Gilliard, James Borger
Nestes dias de 12 a 15 de Agosto do ano da graça de 2011, teço loas à edilidade e ao Presidente do Município por não ser acordada nas quatro matinas festivas com foguetório – «morteiros» chamam-lhe bem a propósito ao deixarem «morta» de sono a população. É que decorrem as “Festas do Senhor do Calvário”, a Grande Romaria das Beiras assim designada pela mole humana vinda de todo o concelho e de fora: emigrantes e imigrantes que partiram ‘à cata’ de vida melhor, turistas nacionais e da «estranja» (holandeses, muitos franceses, alemães). Entre estes, alguns são amigos ou patrões ou superiores hierárquicos que os nossos deslocados no estrangeiro conheceram no bairro, na fábrica, na empresa, na casa de família onde prestam serviços, em qualquer lugar; de modo geral, apreciados pelo trabalho que desenvolvem com pundonor.
Lembro a surtida dos aldeões à “vila”, então Vila de Gouveia, exteriormente vestidos com roupa domingueira, no interior com alegria e ilusão. As vitualhas cabiam nos “merendeiros” transportados à cabeça pelas mulheres vindas em grupos ou por famílias. Petiscar era na improvisada mesa e assentos em que transformavam as escadarias que sobem até à Capela do Senhor do Calvário, ou nos curtos degraus da Igreja de São Pedro que abençoa a praça maior baptizada com o mesmo nome. Feiravam, não perdiam uma cerimónia litúrgica e, chegada a noite, o arraial mais os enfeites de mil luzes nas ruas. Regressavam a pé após o “grandioso espectáculo do fogo de artifício” ou do preso. Deste tinha eu “medo que me pelava”e literalmente me pelara e queimara vestido novo, «embaloado» - as faúlhas saltavam do «fogo» em rodízio como se todas as estelas do céu tivessem, em convénio, decidido cair sobre o local, no caso sobre o cacho dos meus caracóis e o organdi que cobria saiote franzido, depois engomado para entesar. Mas foi por esse tempo que a «coimbrinha» viu, por vez única, actuarem ao vivo o Tony de Matos, tornar-se-ia amigo do avô Artur por mor da música que este compunha, e o Duo Ouro Negro. A pequenota deve ter-se enamorado ou do Raul ou do Milo. O primeiro é mais provável se a memória não enredou estas com outras paixonetas por ‘cantores da televisão’.
História recuada de família cujo contar ouvi reza assim: as duas meninas filhas do casal Brojo, separadas por dois anos nos partos, eram diferentes em tudo, embora as unisse o afecto e a beleza. Mui pias, ou não fossem rebentos do único progenitor numa linhagem que contava um sacerdote, o irmão casado e sem filhos nas bandas do Sabugal com a tia Rosa Costa Pina cuja família se associara aos Vilaverde fundando empresa vinícola (Costa Pina & Vilaverde), o sobrinho missionário, tias solteiras.
De volta às meninas Brojo e ao Senhor do Calvário; parece que a mais nova era maria-rapaz, traquinas, desembaraçada, afectuosa, frontal. Levada as irmãs às Festas da Vila,a benjamim, vestido de cetim pintalgado de florinhas com laçarotes rematando as alças, escapuliu-se num ápice – era perita! – até uma gamela de peras. A vendedora encantou-se com a criança que mais parecia visão angelical e deixou-a ficar comiscando peras. Quase de imediato, dão os pais pela falta dela. Nem hesitaram: foram direitos à gamela pois bem sabiam como a miúda gostava de tais frutos. É que numa bela tarde, memória não muito atrasada, haviam-na encontrado pendurada pelo vestido dum galho forte duma pereira pela qual trepara para apanhar as peras rosadas.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros