“Boat by a Lighthouse a Squall Going Of” também conhecida como “Shipwreck” -
James Francis Dandy (1793 – 1861)
Faróis. Remetem o imaginário para idos de tempo colorido por via duma paleta elementar. Quase ingénua. Nunca a terão possuído pela constância da essência do ser humano extremado na dignidade ou na malícia. Mas é a rudeza de vidas que os faróis me evocam: árdua, madrasta, a fazer da sobrevivência aventura quotidiana.
Assumindo gosto por destinos marginais aos produtos turísticos costumados, um houve que me cativou de modo indelével pela excelência do todo precisado em viagem que faça –novidade, mala semivazia, partilha íntima. Na Holanda, encontrei refúgio para encontro com um tempo perdido. Isolado, ma non troppo. Propício à fusão de dois «eus» que, pela força do afeto, fantasiam unidade. Inatingível. Desejada.
Abrigou-me, no extremo do porto de Harlingen, o “Farol Branco” cuja construção por volta de 1920 ocupou o lugar de outro demolido em 1872. Remodelado quando finava o século passado, uma escada liga três andares. No primeiro, casa de banho impressiva pela luminosidade. No segundo, quarto de design ultramoderno, centrado no vasto ângulo sobre o oceano e numa cama de casal de dimensões compatíveis com vastas liberdades. Vidros como paredes que de nada privam. Em cada manhã (…)
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar e Cbeattie
Porque amanhã Portugal equipa-se de encarnado, que a águia voe alto e certeira sobre um campo de tulipas.
CAFÉ DA MANHÃ
Anne Bascove, Norman Rockwel
Se telefonema ou e-mail, supostos actos médicos, dirigido a um médico do Serviço Nacional da Saúde custa, agora, ao utente 3 euros – a suprema hierarquia acaba de desmentir, embora os factos provem o contrário - se as taxas moderadoras, a coberto de descongestionamento dos serviços hospitalares, passam a escandalosas por tanto pagar rico como pobre como soíam maus costumes, se a contenção dos gastos com Centros de Saúde obriga a fechar muitos das oito da noite em diante, se a Universidade Técnica de Lisboa baseada num questionário a dois mil e alguns dos seus licenciados, garante que no final do ano seguinte ao diploma 95% têm emprego embora com salários oscilando entre setecentos e mil e quinhentos euros após cinco anos de sacrifício no investimento das respectivas famílias cobrados sem piedade ou dó, se as desigualdades agravam injustiças sociais a cada dia passado, se bem fez a Jerónimo Martins ao procurar o fisco mais favorável na Holanda, se cada um de nós é espezinhado pelo «sistema» no quotidiano, se os Presidentes de Câmara e de Junta de Freguesia vêm limitados os mandatos enquanto na Assembleia da República somam e seguem até à choruda reforma pelos serviços prestados - presumidos bons, na verdade, genericamente medíocres -, se o trabalhador é humilhado pela negação de direitos elementares, se e se e se mais poderiam ser apontados, uma de duas: ou a nossa obediente atitude é devida a genes que a tradição inscreveu nos genes lusitanos, ou contra maluqueiras encolher ombros é sensato. Já no início dos setenta, Raul Solando desmentia.
CAFÉ DA MANHÃ
Para recordar e aliviar
Magritte e autor que não foi possível identificar
A Deloitte apresentou conclusões dum estudo sobre o valor previsível gasto por família em cada país da Zona Euro. Dos países constantes da análise, a Irlanda encabeça o rol, Portugal ocupa o meio da tabela, acima da Alemanha e com a Holanda em último lugar. A diminuição de 8% nos gastos quando comparada com a do ano anterior discorda do pessimismo e das reais condições económicas dos portugueses. Poder-se-á afirmar continuarmos despesistas - os que podem e são menos a cada dia - não hesitando em das magras bolsas alargar os cordões ao chegar o tempo natalício. Poder-se-á argumentar serem os países latinos predominantemente católicos e a festa do aniversário de Cristo a principal no calendário do catolicismo.
Se até há um ano os cartões custeavam excessos que em Janeiro seriam pagos e faziam do mês primeiro o mais pindérico dos doze, hoje, já os fundilhos foram virados ao contrário em busca de alguma moeda esquecida. Metade do subsídio de Natal mal chega para atrasados em dívida, para as peúgas destinadas ao avô, quanto mais para os ténis novos que faltam ao Joãozinho, cansado dos que diariamente calça e têm beiços da «sola» à vista. Mas não! Segundo a Deloitte, parece que o Joãozinho terá os ténis cobiçados, a Carlinha nova ‘barbie’, a tia Arminda o vistoso arranjo floral em garantido plástico que enfeita a montra do «chinês» próximo e nela faz um vistaço.
Ora, pensava esta escrevinhadora que neste annus horribilis pontificaria na mesa o bacalhau com todos, rabanadas caseiras e pouco mais; os presentes seriam sorrisos e gestos de afecto significativos como constitui um postal escrito com a alma nas palavras, lembranças para a criançada. Conjectura por tomar como bastante a ternura e o pensar amorosamente naqueles que nos enchem o coração. Havendo fundos extra, contribuir para ajudar família ou obra carenciada. Curto e simples: um Natal como os anteriores deviam ter sido. Deviam, mas não foram e participo do mea culpa. A verdade é que os portugueses aos quais ainda não falta pão e emprego optam por gozo à fartazana, mesmo que Janeiro e seguintes sejam enxaqueca continuada.
CAFÉ DA MANHÃ
Mestre Real Bordalo, Katherine Doyle
Tem dezoito anos que o alongaram até quase metro e noventa de altura. Esguio, sorriso pronto, nado e criado numa família com desafogo económico. Cumpridos os exames, é candidato à faculdade. Anteontem de manhã, deu-lhe que fazer melhoria da nota através da prova nacional de matemática, segunda fase. À tarde, já ele seguia para férias merecidas pelo empenho no estudo. Antes, aproveitara momentos de descanso para, juntamente com amigos, reunir objectos em desuso ou não imprescindíveis. De madrugada, o encontro. Carregavam sacos e mochilas e ala que tarda escolha do lugar na Feira da Ladra. Fez maquia com a intenção de poupar as finanças da família dos gastos que férias sempre acarretam.
O João e o mesmo grupo de amigos destinaram a última semana de Agosto e a primeira de Setembro à apanha de flores e fruta na Holanda. Objectivo do João: auxiliar na despesa que em casa houve com as explicações de matemática, o seu calcanhar de Aquiles. Tudo ocorrido em ambiente familiar abonado, não sendo único o caso, revela valores sólidos, que em pequenino foi torcido pepino, recusa de construir autonomia baseada nos bens e haveres paternais. Lutar por objectivos com trabalho e suor. E se lá fora são comuns vontades assim, no espírito de gorda fracção dos jovens portugueses ainda reina o laxismo, o vício do encosto à família super-protectora e, por tal, permissiva.
CAFÉ DA MANHÃ
“Do Nilo” chegou o vídeo.
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