Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2011

PAGAR OS JUROS QUE A TERRA EXIGE

 Andrew Bennett, Dylan Lisle

 

Foi há um ano. Dizer 1º aniversário colide com a inferência de alegria que o termo em si transporta e normalmente reservado a acontecimentos felizes. No Haiti, a rebelião das vísceras da Terra matou centenas de milhares, destruiu bens, deixou vivos sem vida digna. A reconstrução demora, habitantes continuam (des)abrigados em tendas, as redes de saneamento ainda deficientes permitem que a cólera vagueie e continue o macabro caminho. Tanta desgraça por resolver! E, neste mundo de capitalismo duro e implacável, não há ‘crise’ global que justifique o abandono votado pelos países descaradamente ricos. Porque a violência decorre das desigualdades, enquanto as consciências não cerrarem fileiras numa vaga de fundo contra o actual status quo da ordem mundial, seja esquecida a utopia da paz.

 

Lá para baixo, perto dos nossos antípodas, as cheias alagam terras, deslocam multidões, recusam pacificação e retorno às margens. Na Alemanha, o liquefazer prematuro das neves, tem similares consequências. A lastimar vítimas mortais e desalojados, mas é consolo saber que os respectivos Estados possuem recursos para remediar prejuízos e proteger sobreviventes. Nas partes miseráveis da Terra, qualquer catástrofe natural obriga os povos a enfrentarem o terror pelo invisível horizonte de normalidade ou melhoria.

 

Não esqueço voz cautelosa e informada que, durando o último estio com águas marinhas anormalmente cálidas, alertou: _ Este é um dos muitos sinais da Terra. Um aviso. Entender-lhe o respirar é prudente, não só agora, mas desde há muito.

A merecer muito mais que o infinitímo segundo de preocupação que Cavaco diz não sentir pelos dizeres das campanhas adversárias.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:17
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Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2010

«VIOLINOS» SOBRANCEIROS


Samantha Hahn


Nova gravação de “We Are the World” cantado por potência com base dez de vozes ilustres começa a ser mau auspício ou triste consequência. Em 1985, da Band Aid resultaram quase meia centena de estrelas unidas na versão composta por Michael Jackson. Cinquenta e cinco milhões de dólares obtidos com a finalidade de suavizar a fome em África. Terem servido a causa original ou embolsados por mandantes despudorados, naquele continente jamais é conhecido.

 

Nas tragédias, a vileza dos humanos encontra campo para plantio. E que venha o chavão “não só, mas também”! Atestam-no factos pipocas e diários da pouca-vergonha nacional. Serve-a qualquer escadote ou cátedra onde se empoleire figura (des)acreditada. Chamar, publicamente, mentiroso a outrem sem a justiça o mesmo ter concluído, seria muito grave, não fosse a imundície que nos assola. Assim, é confinado o facto a fait-divers em vez de crime.

 

A situação no Haiti merece um “We Are the World” cantado por setenta que renda biliões vindos do mundo solidário. Em Portugal, não existe música que nos salve. Mas começa a ser trauteada. Não tarda, seremos milhões a cantá-la. Condenados «violinos» sobranceiros que a todos desrespeitam.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:28
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Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2010

DO LUTO AOS GRILOS

Henry Lee Battle

 

Quando a Terra geme e suspira, acomoda zonas íntimas pressionada por forças. De tensas, afastam placas, qual capa de tartaruga invisível. Colidem ou sofrem torsões. As rochas, que rejeitam elevada condição elástica, eliminam a energia potencial em excesso. Libertam-na como fisga esticada ao máximo que retoma forma comum. E vão ondas por aqui ou ali. Regiões que as apanhem contam sustos e danos. Gentes soçobram. Patrimónios destruídos. Vidas sem eira ou beira que as recolha pela elevada intensidade do arrumo. Catástrofe natural como outras que, igualmente, apagam o construído em anos por mãos laboriosas de quem fenece com a obra.

 

No drama, que a esperança se aninhe após o luto. Que não sejam também destrutivos espíritos sobreviventes como os nossos assentes numa plataforma mantida em relativo sossego. Mesmo sem tragédias de monta abrangendo milhares de portugueses, resistimos a acreditar no bom advir. A albufeira do Alqueva é exemplo. Muitos tomados por sábios, mas ‘velhos postados no Restelo’ garantiram que jamais a capacidade máxima seria atingida. Foi. É o maior lago artificial da Europa. Cumprido o primeiro objectivo do projecto Alqueva: “reserva estratégica de água, com capacidade para fazer face a três anos consecutivos de seca, com garantia de disponibilidade para abastecimento público, agricultura e produção de energia".

 

Parecemos grilo comum que, sem polinizar, engole flores. Verdade aberta à excepção de uma variedade da família “Glomeremus”: não tem asas, mede entre dois a três centímetros e possui antenas largas. Trata carinhosamente orquídea onde poise – transporta o pólen e ajuda-a a procriar. Assim fossem benévolos os ajustes terrestres!

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Haiti

 

Quando você for convidado pra subir no adro da
Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de
meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

 

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

 

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

 

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

 

publicado por Maria Brojo às 06:30
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