Dzvinka Stifel – Country Church Janice Northcutt - Huse Communion
Na véspera, rareiam bandos de criançada pedindo de porta em porta bolinhos e bolinhós, não sejam vítimas de uma naifada ou da cobiça dos pedófilos. No Dia de Todos-os-Santos, arredo a noção de santidade clássica. Nem remeto para o conceito e para os rituais católicos que nas Igrejas são celebrados. Santos há mortos e vivos pela dádiva da vida ao serviço dos outros. E que muito se devem amar a si primeiro, para desse amor expirarem gestos servidos aos precisados de um afeto, de uma palavra, de uma presença ao lado. Porque a santidade não se confina aos altares, nem a aros de ouro enfeitando a cabeça, nem a ramalhetes de flores aos pés de imagens postadas em toalhas de renda. A santidade é outra coisa. Não carece de certificados de garantia concedidos pelo Vaticano. Não obriga à condição de mártir. De frade ou freira. Ou padre. Ou qualquer outro degrau na hierarquia católica dos profissionalmente dedicados à causa divina. Ainda menos de eremita. O caminho da santidade é o caminho da paz interior, do bem-estar com o próprio e com os outros. E santo pode ser qualquer um que de melhorar quem é não desista. Milagreiro, sim, ao transbordar amor para uma, várias, muitas vidas que rente à pele e ao espírito sentem ter passado a contar. Nunca mais um, mas alguém especial que mereceu inesperada oferenda.
CAFÉ DA MANHÃ
Rudolph Wendelin, Janice Northcutt
O património de alcunhas nas Aldeias está ferido pelas gentes desmemoriadas dos idos remotos e pelo desuso em que caiu no linguajar. Nome primeiro acompanhado por outro associado ao lugar de morada ou afazer é passado. Hoje, imperam apelidos tais como o notário os registou.
Mas são lembrados alguns, embora os utentes, na maioria, já tivessem entregue a alma ao Além. Curioso era não se apoquentarem os alcunhados. A Emília ‘da Carvalha’, habitava junto ao carvalho frondoso no adro da Igreja. A ‘tia Costureira’ ou Emília ‘do Canto’ associava lugar de morada à profissão exercida com pundonor. O José ‘da Volta’ tinha casa à curva do Prado e, logo abaixo da escadaria que ao mesmo lugar ascendia, morava o ‘Senhor Barbas’. O Joaquim e a Emília ‘do Largo’ viviam no Largo da Igreja, a Céu ‘Forneira’, no centro do 'povo', cozia pão no forno comunitário.
Do casal Joaquim e Alice ‘das Risadas’ lembro a curiosidade e o sorriso melífluo da mulher, pais extremosos de menina que casaria cedo, talvez com dezasseis anos. Tornou-se mulher bonita que recordo elegante na postura ao atravessar a cidade. A Senhora Céu ‘Americana’ fora emigrada nos Estados Unidos da América. Voltara com fortuna, enfeites e ouros no pescoço, também ao dependuro em todas as extremidades salvo pés. Óculos excêntricos para a moda local, lábios pintados com carmim espesso, cabelo enrolado em «banana» ripada. Simpática e generosa.
À Fernanda ‘do Sargento’, filha de militar falecido que aquele posto desempenhara na GNR, solteirona, caracterizava-a o silêncio, a afabilidade, o ar maltrapilho conquanto tivesse posses de sobra. Combinar roupa extravagante era a sua especialidade. Irreverente, pouco lhe importava o que sobre ela era falado nos dizeres aldeões – persistia nas idas e vindas diárias, a pé, para a cidade que os mil e poucos metros facilitavam. Discreta, não era mulher para ‘levar e trazer’, o mesmo é coscuvilhar. Parece que por ter sido o pai republicano aguerrido, não paravam junto à casa onde morara padre, andores, anjinhos e banda nas procissões.
A Emília ‘Romeira’, mulher simples no pensar, amiga dum copito mas sem exagero, trabalhadeira como poucas nos campos, tinha um filho: o Menã. Dele recordo chuchar no dedo até tarde e ser protegido pela família/madrinha Brojo. Tornar-se-ia homem desempenado e hábil em construir futuro. Mais lembro: muito pequeno, tendo sido incumbido pela mãe de um recado, chega-se à avó ‘Mamia’ e atabalhoa:
_ “A minha mãe dixe assim: vai à menã que t’empreste a tesã.”
Habituada ao entaramelado do fedelho entendeu de imediato o que para outros seria código impenetrável _ “Vai à madrinha e pede emprestada uma frigideira”.
_ É obra!
CAFÉ DA MANHÃ
Mark Bryan, Janice Northcutt
Do ‘mal’ consubstanciado num homem, Bin Laden, resta o corpo sob custódia dos Estados Unidos. Festejam os norte-americanos, pronunciam contentamento líderes mundiais. É reclamada justiça feita aos milhares de inocentes no Oriente e no Ocidente que a organização tentacular encabeçada pelo homem assassinou.
Enquanto as agências noticiosas se afadigam em divulgar tão importante feito, adiantam que o cadáver já tem o mar como esquife, é consensual não confundir as sobras do ‘mal’ com o fim do terrorismo – doravante, a previsibilidade aponta para o seu recrudescimento. Estados alerta, os cidadãos sem meios para se cuidarem. O acontecido no café de Marraquexe mostra que o polvo se desdobra em múltiplas cabeças.
Já o assassinato de um filho e três netos de Muammar Khadafi pelas forças da Nato é coisa outra - eliminar alvos militares líbios que diminuam o poder do ditador e o conduzam à demissão, sim, atacar cirurgicamente humanos sem culpa, nunca. Efeitos colaterais, dirão os mandantes; acção falhada, erro grave, digo. O propósito de mandar Khadafi para a tumba, polémica a bondade do intento, obrigava a cautelas extremas que bombardeamento não assegura.
O ‘mal’ dos muitos rostos ficou sem um. Demais com máscara de anjo circulam por aí, escondendo a podridão das asas ao dependuro.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros