canção - acho que a culpa de sermos assim é toda dele, já que mais ninguém se acusa.]
“Dizem que o cérebro humano regista com mais atenção as coisas negativas que as positivas e está preparado para passar as culpas a outrém, por incapacidade intrínseca de assumir demasiadas responsabilidades individuais. Eu sabia: somos um povo genial!”
“VENDO - 150 euros, exemplar do Charlie Hebdo. (Não é o que pensais: não estou a fazer lucro com a morte. Estou apenas a tratar da vidinha.)”
“Já me avisaram para não contar intimidades no facebook, que se vem a saber tudo. Mas eu não resisto: esta é a canção que trauteio todas as manhãs ao fazer a barba.”
O panorama de uma aldeia na Sérvia Os telhados verdes das casas nas Ilhas Faroé.
Vibrantes ou de uma só cor, aldeias que parecem paisagens ficcionadas.
Casas onde moram freiras, no Tibete Aldeia na ilha Kastellorizo, Grécia
Esta é uma pequena "volta ao mundo”.
Pequena aldeia no Monte Fuji, no Japão Em Riomaggiore, Itália, são as cores vibrantes que sobressaem
Imagens únicas. Exemplos perfeitos de locais apetecíveis.
Dizem ser a aldeia mais bonita da Noruega, Reine Esta fica nos Alpes, em Grindelwald, Suíça
De dia ou de noite. Iluminadas pelo sol ou pelas cores das fachadas nas paredes.
A aldeia Abi Barak, no Afeganistão A aldeia Igloo, na Alemanha
No meio do nada ou no meio de tudo.
Na costa escocesa, Pennan, Scotland Visão noturna da aldeia Myggedalenillage, na Gronelândia
Aldeias "locais/postais" que vale a pena espreitar.
Nota – Esta é a fonte das imagens e do texto.
CAFÉ DA MANHÃ
Edgar Degas – Ballet Class Edgar Degas - Dancers
Partiu Luna Andermatt aos 87 anos. Tive o privilégio de ver a Companhia Nacional de Bailado em coreografias de Luna Andermatt. Reformou o bailado no nosso país, criou a CNB em 1976, moldou inúmeros coreógrafos, bailarinos que haveriam de mostrar a técnica e talento também no Ballet Gulbenkian.
Um dia, escreveu: “Ninguém envelhece só por viver muitos anos. A juventude não é uma época da vida, é um estado da alma. Não é uma questão de faces lisas, de lábios vermelhos e joelhos bonitos. É uma força de querer, uma qualidade da imaginação, um rigor de emoções e uma frescura da profunda primavera da vida.”
“Em fevereiro passado, Luna Andermatt foi homenageada com a medalha municipal de mérito, Grau Ouro, pela Câmara Municipal de Lisboa, pelo contributo para a dança em Portugal como bailarina, coreógrafa e professora. Regressou aos palcos em 2010, com a Companhia Maior, projeto criado no Centro Cultural de Belém por Luísa Taveira, atual diretora da Companhia Nacional de Bailado (CNB).”
Para má notícia, outra boa é anunciada. O programa europeu “Europa Criativa vai disponibilizar 1,46 mil milhões de euros para projetos culturais até 2020. O novo quadro de fundos comunitários vai ser aprovado daqui a duas semanas, com um aumento de 9% em relação aos programas até agora existentes. Bruxelas reconhece que os 1,4 mil milhões de euros representam uma "parte marginal" do orçamento da União Europeia e o início do programa será lento. Por isso, o chefe de unidade do programa "Europa Criativa", Karel Bartak, defende que os países em crise devem inventar soluções para fazer chegar a cultura aos mais pobres, porque «investir na cultura não é um luxo».”
Convém lembrar que no ano passado apenas um terço dos portugueses assistiu a um concerto. Na Europa e na nossa retaguarda, apenas Chipre e Grécia.
CAFÉ DA MANHÃ
Breve a fuga. Sempre curto demais encontro silencioso com o espírito. Também por isso aproveitado cada instante. Fruição. Até na espera do ferry e das sardinhas em Setúbal.
Casal de alemães rondando sessenta e pós sai da caravana luzidia. Elegantes, bronzeados, cedem ao vício dum cigarro com Arrábida em fundo. Gozando da brisa fresca, dos meus cabelos por ela levantados, do sol entre nuvens no seu brincar com sombras e repentes de luz gloriosa, sentia com gosto o temperamento da meteorologia. A mulher aproximou-se e foi o inglês posto ao serviço do diálogo. Comentaria: _ “É rica?”. Perante a minha perplexidade, acrescentou: _ “Esta zona é muito cara. Quem ali circula distingue-se dos algarvios e alentejanos.” Expliquei o critério que preside no ‘Troia Resort’ – pelo custo dos catamarãs, injustamente arredada a população de Setúbal da praia histórica na infância de muitos. Pelos custos elitistas, o português hesita ou é impedido pelos salários e empregos parcos. Seleção obediente a cimeiros interesses económicos tendo em vista lucros crescentes. O homem comparou: _ “ Fosse em Espanha e a costa estaria pejada de hotéis impressivos.” Que não, que em Portugal eram (mal) protegidas reservas naturais. Dei exemplos. Quase batiam palmas.
