Michael Mobius
"Sabia a roupa e compusera o traje, o verniz preto de uma sandália, o branco transparente de um tecido. Na altura, fábricas de capa e paisagens de disco cresciam abruptas na janela metálica dos comboios. Mesmo se trauteasse as letras, seria nas placas anónimas que descobria a luz. Freguesias íngremes eram destinos de quase pobres, e nos centros humildes maquinavam-se conjuras de sonho com rio em fundo. Escolhera aquelas cores como se fosse fé, mas no couro macio das pulseiras residia um lado nédio de abastada falha. Estancos e comércios de vidro e folha, até num aroma de clandestino vício, um redondo de sebe em tremura de apenas quase. A parede e as letras, agora outras, quadras jorrando numa água fria de poço. Um voo e um caminho estreito em bosque, cancelas e casas de cenário ou seu inverso, a lenta fila parada na espera de uma luz. Era madrugada mas o frio não se colava em ferida, apenas o rebuço e um de despojo na manhã da rotina que deixara então. Ouvia em cada esquina um esquiço de fado, mas era norte e não tocava a linha. Olhava numa melancolia estranha a catedral que conduzia além, vultos azuis numa risca rubra. Colava e recortava e suas fadas eram apenas isso, desenhos impotentes de vara em riste. Numa mulher um cinto, noutra a sombra que lhe tapava a face. De costas, tão nua na sua voz de areia, o azul na pele dos olhos brilhando não lado lascivo da saudade."
Nota - para o SPNI, Fernando York. Katie Melua neste vídeo foi sugestão que também lhe devo.
CAFÉ DA MANHÃ
Da querida Isa, magnífica fotografia e texto, “Tango à Chuva”, aqui.
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