Sábado, 21 de Março de 2015

PALPÁVEL E BELISCÁVEL

J. D. Salinger 75ux.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caul­fi­eld defen­dia a ine­xis­tên­cia de uma rea­li­dade pal­pá­vel com exce­ção do tra­seiro da vizi­nha mexi­cana, Lolly Rodri­guez, que era, nas suas pala­vras, “pal­pá­vel e belis­cá­vel”. Aos dezas­sete anos, Caul­fi­eld come­teu a pro­eza de num fim de semana criar as bases duma Filo­so­fia Moral ten­tando desen­vol­ver a ética da liber­dade de cada um fazer o que bem enten­der na vida. Pen­sa­mento mar­cante: “Há um sólido equi­lí­brio em todos os ele­men­tos do Uni­verso que une e dá sen­tido às coi­sas. Desde que o sujeito não tenha entor­nado sozi­nho uma gar­rafa de Bourbon.”

 

 

 

Hol­den Caul­fi­eld está para o século XX como Huc­kle­berry Finn para o XIX: a ines­que­cí­vel assom­bra­ção dum ado­les­cente em con­flito com uma soci­e­dade opres­sora e divi­dida em cas­tas. Hol­den, oposto de Huck, é um menino rico infe­liz na escola chi­que Pen­cey Prep em Agers­town, Pen­sil­vâ­nia. Per­so­na­gem cri­ado por J. D. Salin­ger e pro­ta­go­nista anti-herói da novela The Cat­cher in the Rye publi­cada em 16 de Julho de 1951, cáus­tico da soci­e­dade de elite em que nas­ceu, foi ado­les­cente que viu longe. Muito longe. Tão longe, que a rea­li­dade pal­pá­vel mais pró­xima per­ten­cia à vizi­nha. Pelo lido, o gosto dele asse­me­lha a nossa con­di­ção latina dada a oito ou oitenta.

 

 

 

 

Ori­gi­nal­mente publi­cado para adul­tos, o livro adqui­riu popu­la­ri­dade entre os jovens ao lidar com temas tipi­ca­mente ado­les­cen­tes como revolta, angús­tia, ali­e­na­ção e lin­gua­gem. Tra­du­zido para quase todas as prin­ci­pais lín­guas do mundo, são ven­di­das anu­al­mente cerca de duzen­tas e cin­quenta mil cópias, com um total de ven­das de mais de 65 milhões. Hol­den Caul­fi­eld tornou-se um ícone da rebe­lião ado­les­cente. Na China, é vene­rado pelos jovens. The Cat­cher in the Rye foi incluído na lista da Times em 2005 como um dos 100 melho­res roman­ces da lín­gua inglesa escri­tos desde 1923 e nome­ado pelos lei­to­res da ‘Modern Library’ como um dos 100 melho­res livros da lín­gua inglesa do século XX. Os Esta­dos Uni­dos aban­do­na­ram a cen­sura que no iní­cio o livro mere­ceu pelo uso libe­ral de calão e pelos retra­tos da sexu­a­li­dade e dile­mas ado­les­cen­tes. Em 1981, já foi o segundo livro mais ensi­nado nos Esta­dos Uni­dos, con­quanto ainda banido de mui­tas bibli­o­te­cas esco­la­res de lín­gua inglesa pres­si­o­na­das pelas Asso­ci­a­ções de Pais.

 

 

 

 

Vol­tando a Caul­fi­eld — não pres­cin­di­mos do pal­pá­vel e belis­cá­vel. Apalpa-se, logo existe. Ou se belisca. Ou vasa de uma mão. Infiro pelas esta­tís­ti­cas onde consta que as lusas fêmeas não bas­tam aos par­cei­ros ou recu­sam apal­pões ou eles têm mais olhos que bar­riga. Aten­dendo ao que elas, ‘à sor­relfa’, dizem, (…)

 

 

 

Nota – Publicado integralmente aqui.

 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:03
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Sábado, 8 de Fevereiro de 2014

NO PORTO, SALVOU-SE O "ALEIXO"

 

 

 

The Travelling Companions by Augustus Leopold Egg                                                     Autor que não foi possível identificar

 

“O que mal começa tarde ou nunca tem arranjo”. Adágio certeiro. O povo acumulou sabedoria que traduziu em sínteses rimadas e curtas. Ditos populares, ouvidos desde a infância, merecem reverência.

 

Madrugar num fim-de-semana só por obrigação ou masoquismo. Mas a agenda existia, reclamava cumprimento e, pelas seis, guinchou no despertador. Destino: Porto. Alfa Pendular como veículo – quem aos comboios reserva apreço mítico, não resiste; entre as quatro rodas atentamente comandadas e o descanso na viagem que demora o mesmo, a escolha é simples: comboio. O Oriente recebeu duas mulheres em abafos quentes e providas de chapéus pelo frio mais a chuva anunciada.

 

Já o alumínio embalava sonolência desacomodada havia duas horas, quando parou fora de sítio. Na inusitada Pampilhosa, inquirido o revisor. Explicação:

_ “Um desafortunado, colhido entre linhas, pela morte interrompera o andamento das vidas passageiras. Imprevisível a retoma. Imprevisível espera pela vinda do Delegado de Saúde, identificação da vítima, remoção do corpo.”

 

Os telefones dos passageiros apitavam em cacofonia. Porque nas tragédias inevitavelmente se alevantam líderes, o do momento foi eficaz. Que ele e o sócio, pela urgência duma reunião, sairiam do comboio ali mesmo. Que o revisor no bilhete e por escrito registasse a causa. Saíram quatro passageiros: as duas mulheres, o líder e o sócio. Táxi como remedeio. Pelo conhecimento pessoal do chefe máximo da CP, o líder garantiu o reembolso dos 120 euros da corrida revelada amável pela simpatia e conversa das companhias, disse. Uma delas sugeriu “acompanhamento psicológico e ser indemnizada pela privação da magnífica imagem das escarpas, das pontes que ladeiam e unem Porto e Gaia que nunca vira a partir dos carris.” O «sócio» confessou aversão a comboios porque, pela mesma fúnebre razão, num regresso a Lisboa ficara retido em Espinho três horas.

 

Do dia e meio no Porto, pelo atraso, omitida a exposição em Serralves. Na Miguel Bombarda, chamariz pelas galerias e «movida» artística, houve demora imerecida. Na Foz, compras/fatalidade pelos saldos. Mais: um casaco em Santa Catarina, botas junto ao Aleixo. Nele, os filetes de polvo macios, o vinho verde da casa, a magnificência das rabanadas e da aletria. O mui querido Hotel Boa Vista fruído de menos.

 

No regresso, o equívoco de um Intercidades. A fome aguilhoando o sono pela ausência de serviço de bar, de encostos adequados, das paragens gritadas. À mulher que amava comboios acudiu o sonho impossível de um TGV cómodo, rápido e silencioso unindo, do país, as capitais. 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:45
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Terça-feira, 21 de Maio de 2013

BELISCÕES E PONTAPÉS

 

Autor que não foi possível identificar

 

Caulfield defendia a inexistência de uma realidade palpável, com exceção do traseiro da vizinha mexicana Lolly Rodriguez, que era, nas suas palavras, "palpável e beliscável". Na prisão, onde passou 10 anos por porte ilegal de armas, Caulfield criou as bases da sua Filosofia Moral: uma ética baseada na liberdade de cada um fazer o que bem entende na vida. Pensamento marcante: "Há um sólido equilíbrio em todos os elementos do Universo, que une e dá sentido às coisas. Desde que o sujeito não tenha entornado sozinho uma garrafa de Bourbon." Holden Caulfield, personagem criado por Salinger e protagonista da novela “The Catcher in the Rye”, cáustico da sociedade de elite em que nasceu, viu longe. Muito Longe. Tão longe, que a realidade palpável mais próxima pertencia à vizinha.

 

Nos tempos correntes, o real “palpável e beliscável” também fala português. Apalpa-se, logo existe. Ou é beliscado, ou vasa da mão. Por ora, não vasa e faz mais do que beliscar: pontapeia traseiros a eito e a jeito.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:53
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Terça-feira, 2 de Abril de 2013

À PROCURA DO «HOMEM»

 

Arthur Sarnoff

 

Por todo o Ocidente, as evidências assustam: violência conjugal associada a morte, elevadas taxas de suicídio masculino, dificuldades escolares dos rapazes, jovens assassinos nas escolas, movimentos de pais contra a justiça(?) que os afasta dos filhos se a rutura conjugal sobrevém. Estes e outros dados – mudanças profundas nos papéis sociais e afetivos dos sexos – sugerem refletir sobre a condição masculina.

 

Recuando cinquenta anos, situaria o começo do declínio do patriarcado. Formal, por que à mulher eram reservadas competências no “lar” e educação dos filhos, seguramente tão decisivas e dominadoras como as atinentes aos “chefes de família”. O acesso generalizado à pílula contracetiva e, posteriormente, ao divórcio para os casados pela Igreja Católica, a entrada massiva das mulheres no mercado do trabalho e o dinamismo dos movimentos feministas abalaram definitivamente as tradicionais estruturas do homem e da família – pai e mãe como iguais, diferentes quando a relação acaba e é atribuída a guarda dos filhos.

 

Se na condição feminina a clareza existe, na masculina é tíbia. Atentando em Portugal, embora o problema ignore continentes, trinta e nove anos após a revolução de Abril, é periclitante o sistema social, económico e político. Mudada a legislação, as mulheres rapidamente integraram atitudes e expectativas tradicionais por outras conquistadas mundo fora. Existem abrigos e proteção para mulheres em crise. E quanto aos homens? Aceitam o mesmo ou prevalecem os preconceitos machistas (deles e delas)? Em 1995, as Nações Unidas empenharam-se numa análise diferenciada pelo sexo. Hoje, presta maior atenção ao sofrimento masculino.

 

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publicado por Maria Brojo às 10:07
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Domingo, 31 de Janeiro de 2010

MULHERES «RESOLVIDAS»

Steve Bonner


O mesmo é dito dalguns homens. Todavia, expressão maioritariamente aplicada ao género feminino. De mim o mesmo foi/é dito.

 

Jamais entendi o significado do adjectivo. Pessoas consideradas, pelo vulgo, equilibradas? Normais e, por isso, conotadas com a banalidade tantas vezes (in)feliz? Emprego estável, acompanhados(as) por parceiros(as) «mandamentados»? Objectivos definidos e perenes na matriz pessoal? Na ausência de companhia quotidiana, assente no sexo e/ou no afecto, estão por «resolver»? Ou, nesta condição, se em paz consigo o sentimento é bovino ou expoente de conquista interior?
_ Não sei, não gosto da ambiguidade do termo, da passividade implícita, não aceito rotular o íntimo de cada um.

 

Gentes «resolvidas», curiosas, idealistas e batalhadoras não existem. Humanidade implica evolução. Crescer. Mudar. Ser outro no mesmo à medida das experiências trazidas pelo girar terrestre. Aprendizagem contínua. Filtrar acontecidos e aprender. Sem que «resolva», mas abra janelas do advir.

 

Pessoa aliciada pela corda bamba do tempo é, necessariamente, instável? Cata-vento orientado para o lado donde vêm os empurrões atmosféricos? E mesmo que a mudança de opinião ou prioridades ocorra, foi obrigatoriamente soprada por vento ou anjo mau?

 

Creio no acreditar da mudança como necessidade. Antes por «resolver» que rotineira irracional. Desminto quem me classifica «resolvida». Evitarei tão pouco enquanto sopro me sair dos pulmões. Prefiro mulher, se «assentada», à revelia da voz comum.
 

CAFÉ DA MANHÃ
 

publicado por Maria Brojo às 10:31
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