Gustavo Fernandes – “Ampulheta”
Restam poucos que saibam preguiçar. A preguiça foi proscrita dos centros urbanos. Ido o tempo em que havia tempo para escutar as cigarras que teimo em ouvir. Nos dias que correm, inatividade é equivalente a morte social. Sofrer por uma carreira, transpirar no ginásio, almoçar em trabalho, encher a despensa, ver o último filme de que todos falam, ler o que acabou de sair, não ter tempo para amar, conduzir os miúdos ao colégio. Tudo para não esquecermos o mundo. Implacável, o mundo esquece quem somos.
CAFÉ DA MANHÃ
Gustavo Fernandes, Manuela Pinheiro
“A decisão da UNESCO foi favorável à candidatura portuguesa e o Fado passou, a partir de ontem, a ser considerado Património Imaterial da Humanidade.” Sinto-me alegre como badalo de igreja ao exultar, oscilando, boas novas.
"Chegaste a horas
Como é costume
Bebe um café
Que eu desabafo o meu queixume
Na minha vida
Nada dá certo
Mais um amor
Que de findar me está tão perto
Leva-me aos fados
Onde eu sossego
As desventuras do amor a que me entrego
Leva-me aos fados
Que eu vou perder-me
Nas velhas quadras
Que parecem conhecer-me
Dá-me um conselho
Que o teu bom senso
É o aconchego de que há tempos não dispenso
Caí de novo, mas quero erguer-me
Olhar-me ao espelho e tentar reconhecer-me."
CAFÉ DA MANHÃ
Gustavo Fernandes e autor que não foi possível identificar
Em espírito genioso e criatividade somos bons. Tão bons que arrojámos dum condado fazer reino e, muito após, país, antes esventrar mares em naus que nada sabiam sobre segurança da tripulação e se limitavam a obedecer ao Princípio de Arquimedes, a estrelas/bússolas e a informações colhidas dos ventos. Hoje vamos mais longe, conquanto agarrados a chão sólido (nunca o foi, mas perdoado seja o execesso).
Ora, em duas assentadas, prémios em batel cheio elevam a auto-estima de quem deles soube e é português. Trindade de projectos de arquitectos nossos, lograram vencer competição que os sites Archdaily e CoolHunter promoveram. Este último atribuiu o prémio de arquitectura institucional à sede da Vodafone no Porto. Pedro Guimarães e José António Barbosa, inspirados no slogan A Vida em Movimento da empresa de telecomunicações, desenharam "um dos vinte edifícios de escritórios do mundo mais surpreendentes". Do Archdaily arrecadámos ainda mais dois prémios nas categorias Hotéis e Restauração e Interiores. Nesta, apartamento com 44 metros quadrados aloja três divisões, soma inteligência a arrumo, mobilidade dos espaços, peças de design e bom gosto extremo. Custo: entre os 35 e os 40 mil euros.
O jornal i engordou a vogal por mais um reconhecimento exterior – melhor jornal nacional diário, segundo o European Newspaper Award que Norbert Küpper criou ao concluir que “o embrulho é tão importante como o conteúdo”. O i arrasou os concorrentes em praticamente todas as áreas: “fotografia, paginação, artigos jornalísticos em formatos alternativos e secções inovadoras.” Lido em fonte que não registei: "o i também foi vencedor na edição deste ano dos prémios ÑH, O Melhor Design Editorial Espanha & Portugal, o melhor na categoria dos jornais com 20 mil a 60 mil exemplares e o ionline foi finalista na categoria dos sites com menos de 12 milhões de exibições de página por mês. Nas várias categorias a que concorreu, o i somou 31 prémios.”
Constatada oficialmente a lusa recessão, ou inovamos e exportamos, ou falha Arquimedes e esta quase jangada de granito e calcário vai a pique até fundos inauditos.
CAFÉ DA MANHÃ
Gustavo Fernandes
“Deixemos de lado miserabilismos e concentremo-nos nas coisas boas, não como escape mas como realidade. Vivi em Portugal há quinze anos. Agora, de volta, sugiro dez factos, entre muitos, que melhoraram em Portugal desde a minha primeira estadia. Não incluo o bom que era e ainda é fantástico (desde a forma como acolhem os estrangeiros até à pastelaria).
- Mortalidade nas estradas; as estatísticas não mentem _ o número de pessoas que morre em acidentes rodoviários é muito menor, cerca de 2000 em 1993 e de 776 em 2009. A experiência de conduzir na Marginal é agora prazer, não um terror. O tempo do Fiat Uno a 180km/h colado a nós nas auto-estradas está a passar.
- O vinho; já era bom, mas a variedade e a inovação são notáveis, com muito mais oferta e experiências agradáveis. O mesmo sobre o azeite e outros produtos tradicionais.
- O mar; Lisboa, em 1994, era uma cidade virada de costas para o mar; poucos restaurantes ou bares com vista, e pouca gente no mar. Hoje, vemos esplanadas e surfistas em toda a parte. Muita gente a aproveitar melhor um dos recursos naturais mais importantes do país.
- A zona da Expo: era horrível em 1994, cheia de poluição, com as antigas instalações petrolíferas. Agora é uma zona urbana belíssima, com museus e um Oceanário entre os melhores que há no Mundo.
- A saúde: a qualidade do tratamento é muito melhor hoje em dia, apesar das dificuldades financeiras, etc. A prova está no aumento da esperança de vida, de cerca de 74 em 1993 para 78 anos em 2009.
- Os parques naturais; viajei muito este ano do Gerês a Monserrate; tudo mais limpo, melhor sinalizado, mais agradável. O pequeno jardim está, de facto, mais bem cuidado.
- O cheiro. Sendo por natureza liberal nos costumes sociais, não fui grande fã da proibição de fumar, mas, confesso, a experiência de estar num bar ou num restaurante em Portugal é hoje mais agradável com a ausência de tabagismo. E a minha roupa cheira menos mal no dia seguinte.
- A inovação; talvez seja fruto da minha ignorância do país em 1994, mas fico de boca aberta quando visito algumas das empresas que estão a investir no Reino Unido; altíssima tecnologia, quadros dinâmicos e _ o mais importante _ sem medo. Acreditam que estão entre os melhores do mundo, e vão ao meu país, entre outros, para prová-lo.
- O metro de Lisboa. É limpo, rápido, acessível e tem estações bonitas.
- As cores; Portugal tem e sempre teve cores naturais bonitas. Mas a minha memória de 1994 era o aspecto visual bastante cinzento das cidades, desde a roupa até aos carros. Hoje há mais alegria - recordo um português que me disse, talvez com tristeza, que o país estava a tornar-se mais tropical. Em termos de imagem, parece-me um elogio!”
Alexander Ellis, Embaixador Britânico
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