Eric Zener Peter O'Toole - Shanin Gholizadeh Joan Fontaine - Bradshaw Crandell
Não seja lúgubre o começo desta semana, merece chamada de atenção o completado meio século de existência do Bairro Alto. A má fama de outrora, para sempre associada ao bairro, esqueceu ter sido ali que empresas de impressão de jornais com nomeada estavam instaladas, bem como nomes de frequentadores que da nossa história coletiva fazem parte substantiva. Anteriormente, vergonha dos habitantes se era necessário divulgar onde moravam. Hoje e com orgulho, lugar onde estilitas, artistas plásticos, designers, sediam moradas e afazeres. Mais jovens do que antanho, os que pela noite por lá extravasam vida alegre aumentando o fascínio do Bairro Alto também para estrangeiro ver e sentir.
Porque os tempos sempre foram e são madrastos no que concerne aos anos concedidos de permanência neste mundo, a tragédia do desaparecimento de cinco estudantes universitários engolidos por onda imponente na praia do Meco. Após buscas minuciosas, continuam sem dar à costa os jovens corpos. Assim desbaratadas vidas, lutos nas famílias e amigos logo numa data que exalta afetos e dificultará por longos anos o recobro dos espíritos afetados.
Também a contabilizar o desaparecimento do extraordinário ator irlandês Peter O’ Toole recordado pelo talento cinéfilo, pelo protagonismo no filme Lawrence da Arábia (1962), realizado por David Lean, pela versatilidade, pelos olhos azuis. Nomeado oito vezes para os Óscares. Nunca ganhou. Só em 2003 acabou por levar para casa o cobiçado troféu, quando a Academia lhe conferiu um Óscar honorário pela sua longa carreira. Já na grande-idade, 81 anos, a morte arrebanhou-o.
A atriz britânico-americana Joan Fontaine, a única atriz dos filmes de Alfred Hitchcock vencedora de um Óscar pelo seu desempenho em "Suspeita", morreu aos 96 anos. Dela é contado: “Fontaine mantinha uma relação de rivalidade com a irmã e atriz Olivia de Havilland ("E o Vento Levou"), da qual arrebatou o Óscar de melhor atriz em 1942. Nunca se deram bem. Lutaram por papéis em Hollywood e protagonizaram desentendimentos famosos. Havilland, que tem 97 anos, vive em Paris. Fontaine começou a ser famosa em 1937 com o papel junto a Fred Astaire em "Descobrindo o Amor", mas foi Hitchcock quem lhe conferiu o estrelato em "Rebecca, A Mulher Inesquecível" onde contracenava com Laurence Olivier. Desde então, os papéis de mulher com o coração partido foram-lhe atribuídos e levaram-na a uma nova indicação ao Óscar por "De Amor Também se Morre". Fontaine foi também protagonista na adaptação de Orson Welles do clássico "Jane Eyre", de Charlotte Brontë. A atriz, com estrela na calçada da fama de Hollywood, será também lembrada por filmes como "September Affair", "Ivanhoé, O Vingador do Rei" e "Carta de Uma Desconhecida".”
CAFÉ DA MANHÃ
Lluis Ribas – da coleção “As Cores do Branco”
São os leitos nodosos, turvos e densos, que melhor acolhem as raízes e permitem que a flor de lótus se erga delicada e vigilante. Toda a espera é uma promessa de incerteza e, por isso, ninguém pode saber o que vai dentro do coração de um lótus. Na realidade, são muitos os botões que permanecem fechados, numa obstinação imprevisível.
"Lótus de ouro" era o adjetivo mais generoso dirigido a uma cortesã chinesa; num registo mais amplo, o lótus simboliza a pureza também na união dos amantes.
Hollywood criou o mito das louras e os estereótipos a elas ligados. Ao platinar os cabelos, gerou uma nova versão da femme fatale. Marlene Dietrich em “Vénus Loura”, Rita Hayworth em “Dama de Xangai”, Bette Davis na “Floresta Perdida” e Vivian Leigh num “Elétrico Chamado Desejo”, ficaram inesquecíveis em papéis de louras, assim como Marylin Monroe. Depois, há as louras que por não o serem tão declaradamente nos esquecemos que o são: Jessica Lange, Sharon Stone e Liv Ullman. Todas sedutoras, todas protagonizando tórridos affairs.
Em idos, os affairs discutiam-se (ou escondiam-se) no recato do lar, na penumbra dos confessionários ou na rigidez dos tribunais. Hoje, o desejo sexual adquiriu alforria, embora ainda se queira precioso e com o perfume de especiaria rara. O homem receou o poder da sexualidade feminina e, por isso, tentou controlá-la ou anular reprimindo-a. A literatura e o cinema, frequentemente, consolidaram esses medos.
Herdámos o conceito do que se distancia do lugar almejado tido por «bem» é vivido como imperfeição ou pecado, contamina a liberdade e pesa como culpa, quantas vezes ociosa!, no indivíduo sem permitir que surja, pura, a flor de lótus.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar, Jan Bollaert
Da crisálida no seu casulo, mais cedo do que o previsto, houve mulher com criança dentro. Porque da dormência das sestas adultas, na infância, constituíra reinos e da precária liberdade experimentara magia, aprendeu a deter-se. No silêncio, jogar ao faz de conta. Uma e outra e outra figura. Personagens múltiplas que viria a integrar enquanto despia e vestia sedas da mãe copiando gestos de filmes antigos que o preto e branco coloria.
Desequilibrada nos saltos, encenava graça e langor no palco que o espelho devolvia. A sedução da mãe, das mulheres de Hollywood repetidas no descalçar da meia e na alça caída do ombro por suave estremecer. Um dia, sua. Egoísta pela relevância do querer, houvesse ou não quarto cheio de homem que a visse.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros