Quinta-feira, 20 de Novembro de 2014

“SE CÁ NEVASSE, FAZIA-SE CÁ SKI”

Van Gogh - Wood Gatherers in the Snow.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Van Gogh – “Wood Gatherers in the Snow”

 

Neva à fartazana em todos os estados norte-americanos. Nem o Havai escapou. Atingido metro e meio de altura do nevão, mais um metro é esperado hoje. Culpam a passagem do vento frio sobre as águas quentes do lago Erie que gerou «nuvem de neve» jamais vista num outono. “Efeito Lago” chamam-lhe. O sucedido é fácil de explicar: o lago transfere calor e vapor de água para a massa de ar fria que congela o vapor. Chegando o inverno a meio, o Ernie congela e desliga a máquina de neve que, por ora, aflige populações.

 

Não desminto o meu gosto por neve, pelos pingentes escultóricos feitos de gelo que dos muros e telhados pendem. Não desminto a fanfarra que a neve despoleta na minha imaginação. Não desminto o fascínio por livros e filmes, mesmo os mais lamechas, que me teletransportem para cenários imaculados pela brancura que os cobre enquanto trinco maçãs camoesas. Não desminto o mistério sedutor que me rende quando nevão dá sinais – atmosfera branca, translúcida, invulgarmente luminosa cobrindo o longe e o perto, até dezena de metros.

 

Confirmo ter-me entregue ao poeta Ka inventado pelo ganhador do Nobel da Literatura em 2006, Orhan Pamuk. Confirmo, entre outras veniais rendições da carne e do espírito, a entrega absoluta ao “Branca de Neve e os 700 Anões” escrito pelo irreverente José Vilhena, às histórias de amor e aventuras com filmes de James Bond pelo meio desvendadas no livro “Quando a Neve Cai”, à “Rainha da Neve” de Hans Christian Andersen - fulano extremamente suspeito por ter segredado ao diário a sua recusa em experimentar relações sexuais -, que os irmãos Grimm apimentaram - a rainha má é forçada a dançar até a morte usando sapatos de pedra, quentes como brasas. Bem feito!

 

Gostei do filme da Disney por ter omitido perversidades canibalescas: no conto original, a rainha pede o fígado e os pulmões da Branca de Neve para servirem de pitéus na «janta». Achei um tédio o filme “Branca de Neve e o Caçador” – nem avançava nem saía de cima. Ri a bom rir com a Julia Roberts em "Espelho, Espelho Meu". Concordei (…)

 

Nota – Texto completo e ainda quente aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 12:10
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Quarta-feira, 17 de Setembro de 2014

MENINAS DE BEM NO TEMPO DAS VERGONHAS

Carl Larsson (1853-1919) – “Little Red Riding Hood” (1881)

 

Até 24 de Abril de 1974, era amargo e doce ser menina. Não fosse uma canastra almofadada por cobertor gasto, ou berço tomado por empréstimo caridoso que no nascimento a acolhesse, corria manso o crescer. Cedo dava conta que aparências e paz familiar recomendavam à mãe e às outras matriarcas atitude subalterna e passiva descrita por Ramalho Ortigão: “Ninguém a instrue, ninguém a distrae, ninguém procura tornar-lhe a existência doce e risonha, dar-lhe o nobre orgulho de ser amada, querida, necessária no mundo para mais alguma coisa do que lavar a casa, coser a roupa e cosinhar a comida.”

 

Chegada a menarca, do inesperado sangue quente escorrendo nas coxas, pouco as mães explicavam. Não constavam do bom-tom que meninas de bem referissem «vergonhas femininas» nas conversas com amigas. Era tempo de relembrar a história do Capuchinho Vermelho - metáfora sobre a preservação da virgindade (tesouro e parte do dote), que associava ao despontar da sexualidade males e perigos traçados pelas manhas dos lobos-homens. E a crescença decorria vigiada pela tirania das normas sociais e familiares. Mas havia almoço em casa. Presença na chegada do liceu. Tempo de estudo. Lugar para a leitura. Conversa do pai secundada pela mãe durante o jantar. Tudo polido e bem comportado. Desenhado à mesa o futuro da menina: licenciatura e casamento branco.

 

O primeiro orgasmo, acaso do sono ou surpresa na vigília, a menina guardava para si. Acontecimento estranho, pressentia pouca-vergonha que murmuraria na confissão. Ato pecaminoso se provocado, como tudo que arribasse ao corpo e não fosse contemplado no rol do dizível. Castidade no despir e vestir era ensinada pelas mães - peça de roupa tirada quando outra cobrisse a pele. Na escola, aprendia bordados, tricô, costura e veniais infracções. Era tolerado experimentar frémito num beijo pela penetração da língua quente de um rapaz, sendo cumpridas duas condições: idade adequada e namoro sério aprovado pelos pais. Às escondidas, ainda assim.

 

As meninas cresciam envoltas em medos e riscos. Não casar era um deles - vergonha ficar para «tia». Obrigatório sangrar na noite de núpcias (…).

 

Nota - texto integral publicado aqui.

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:47
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Sábado, 17 de Maio de 2014

TROIKA, CINDERELA, POMBOS E ABÓBORAS

 

“Cinderella and the Birds” by Scott Gustafson                                                                                         Ria Hills  - “Tiny Pumpkin”

 

A palavra, ou sigla ou o quer que seja “troika” sempre me remeteu o imaginário para madrasta perversa como no conto “Cinderela” ou “Gata Borralheira”. Este, parece ter origem num conto italiano popular de seu nome “La Gatta Cenenterola” que no XVII Charles Perrault adaptou. Os irmãos Grimm terão bebido inspiração desta última fonte para recontarem o conto. Se no de Perrault não existia fada-madrinha que protegesse a donzela enjeitada, os Grimm acrescentaram-na. Alguns interpretam esta personagem como o espírito da falecida mãe de Cinderela, responsável pelo magnífico vestido de baile que alindou a filha.

 

Ora, no caso português, a alma materna «abensonhada» ao estilo de Mia Couto esqueceu a lusa filharada. Assim sendo, ficámos entregues à malvadeza da figura que no conto de Perrault acaba com os olhos furados por pombos competentes. Idêntico final para as filhas da madrasta. Possuindo nós pombos em bandos intermináveis, suponho-os distraídos no espalhar dejetos sobre ruas e monumentos que delapidam. Pecado sem remissão. Mas houve baile. E bailámos, bailamos e bailaremos. Sem príncipe redentor, é certo. Os sapatos de cristal, o vestido da Cinderela acabaram penhorados. Como de nós o futuro. Mas ficámos com a abóbora. Abóbora!

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:37
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Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2012

GOOGLE DOODLE E OS IRMÃOS GRIMM

 

Google Doodle

 

Iniciar a escrita bem cedo, ainda a cidade dorme e ronronam os despertadores, deparar com um doodle em animação fantástica na página inicial do Google. Depois, lembrança do par de séculos deslizado após a primeira coleção de contos dos Irmãos Grimm, Children’s and Household Tales, publicada em 1812 – Jacob Grimm, nascido a 4 de janeiro de 1785, e Wilhelm Grimm, a 24 de fevereiro de 1786 são os homenageados.

 

Sequência infindável de gerações cresceu ouvindo ou lendo na infância contos baseados em fábulas e tradições orais alemãs que continuam a encantar adultos e crianças. O Capuchinho Vermelho, Cinderela, João e Maria, A Bela Adormecida, O Flautista de Hamelin e tantos outros, rol extenso, sairam da pena dos Irmãos Grimm.

 

Numa «Wiki», soube que Wagner obteve inspiração para algumas das óperas que compôs nas lendas recolhidas pelos irmãos, tal como na Tetralogia se fundamentou na Mitologia Alemã de Jacob Grimm. A contribuição dos Grimm não se resumiu ao referido: elaboraram O Grande Dicionário Alemão, o primeiro na Alemanha.

 

Porque é Natal, oferecer livros de magia e encantamento à pequenada que os pais acompanhem e refinem ao serem lidos, é investimento seguro no cultivo do gosto pela leitura. Instantes felizes que a memória dos infantes reterá.  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:31
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Terça-feira, 6 de Dezembro de 2011

DUMA MENINA

Blake Flynn, Greg Horn

 

Lia desde os cinco. Antes, com ajuda do avô e do pai, juntara letras para satisfazer a necessidade louca de descobrir o sentido daqueles desenhos impressos a negro que contavam histórias lidas pela mãe ao adormecer. Satisfeito o sono, pulava para a cama onde a esperava o colo materno; continuava a ouvir o que a noite interrompera. Devorou a ‘Formiguinha’ antes da entrada na primária. Talvez pela condição de filha única, além dos amigos reais, privilegiava os imaginários, dela em lugar primeiro, dos Grimm e de La Fontaine. Da Comtesse de Ségur, da Louisa Alcott, mais tarde. Da Odette de Saint-Maurice cujas estórias ouvia nos sábados da rádio sob o formato de episódios. Desenhava as cenas, treinava a figura humana. Fez do carvão um amigo – os lápis de cor pouco lhe diziam. Blocos de ‘papel cavalinho’ gastos em menos do soprar de um fósforo. E os pais, compreensivos e atentos, reabasteciam-na dos instrumentos/brinquedos. E pensavam a filha como menina-prodígio pela celeridade das aprendizagens e múltiplos interesses. A verdade desmentia – tão somente criança só buscando na fantasia irmãos que não tinha.

 

Um dia, desprezando a conversa das cegonhas, da mãe quis saber se nela existia a vontade de ter um bebé. Que sim, que tinha, que se veria. E tinha, mas não chegou. Até hoje, o porquê não foi explicitado e vivem ambas a não-pergunta, a não-resposta. Fosse noite de estio que pede liberdade fora de paredes e nenhuma das lembranças acima ocorreriam. Mas é serão dum Dezembro morno acolhido em alma fervente a propiciar revisitação de idos, enquanto lãs e enfeites desenham motivos outros.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:12
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Segunda-feira, 18 de Julho de 2011

RÃS, SAPOS E REALEZAS

Kim Parkhurst, Jennifer Janesko

 

Quando os irmãos Grimm escreveram o Príncipe Sapo, mais não fizeram que dar forma escrita a um dos mitos e ilusões humanos e, de caminho, desmenti-lo.

 

Consta as mulheres sonharem com um belo príncipe devotado e que possua merecimentos capazes de o tornar progenitor exemplar, os homens com princesas diáfanas, lindas, generosas, ternas e lábios de rubi. Um sapo como parceiro(a) está normalmente arredado do imaginário. A fealdade, a estranheza que comporta, não obedece às normas primárias da sedução. E na busca iludida dos príncipes e princesas se frustram expectativas, acontecem desencontros infelizes.  

 

Atentássemos nas rãs e princesas, nos sapos e príncipes que convivem no íntimo de cada um, menor seria, nos afectos, a teia de enganos. Nos dias e destes nas horas, alternam comportamentos individuais em que nos lábios de rubi, na pele macia espreita o batráquio que nos outros merecem condenação. Aceite a dicotomia luz/breu, a passagem de um estado a outro nas gentes, sairia desmentido o mito e melhorados os relacionamentos em geral, românticos em particular. A esta evolução da consciência é costume chamar amadurecimento e crescer harmonioso, sem parança, até ao fim.

 

Existem pessoas certas ou erradas para cada um de nós? _ Não e sim, o que é distinto do «nim». Profunda divergência nos valores contribui para o assentimento na resposta. Havendo alicerces comuns nas estruturas da matriz de cada um dos elementos do casal, as restantes variáveis perdem importância se compensado o momento sapo ou rã do outro com o surgir da princesa e do príncipe por parte de quem com ele partilha a vida. Como numa balança de dois pratos, o importante é o equilíbrio satisfatório na posição média do fiel.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:59
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Quarta-feira, 6 de Julho de 2011

DE LEIRIA AOS “STATES”

Zamknij Okno, Eric Drooker, autor que não foi possível identificar

 

Não bastava o bastante, ou à conta disso mesmo, o estádio Magalhães Pessoa de Leiria, um dos (mal) utilizados no Campeonato Europeu de Futebol em 2004, será vendido em fatias: relvado por tanto, estacionamento por tanto diferente, bancadas por tanto outro. Mais parece tratar-se de um salame de chocolate que inteiro é indigesto. Acho bem! Num país com bolsos rotos, a solução fácil é vender o que resta e aboleta, quantas vezes, funcionários a mais, administradores chupistas e instituições ociosas. Tal como no estádio Magalhães Pessoa, só a manutenção desbarata o que não temos: dinheiro. Não é à toa que, a partir de hoje, somos lixo para a agência «ratona» Moody’s.

 

Os Estados Unidos, também ensarilhados com a dívida nacional que não pára de crescer como o pé de feijão da história dos irmãos Grimm, já engendram poupanças. Exemplo é o Empire State Building que utilizará energia eólica, após no ano passado ter estabelecido reduzir até 2013 o consumo de energia eléctrica em 38%. A reforma inclui sistemas de ar condicionado, aquecimento e substituição das janelas, de modo a aproveitar melhor a iluminação natural. Investimento vultuoso, mas extremamente sensato a médio e longo prazo – ganha o planeta, poupam eles. Antes tarde do que nunca esta mudança no pensar americano.

 

Nos “States”, furou as contas o deslocamento do Pólo Magnético da Terra. Então não é que foge cerca de 64Km por ano na direcção da Rússia? Abandonou o extremo norte de Canadá e decidiu avançar. Volúvel, heim? Se para a maioria das gentes o facto nada diz, o mesmo não acontece com o aeroporto de Tampa, na Florida obrigado a mudar a orientação das pistas, ainda que, a bem da paz, não para Meca.  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:10
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