Sexta-feira, 10 de Junho de 2011

DA PORNOGRAFIA AO AMOR

Blake Flynn

 

Delícia que não resisto a publicar.

 

"Série I

 

1. A pornografia começa por ser uma cábula da imaginação e depois passa a um antídoto da memória.

 

2. A honestidade absoluta só é uma virtude para os absolutamente virtuosos.

 

3. Não vale a pena matar um grande amor por uma amizade pequenina. E vice-versa. Mas é duro aprender as duas lições no mesmo dia, mesmo que - e necessariamente  - com pessoas diferentes.

 

4. Podemos amar quem connosco não partilha a língua nativa? Seguramente, mas trata-se de iliteracia.

 

5. Há mulheres com dias de atraso e mulheres que nos atrasam os dias.

 

6. Por causa da regra de um adulto ter sempre de honrar a promessa que fez a uma criança, quando alguém não cumpre uma promessa que fez a um adulto, este reage sempre como uma criança.

 

7. Se tens razão e pretendes acusar alguém na praça pública, é avisado só avançar se fores o primeiro e imperioso fazê-lo se pressentires que serás também o último.

 

8. Uma história de amor não se engrandece retroactivamente pela insistência no desgosto de amor.

 

9. O amor é o único desporto em que se perde por falta de comparência do adversário e em que contestar a decisão só agrava o goal average.  [Futeboliana]

 

10. Só evitarás os impostores se fores muito bom em algum domínio, pois eles serão ainda impostores nos domínios que desconheces.  [reformulada]

 

Série II

 

1. Damos conta do poder da palavra quando todas as outras não chegam para a corrigir.

 

2. A misoginia só se cura com outra mulher.

 

3. O dia de reflexão não deve ser levado demasiado à letra.

 

4. Interessa mais ser verdadeiro do que ter uma opinião sobre a verdade.

 

5. Tal como os pais não devem sobreviver aos filhos, também o desejo da paternidade não deve sobreviver ao desejo de amar. 

 

6. Podemos tirar a semana de trabalho do domingo, mas não podemos tirar o domingo de dentro de nós. 

 

7. A falta de sorte é o ópio dos medíocres.

 

8. Não há sensação mais patética do que um desgosto de amor que não se conquistou.

 

9. Na luta pela liberdade de expressão, idolatramos os mártires virtuosos e os heróis infames.

 

10. Há sempre mais misóginos a morrer do que a nascer.

 

Série III

 

1. As formules de politesse não servem para evitar os conflitos, mas para os resolver.

 

2. Já que não podes diminuir as adversidades da vida, corta nas adversativas da prosa.

 

3. Nunca duvides do amor se não fores umas das partes envolvidas.

 

4. Evita os activistas do activismo.

 

5. Nos compromissos, a precedência tem ascendente sobre a vontade.

 

6. Aprende a abandonar o teatro, se ao deixares o palco saíste de cena.

 

7. Não dês as chaves de casa antes de escancarares as portas.

 

8. Amai as feias, pois serás invejado sem cobiça.

 

9.  A vontade de saber resulta da alegria íntima de aprender e da humilhação pública de errar.

 

10. Quanto mais consensual for a beleza de quem se ama, mais suspeito será esse amor."

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:05
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Sábado, 30 de Abril de 2011

NO ESCURINHO CÚMPLICE

Elizabeth Taylor por Baron Von Lind

 

Porque me serve a pele d'hoje, reposição.

 

Doces, subservientes, ingénuas ou malvadas, temperamentais, sedutoras. Lindas, todas. Musas de realizadores e costureiros cujo renome transtornava a cabeça das mulheres. Plissados? Preto e branco? Drapeados? Pérolas e laçadas? A Bouvier (Jackie Kennedy) usa? A Ingrid Bergman também? E repetiam, e zurziam as costureiras não sendo perfeitas as cópias dos figurinos. Entre alfinetes e alinhavos, desfiadas exigências como contas do rosário que sabiam de cor. No "mês de Maria", terço rezado diariamente. Porque sim e pelo sim, pelo não.

 

Era a época do celulóide _ os polímeros haviam nascido nos forties. Dos mitos nados em Hollywood, França e Itália. Deles, fora do tempo em que nascera, teria memórias complementadas pelos filmes que a Cinemateca passava. E a mulher viu, mais tarde, o que a mãe lhe contara. Do escândalo com a nudez da Bardot que admirava. Dos casamentos múltiplos da Taylor. Das paixões engendradas nos estúdios. Da Bacall, da Loren, da Katherine e da Audrey Hepburn. A Katherine, pelos anos trinta, chamada 'veneno de bilheteira' _ dos 15 filmes realizados nessa década, a maioria foi fracasso económico. Pelos quarenta, seria a eterna amante de Spencer Tracy. Depois princesa, Grace Kelly. E a miúda aprendeu. No ecrã, regrediu ao tempo em que não era. Aprendeu a ver e escolher cinema que bem a sentasse no ‘escurinho’ cúmplice. Por isso trauteia ainda, da Rita Lee, "No Escurinho do Cinema". 

 

A mulher, sem dar conta, tomou por seus gestos e tiques: como descalçar meias de liga, despir um vestido, atirar para o lado os sapatos mesmo se o desejo é mandador. Viria a recontar contos do cinema. Partilhar clássicos com os filhos. Gerações cinéfilas que persistem em filmes de autor. Se independente, esperam diferença/surpresa. Novos actores e actrizes descobertos no escuro da sala onde o ecrã foi e é protagonista. Como a mãe. Como a avó.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:06
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