O casal viera desde a harmoniosa Colónia, percorrera Sul de França e de Espanha, permaneceu no Algarve, os dias últimos em Lagos. Espreitaria a Costa Alentejana e Évora. Do Algarve, em particular de Lagos, opinião do pior. No entanto, estabeleciam diferença profunda com a Grécia onde peregrinaram no ano anterior. Lixo, gentes tristes, pobreza a esmo. Em Portugal, tudo é distinto e garantia o casal confiar na ressurreição económica do país. Inquiridos como viam os alemães Angela Merkel, resposta entusiasta de manifestos apoiantes. Europa forte, defendem.
A estranheza maior relatada foi a quantidade de autoestradas cortando país tão pequeno. Teriam vindo da Europa os euros? _ Que sim, que haviam sido mal aproveitados ao privilegiarem comunicações viárias em vez da educação como faria qualquer novo-rico. Avistado o ferry, despedida. Mágoa pelo diálogo interrompido.
CAFÉ DA MANHÃ
Som da fuga
Autor que não foi possível identificar, Alex Khrapko
Feliz, sim, com os resultados eleitorais em França. Desaparece o Nicolas, soyez le bienvenu François Hollande! Concedo ter sido digna a despedida de Sarko. Eufórica a celebração de François que lembra homónimo com apelido Mitterrand e tem como mentor. Dizem línguas viperinas que não fora a transformação por especialistas norte-americanos de mercado do ex-cinzento Hollande numa figura correspondente ao respetivo pensar e objetivo de vencer as presidenciais, o Sarko e a Bruni continuariam no Eliseu.
É extraordinário como os povos configuram numa personalidade a resolução de todos os problemas que o afligem. Mas o direito à esperança existe. Mas é legítimo que nesta Europa conjugada, até agora a duas vozes – Sarkozy e a da Merkl que de angelical nada tem – outras se ‘alevantem’ e ajam de modo diferente na condução desta bonne(?) vieille Europe.
Pelas eleições francesas, as gregas ficaram desfocadas. Na Grécia, o caldo resultante talvez comporte novidade. É na espera que navegaremos até o concreto surgir. Vale saber que «troiquices» não desfiguram a natura grega do azul mediterrânico e branco.
CAFÉ DA MANHÃ
Hendrick Goltzius, Paolo Veronese
Porque existem portugueses que pelo humor combatem o cinzento dos dias, porque o fim-de-semana deve começar com tranquilidade e alegria, segue lista enviada por uma amiga.
1. Zeus vende o trono a uma multinacional coreana.
2. Aquiles vai tratar o calcanhar na saúde pública.
3. Eros e Pan inauguram um prostíbulo.
4. Hércules suspende os 12 trabalhos por falta de pagamento.
5. Narciso vende os espelhos para pagar a dívida do cheque especial.
6. O Minotauro puxa uma carroça para ganhar a vida.
7. Acrópole é vendida à Igreja Universal do Reino de Zeus.
8. Eurozona rejeita Medusa como negociadora grega: "Ela tem minhocas na cabeça".
9. Sócrates inaugura o Cicuta's Bar para ganhar uns trocos.
10. Dionisio vende vinho e petiscos à beira da estrada de Marathona.
11. Hermes entrega currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.
12. Afrodite aceita posar para a Playboy.
13. Sem dinheiro para pagar os salários, Zeus “aluga” as ninfas para trabalharem no postibulo de Eros e Pan
14. Ilha de Lesbos inaugura um resort hétero.
15. Para economizar energia, Diógenes apaga a lanterna.
16. Oráculo de Delfos apaga os números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.
17. Áries, deus da guerra, é apanhado em flagrante a desviar armamento para a guerrilha síria.
18. A caverna de Platão abriga milhares de sem-abrigo.
19. Descoberto o porquê da crise: os economistas falam grego!
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Zografos, Santorini; Caroline Huff, portuguese boats
Ouvi e concordei: “a Grécia não é feita de gente mole como nós.” Julgavam-na capaz de suportar o insuportável sem suporte de esperança num futuro aliviado. A Comunidade Europeia tremelica como junco ao vento. Reconhece, tarde de mais, que as medidas draconianas para equilíbrio das finanças gregas contiveram excessos e erros. O povo confirmou-o antes por via da tristeza, da constatação quotidiana, da depressão financeira e económica, pelo mau viver. Daí à revolta generalizada e veemente foi tempo pouco. Pavio adequadamente curto para quem não cala o que é obrigado a comer sem desejar. Assim fossemos nós! Mas não. Amochamos quando sabemos que os pobres estão cada vez mais pobres, os desempregados crescem em número e com eles arrastam as famílias, os ricos espertos safam-se com low profile, não dêem escândalo e sejam alvos para dardos certeiros. Já aconteceu nas desordenadas emoções do Abril com mais de trinta anos. Aprenderam a lição e ensinaram-na aos filhos, os tais que hoje, pela reserva, salvaguardam estatuto e bens.
Pela esperança da qual não desisto, espero do governo agora empossado competência e sensibilidade social. Terá de conciliar o impossível se o laxismo existir, o possível se o interesse do povo jamais for esquecido. Apagá-lo do mapa das preocupações será erro crasso com factura elevada para os interesses nacionais.
CAFÉ DA MANHÃ
Cortesia do Cão do Nilo e, seguinte, o déjà vu por aqui.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros