Terry Rodgers – “The Curious Brain”
Esvoaçam em bandos pela cidade. Rostos falando de primavera. Cabelos soltos levantados pelo vento ou pelo gesto de os prender no elástico que trazem no pulso. Botas rasas mal amanhadas ou ténis de sola grossa. As gangas escorregam na anca e desenformam o corpo. Trouxas de roupa. Algumas aventuram mostrar o peito; o fundo da barriga, quase todas. Casual wear, extremado. Sweats com capuz, blusões de penas ou camisola ligeira desafiando o Inverno. Rostos lavados. Malas pequenas na mão, quando muito um dossiê e um manual numa mochila simbólica. Os livros ficaram em casa. São as rapariguinhas de Lisboa.
A noite transfigura-as em projetos de mulheres. Cuidam, combinam, compram, cambiam a roupa que emoldurará a transformação. Ousam a maquilhagem - lápis negro e sombras nos olhos, bâton nos lábios com um pingo de gloss. No olhar, nas bocas e no corpo o brilho de todas as ilusões. O apetite pela transgressão inaugurado com um shot. E riem. Muito. A mão sobre-erguida aperta entre os dedos um cigarro. Os corpos mal cobertos por tiras de roupa. Meneados ao som da música. Colados à parede e a corpos masculinos que simulam dança. Que é. A dança do desejo. Da vontade de curtir. Desfrutar a liberdade à revelia dos olhares censórios dos pais - pela postura, pelo visual, pelos requebros de incêndio. Nos sítios da noite, estão fantasiadas de capa de revista adolescente. Que não admitiriam parecer. Mas parecem. Sem que isso as constranja. Insuportável seria a liberdade comedida e, por isso, fugitiva. Mulheres incipientes. Rapariguinhas de Lisboa.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros