“Nude with a cat”. Balthus. Óleo sobre tela, 80,5 x 65,1. National Gallery of Victoria. Melbourne
Em criança, prometia rebeldia e despudor. Não seguia as normas a que era obrigada. Se convencida com jeito, se o raciocínio aceitava a lógica das regras sociais que a mãe, mais do que o pai, incutiam, era possível que as acatasse. O ‘porque sim, como resposta dos adultos, era pavio inflamado que nela explodia a pólvora das emoções. Desconhecida a razão, sopa de genes que havia dado boas provas de obediência originara nitroglicerina com embalagem humana. Vá alguém saber o porquê, a pequena antecipava a cronologia de todas as etapas tradicionais do crescer.
Aos nove anos quase completos, o gato como testemunha, sangrara pela primeira vez. Por via de cochichos atrasados, entendeu e rejubilou com o rubro escorrido nas pernas. Tratou do assunto com despacho e sozinha. Lavou-se. Enfiou toalha de bidé dentro das cuecas. E foi trocando toalhas e cuecas até a fonte secar. As sujas foram para cova na quinta. Trindade de meses passados, as queixas domésticas pelo sumiço das cuecas da menina e das toalhas acabaram em culpa de ladrão por identificar. Um tarado!, tinha de ser. E ela, moita-carrasco, o mesmo é dizer nem chus nem bus.
Logo após, etapa em que foi como as outras meninas: revoada de prazer nascida no baixo-ventre deixou-a pasma. Invulgar o cenário do momento – em vez do estado dormido e sonhador comum, acontecera num dia de estio, o gato testemunha sempre perto. Daí em diante, nada foi como o precedente: queria mais e mais do mesmo. Sem sucesso, tentou lembrar-se do que pensara naquela tarde. Nua, espelho na mão, partiu à descoberta da fonte que ora sangrava ora a fazia estremecer. Viu boca com lábios túrgidos e o botão que protegiam. Manipulou-o. À terceira, ondulava no mar quente da fonte.
Já os seios se erguiam, duma só revoada de prazenteiros tremores mais vinham. Ajudava, racionalizou, imaginar-se observada. Ao oculto que a via atribuiu contornos do tio. Numa das tardes de canícula, dormia ele nu (…)
Nota: texto integral aqui no " Museu das Curtas".
CAFÉ DA MANHÃ
Mestre Real Bordalo, Katherine Doyle
Tem dezoito anos que o alongaram até quase metro e noventa de altura. Esguio, sorriso pronto, nado e criado numa família com desafogo económico. Cumpridos os exames, é candidato à faculdade. Anteontem de manhã, deu-lhe que fazer melhoria da nota através da prova nacional de matemática, segunda fase. À tarde, já ele seguia para férias merecidas pelo empenho no estudo. Antes, aproveitara momentos de descanso para, juntamente com amigos, reunir objectos em desuso ou não imprescindíveis. De madrugada, o encontro. Carregavam sacos e mochilas e ala que tarda escolha do lugar na Feira da Ladra. Fez maquia com a intenção de poupar as finanças da família dos gastos que férias sempre acarretam.
O João e o mesmo grupo de amigos destinaram a última semana de Agosto e a primeira de Setembro à apanha de flores e fruta na Holanda. Objectivo do João: auxiliar na despesa que em casa houve com as explicações de matemática, o seu calcanhar de Aquiles. Tudo ocorrido em ambiente familiar abonado, não sendo único o caso, revela valores sólidos, que em pequenino foi torcido pepino, recusa de construir autonomia baseada nos bens e haveres paternais. Lutar por objectivos com trabalho e suor. E se lá fora são comuns vontades assim, no espírito de gorda fracção dos jovens portugueses ainda reina o laxismo, o vício do encosto à família super-protectora e, por tal, permissiva.
CAFÉ DA MANHÃ
“Do Nilo” chegou o vídeo.
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