Maria Picassó
Se o mundo fosse uma sala de aula, a Espanha e a Itália seriam as meninas tagarelas «tasse bem», a França a aluna coquette, a China a marrona sem ajuda cujo sucesso só o sacrifício explica. O Japão dava para «cromo» sentado na primeira fila, a Inglaterra para o snobe de serviço. A Alemanha cumpriria o papel do disciplinado exemplar, mochila pejada de manuais, encostado á porta da sala de aula antes do toque da campainha. O Irão não engana: aluno metido consigo e de olhar arrevesado. Em todas as turmas há o gorducho pateta e rico, os EUA, claro!, os meninos pobrezinhos com direito a merenda à borla e a livros em segunda mão, da África, no caso. O grupo dos rufias dados a fanar o alheio e a fumaças proibidas seria da América Latina, os de Leste já foram os remediados com roupa de marca comprada na candonga.
Não há classe sem alunos mandriões de boné às avessas que gozam os atentos e recebem as más notas mascando chicletes num riso descarado, sem perderem o ar gingão. Não desligam o telemóvel, menos ainda nos testes - iam lá perder a cara zonza da professora que os apanha a receberem por ‘sms’ as respostas às perguntas? Não fazem trabalhos de casa, faltam às aulas para fintas e danças com a bola em que são exímios, curtem com as colegas que desviam para o shopping e partilham as «bejecas». Chegam atrasados às aulas de História e, por isso, repetem erros antigos. Medíocres em Matemática, nunca acertam as contas internas com as externas e das línguas estrangeiras aprendem o mínimo que desenrasque turista e engate miúdas. Uma vergonha de alunos! Porém, no papel de papagaios de boatos e anedotas que ridicularizem os outros não há pai para eles. Estes somos nós.
CAFÉ DA MANHÃ
Andrew Bennett
“Alqueva está a bater recordes mundiais de produtividade por hectare, pelo menos em oito categorias de produtos. Milho, beterraba, tomate, azeitona, melão, uva de mesa, brócolos e luzerna rendem, em certos casos, três vezes mais que no resto do mundo, em termos médios, se forem produzidos em Alqueva.
O Expresso cruzou dados do INE e da FAO (Nações Unidas) com a informação da EDIA, que gere o regadio de Alqueva - e também com testemunhos de alguns produtores - e o resultado é surpreendente: média de 14 toneladas de milho/hectare contra 5,5 toneladas a nível mundial. 100 toneladas de tomate contra 33,6 toneladas para o resto do mundo ou ainda 30 toneladas de uva de mesa em comparação com 9,6 toneladas a nível global.
A fama de Alqueva ultrapassou há muito fronteiras e há já investimentos de oito nacionalidades, desde a África do Sul a Marrocos, passando pela França, Itália e Escócia. Espanha lidera claramente entre os vários países que estão a investir no Alentejo. Atualmente de Alqueva sai cebola para a Mc Donalds ou amendoim para a PepsiCo, para além de uvas sem grainha com destino a várias cadeias de distribuição britânicas e de outros países do norte da Europa. Ainda esta semana, numa feira agrícola em Don Benito, na Extremadura espanhola, a EDIA foi abordada por um banco do país vizinho pedindo informações sobre as disponibilidades de terra na área do regadio, com o objetivo de aconselhar clientes seus a investir no Alqueva.
O que diferencia Alqueva de muitas outras zonas agrícolas na Europa, mas também de outras noutros cantos do planeta são sobretudo três fatores: uma terra praticamente virgem, livre de químicos e de fungos, pois durante muitos anos apenas recebeu cereais de sequeiro; abundância de água para regar quando as plantas mais precisam (ou seja, na primavera e no verão) e, não menos importante, uma exposição solar prolongada, o que acaba por ter um efeito multiplicador na fotossíntese das plantas e, consequentemente, na produção de alimentos mais saborosos.
Mas há ainda uma grande vantagem comparativa. É que, mesmo em relação a outras zonas do país, Alqueva permite ter produtos nos mercados abastecedores duas a três semanas antes de toda a concorrência. E se a comparação for feita com outros países europeus a vantagem aumenta à medida que se caminha para norte. De Espanha para cima, muitos dos produtos são obtidos em estufas, com climatização artificial, ou seja, com custos energéticos acrescidos considerados avultadíssimos, o que acaba por se refletir no preço final ao consumidor.”
CAFÉ DA MANHÃ
Bordalo II - Covilhã, Portugal Odeith - Setúbal, Portugal
Vhils - Lodz, Polónia EIME - Gaeta, Itália
Spok Brillor - Lean Frizzera, Argentina Dulk - Saragoça, Espanha
Vans the Omega - Adelaide, Austrália El Mac - Toronto, Canadá
Bordalo II, Odeith, Vhils e EIME estão exibidos nos primeiros lugares. São quatro os artistas nacionais que constam da lista que distingue os melhores murais executados em todo o mundo durante 2014.
A lista que elege os melhores trabalhos é feita pelo movimento "I Support Street Art", criado em 2010 no Facebook. Entre os trabalhos portugueses distinguidos, o primeiro é da autoria de Bordalo II (Artur Bordalo) que construiu uma coruja com pneus de trator, desperdícios e lixo urbano. A peça «Olhos de Coruja» foi realizada no âmbito do festival anual de arte urbana da Covilhã, o WOOL, que decorreu em outubro. O segundo está em Setúbal, onde Odeith (Sérgio Odeith) criou o «Rapaz dos Pássaros». Com cerca de 20 metros de altura, é uma reprodução de uma fotografia com cerca de 80 anos do antigo fotógrafo setubalense Américo Ribeiro. Foi pintado em março do ano passado, ao longo de nove dias. O terceiro português da lista é Vhils (Alexandre Farto), mas o mural criado está em Lodz, na Polónia. Terminado em outubro de 2014, o mural mostra o perfil de uma mulher e foi criado para um projeto da Galeria Urban Forms. Finalmente, o quarto mural é da autoria de EIME (Daniel Eime) e está em Gaeta, Itália.
CAFÉ DA MANHÃ
Esqueça aqueles edifícios impessoais com corredores enormes e quartos e quartos seguidos com portas iguais de um lado e do outro. O “Sextantio” é algo de único e completamente diferente. O seu nome completo, “Sextantio Albergo Diffuso”, explica o conceito deste hotel, que está distribuído por entre as casas dos residentes de uma aldeia do século XVI, no topo de uma montanha na região de Abruzzo, em Itália. Os quartos estão espalhados por entre as várias casas e edifícios da aldeia. São 29 e são surpreendentes.
A traça original dos edifícios foi mantida e os quartos conseguem ser antigos e modernos ao mesmo tempo mas com todo o conforto do século XXI: chão aquecido, internet, casas de banho com assinatura de Philippe Starck, como a famosa banheira em forma de ovo, e lareiras restauradas que ainda conseguem fazer um lume imponente e aconchegante. Há também uma pequena “cantina” onde se pode tomar o pequeno-almoço ou um digestivo e um restaurante que serve gastronomia típica da região.
A ideia é viver como os locais, bom, com condições “ligeiramente” melhores, a começar pela decoração dos quartos. Mas, pelo menos, não corre o risco de se sentir isolado num qualquer bar de hotel ou num quarto igual a tantos outros no meio de um infindável corredor com um ar condicionado incontrolável. Aqui, a cerca de duas horas de carro do aeroporto de Roma, vai sentir-se um aldeão em pleno meio rural italiano.
A partir de 150 euros por noite, pode dormir num destes maravilhosos quartos com lareira, tomar banho numa destas banheiras magníficas, desfrutar de uma paisagem de sonho, aproveitar para conhecer a história, a arquitetura e o património local de uma região de uma beleza rara, e, sobretudo, namorar, namorar muito, porque este ambiente não pode ser mais romântico.
CAFÉ DA MANHÃ
O panorama de uma aldeia na Sérvia Os telhados verdes das casas nas Ilhas Faroé.
Vibrantes ou de uma só cor, aldeias que parecem paisagens ficcionadas.
Casas onde moram freiras, no Tibete Aldeia na ilha Kastellorizo, Grécia
Esta é uma pequena "volta ao mundo”.
Pequena aldeia no Monte Fuji, no Japão Em Riomaggiore, Itália, são as cores vibrantes que sobressaem
Imagens únicas. Exemplos perfeitos de locais apetecíveis.
Dizem ser a aldeia mais bonita da Noruega, Reine Esta fica nos Alpes, em Grindelwald, Suíça
De dia ou de noite. Iluminadas pelo sol ou pelas cores das fachadas nas paredes.
A aldeia Abi Barak, no Afeganistão A aldeia Igloo, na Alemanha
No meio do nada ou no meio de tudo.
Na costa escocesa, Pennan, Scotland Visão noturna da aldeia Myggedalenillage, na Gronelândia
Aldeias "locais/postais" que vale a pena espreitar.
Nota – Esta é a fonte das imagens e do texto.
CAFÉ DA MANHÃ
Ponte do Diabo de Mizarela, Portugal
Sei que as pontes são obras de engenharia complicadas de desenhar e construir. Em idos remotos, sendo muitas as dificuldades, as populações recorriam às forças do oculto para, julgavam no obscurantismo reinante, as ajudarem a erguer a obra. Disto, contam as lendas. Por toda a Europa há "pontes do diabo" desde Gales, no Reino Unido, à Bulgária, a França, à Itália, às montanhas da Suíça, a Espanha e até em Portugal. Todas com alguns séculos em cima e com lendas que perduram. Por cá, o demónio também ajudou a construir algumas pontes sendo a mais emblemática a de Mizarela. Foi erguida na Idade Média e reconstruída no início do século XIX. Mizarela é sita a 13 km da sede do concelho, no vale do Caldeirão, Parque Natural da Serra da Estrela, na margem esquerda do rio Mondego.
“Nos anos 80, aquando da construção da Casa do Povo, foi imortalizada num painel de azulejos colocado na fachada desse edifício a lenda que explica a razão pela qual Mizarela ou Misarela é conhecida como a Aldeia do Melro. Conta a história que um agricultor andava pelos campos, de roda das cerdeiras, zelando pelas cerejas que estavam a amadurecer e, como tal, apresentavam uma cor amarelada quando vê fugir um melro do meio de uma das árvores. Tendo o dito pássaro o bico amarelo, contava ele que tal fosse uma cereja e desatou a correr atrás dele empunhando uma espada de cortiça. Quando o pássaro parou em cima de um barroco de granito o agricultor não pensou duas vezes e atirou a espada com o intuito de acertar no melro. Consta que a pontaria não foi a melhor mas que, tal a fúria e determinação das gentes da terra, ao que parece o dito barroco abriu-se com o impacto tendo a espada de cortiça ficado cravada nele. Alguns populares acrescentam que o dito agricultor correu atrás do melro bons quilómetros, até ao sítio do Apeadeiro de Sobral da Serra. Outras fontes mais pictóricas afirmam que o melro levava realmente uma cereja no bico e que, para fugir da espada, a deixou cair e esta se foi enfiar na brecha recém-aberta no barroco e que daí rebentou uma cerdeira.”
Segundo outra lenda, um criminoso fugido da justiça viu-se encurralado e desesperado ao chegar aos penhascos sobranceiros do rio. Talvez pelo peso da consciência, o criminoso invocou o nome do mafarrico que de imediato apareceu. Disse o diabo: _ "Ajudo-te a passar mas em troca dás-me a tua alma". Em ato de desespero, o que importava era salvar o corpo em vez de ser capturado e enfrentar a justiça o criminoso assentiu. Num ápice, o diabo fez aparecer a ponte, o foragido passou para a outra margem deixando as autoridades perante obstáculo intransponível, pois a ponte já se tinha esfumado. A estória não se ficou por aqui. Passados tempos, o pobre homem sem alma viria a arrepender-se do pacto que tinha feito e foi contar o sucedido a um padre. Disse o padre: _ "Pecado, terrível pecado! Vais outra vez ao mesmo sítio e voltas a chamar o Diabo, pedindo ajuda para a travessia do rio. Deixa o resto comigo." Assim foi. Já no local, o desgraçado volta a chamar o chifrudo que logo apareceu e concede-lhe o desejo: a ponte surgiu. A meio da travessia, o homem parou, o padre escondido apareceu com água benta e aspergiu-a. O diabo esfumou-se no ar, deixando odor intenso a enxofre. O diabo tinha sido enganado. O homem recuperou a alma, a ponte ficou benzida e permanece.
Da ponte da Mizarela advém ainda mais uma lenda - “Quando uma mulher não levava a bom termo a gravidez ou pelo simples medo de perder o primeiro filho ainda na gestação, devia pernoitar na ponte até ao alvorecer, impedindo que algum ser vivo por ali passasse. De manhã, esperaria pela primeira pessoa que aparecesse, pedindo-lhe que com uma corda comprida presa a um recipiente apanhasse água com a serventia de benzer o filho ainda na barriga e ser o padrinho ou madrinha da criança. Rezavam um Pai Nosso e uma Avé Maria. "Se for rapaz chamar-se-á Gervaz, se rapariga, Senhorinha." Feito o pré-batismo, a mulher tinha sucesso na gravidez.”
Fontes – TSF e Wiki.
CAFÉ DA MANHÃ
Pablo Picasso – Bullfight, 1934 Pablo Picasso
Morremos por tudo e por nada. Morremos de fome, de sede, de cansaço, de sono, de vontade, de tédio, de calor, de frio, de dor-de-cabeça e do mais que aqui não cabe pelo tamanho do lençol desta redação. Dos verbos, o «morrer» é, provavelmente, dos mais usados em Portugal.
Finos como alhos da horta, ao declararmos tantos passamentos, é conferida à banalidade o tom dramático que tão bem quadra com o temperamento latino mediterrânico. Excetuo os franceses do sul – na barriga cheia de vento, os melhores - geneticamente cartesianos, podres de chique, para os quais morrer de surpresa é atitude de mau gosto. Improviso de que não conste «finesse» e planeamento tira do sério francês de gema. Acabado o ato fúnebre, como servir aos familiares e amigos do morto dignas trufas fatiadas envolvidas em ovos, escargots comme il faut, bouillabaisse fria à marseillaise se o finado não teve a decência de dar tempo para abastecimento de linguados e camarões?
Na Itália, descendo pela bota, morrer ganha consistência em número e razões – o Vesúvio, o Stromboli e a Sicília ali tão perto, a matriz acalorada dada a paixões compatíveis com ilícitos gravosos legitimam surpresas mortais. Pelo perigo eminente, os italianos habituaram-se ao improviso do post mortem. E saltam dos gavetões lutos como os franceses sacam queijos, tintos e baguetes - a massa destas pode não ter levado a mão de Cristophe Vasseur no “Pain et des Idées” da rua Yves Toudic, mas, ainda assim, diferem do plástico das nossas. Em síntese: os italianos sabem carpir quase tão bem como nós. Não surpreende o gosto das portuguesas por Itália como destino de férias, enquanto os respetivos escolhem Paris. Entendo: nós somos as mais ligeiras no manifesto de morrermos por desconforto.
Em Espanha, o morrer na arena é trivialidade. Os touros finam rodeados de (…)
Nota: texto publicado no "Escrever é Triste".
CAFÉ DA MANHÃ
Joe Testa-Secca, Abstract Fantasy with Horses
Começou pela carne de cavalo e continua na carne previamente picada. Hambúrgueres, bolonhesas, lasanhas e muitos alimentos mais contendo carne nos ingredientes como potenciais riscos para a saúde dos portugueses. Estando fraco o negócio dos equídeos para os fins naturais à espécie, de fora os burros pela extinção que os ameaça, acabam na frigideira ou na panela animais que pelas artes e elegância se destacam. Curiosamente, numa investigação recuada, anotei ser esta carne menos gorda e com níveis de colesterol mais baixos.
Historicamente, mongóis, egípcios, persas, assírios e gregos consumiam carne equina. Não fora a expansão do Cristianismo no centro do Continente Europeu e nas Ilhas Britânicas que a considerou herança pagã e o papa Gregório III ter condenado a pecador quem a consumisse, ainda hoje estaria integrada na gastronomia comum.
Atualmente, nalguns países da Europa, Itália em particular, a carne da nobre raça é indispensável em salsicharia pelas qualidades atrás referidas e por conferir aos produtos atraente cor avermelhada.
Teremos pela frente um caso de saúde pública ou manobra de diversão para outros escândalos, os níveis do desemprego em particular? Neste lugar mal frequentado que é Portugal, nunca se sabe pela inexistência de explicações convincentes.
CAFÉ DA MANHÃ
Mati Klarwein
A Bélgica prova o improvável: desde há um ano, vive de modo relativamente tranquilo sem primeiro-ministro ao comando. Dedução imediatista: as redes políticas tradicionais são dispensáveis para os cidadãos ainda que repartidos por regiões e línguas – flamengo, francês e o minoritário alemão. As estruturas hierárquicas funcionam por si próprias, uma vez que Sua Majestade, o rei, apenas acumula postura decorativa com funções extremamente limitadas de Chefe de Estado. Não pinta, nem manda no essencial.
Todavia, a realidade vai além. Na ausência de entendimento entre os partidos mais votados para formação de governo, por tal omissas reformas internas, a dívida belga cresce sem parança – o terceiro país mais endividado da Europa, ocupando a Grécia lugar cimeiro. Maçada que aos belgas aflige sem que o quotidiano reflicta angústia existencial.
Lembrando ter a Bélgica participado de modo determinante na fundação da Europa Unida e nela hospedar sede da Comunidade, adivinho sinal que preside ao futuro dos vinte e sete e à organização política do mundo. Sem bola de cristal é tentador deduzir que estando o Reino Unido nas lonas, a Alemanha em desnorte eleitoral, a Itália entalada em dívidas vultuosas, a França como é sabido, ou o Durão se revela duro de roer e engendra arca de Noé que a Europa salve do naufrágio, ou, caso contrário, o mundo económico-financeiro como o conhecemos desaparece num ápice. Alguns dos centros poderosos deslocar-se-ão para outros países/leme: China, Japão, quiçá a Austrália no hemisfério Sul. O Brasil, a continuar o deslumbre pelo acesso fácil ao dinheiro de plástico, não tarda, regredirá - os europeus fizeram o mesmo e deu no que deu.
Ciclo da humanidade a cujo dealbar assistimos. Talvez fim das democracias ocidentais, talvez princípio duma nova ordem mundial.
CAFÉ DA MANHÃ
Belgas, pois então!
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros