Autor que não foi possível identificar
Garota, sonhadora, depressa cansei livros de inocentes afetos, bondade às pazadas, fadas, sapos que eram príncipes, príncipes que eram uma maçada. Tudo envolto em bosques, castelos, heroínas louras com lábios de rubi. Olhos azuis ou esmeralda. Os joelhos esfolados por campeonatos de salto à corda e à «macaca» não me davam aspeto de menina bem comportada. Que não era, também pelas atrevidas leituras à socapa. Mimada e enamorada pela família, desgostá-la era mágoa pesada. Aprendi a conciliar. A ler Sarah Beirão. A engolir grito de dor ao desinfetar ferida sorrateira nos joelhos tapados com a fímbria do vestido. A inventar sítios novos para esconder livros pecado, alimento da minha sofreguidão. Charlotte Brontë foi deslumbre na baralhada passagem de menina a adolescente.
A leitura continua isolamento amigável. Separa o pequeno mundo onde sou. Abre outros. Concilia a mulher com pensares diferentes. Promove sonhos nem às paredes confessados. Daí a necessidade duma janela, dum espaço que respire o fora, dum room with a view para dar tempo a metaleitura firmada quando o olhar se desprende da página e procura o longe íntimo. Observador daria por inexpugnável o castelo de quem a si própria, lendo, faz companhia.
Jean-Pierre Gibrat
Má leitora pela índole conduzida ao hábito de devoradora de livros, incrementei a necessidade de voltar ao lido. Confesso mais de vintena de regressos a obras que me caíram no goto, algumas na adolescência. A Cidade e as Serras transportam-me ao Minho da infância estival, aos sabores conseguidos no ferro da panela à lareira, aos rituais agrícolas, às graçolas das gentes, às graças finamente engendradas pelo Eça. Leitura outonal acompanhada pelo roer de maçãs, se camoesas melhor. Indiciada a dependência dos retornos pelos ciclos da Terra. Ao Gonzalo Torrente Ballester no Filomeno, para meu pesar e ao Umberto Eco reservo o Inverno. A inauguração da Primavera ergue-me os braços para retirar Música de Praia da prateleira onde o resto do ano passa ao lado de Pat Conroy. No Verão, releio sagas. Eugénio de Andrade, sempre.
Discordo da opinião de amigo estimado, leitor e escritor exigente, ao afirmar que se lhe ofertassem as Fnacs ficaria com dez por cento e para reciclagem útil mandaria os noventa de sobra. A tão radical sentença, oponho o meu congénito ecletismo.
Domen Lombergar
Defeito e qualidade.
Verso e reverso.
Sou dispersa nas escolhas. Leio por inteiro o comprado ou ofertado, à exceção do “Linguado” e dos últimos pedantismos do Mário de Carvalho. Se pelo vocabulário - obriga a dicionário d’antanho, outro atual ao lado - julga atingir hallelujah, que se desengane. Evoluiu, sim, desde a singeleza exemplar no Beco das Sardinheiras. Por dobrões não contados entregou ao diacho que o não leve a pureza sábia.
Refinou e perverteu.
Por ora, com entremeios de cambraias outras, leio, em castelhano, Arturo Pérez-Reverte no room with a view. Oferto cambraias finas.
A redação está conforme ao «Tpc», querida Tia?
CAFÉ DA TARDE
Jean-Pierre Gibrat
Somos rápidos no julgar dos comportamentos alheios. A natural interrogação que assalta após atitude humana por entender soe estar em proporcionalidade direta com implícita condenação. Aconselhável seria, e para mim deixo o recado, esperar até candeia ou luz a jorros iluminar o obscuro.
Vem a arenga a propósito do intervalo de tempo em que não tive nem tenho, por enquanto, possibilidade de responder, ainda que nem um fique por ler, aos comentários generosamente deixados no SPNI. Sendo a mudança ingrediente das vidas, épocas existem mais folgadas nas atividades essenciais, outras em que as prioridades tomam, de súbito, rumos inesperados. Penosos alguns deles. Como é o caso.
Pergunta legítima a interpor é qual a razão de manter este espaço renovado diariamente, ainda que ventos pessoais o agridam. É a esperança de tempo outro chegar, o carinho reservado a quem o visita que alicerçam a continuidade. Da vida teimo em esperar sempre o melhor. E chega e é recebido como sorriso da madrugada em tons de malva no estio.
CAFÉ DA MANHÃ
Este vídeo, aparentemente lamechas, merece alguma atenção.
James CochramL, George Siaba
Tenho recusado tratar por aqui sucessivas tragédias envolvendo crianças ou jovens, nossas e doutros países sobre as quais o choque individual é inibidor. Do mesmo modo, debitar o já sabido sobre incompetências e ratarias neste Portugal desgraçado por demasiados anos é enfado – as bolsas vazas já cansam e são prova. Também as mortes solitárias de idosos, o abandono que sofrem quando os descendentes deles rejeitam o saber e a presença, quando os exploram por reles cobiça, quando os violentam pelo simples ato do incómodo de ainda respirarem e marcarem presença na vida, quando falta paga de salários pelos exploradores do trabalho alheio, quando os truques e trocas e baldrocas dos “vendilhões de templos” abundam, doem e chagas são abertas nas consciências atentas por ora designadas como pueris.
Não seja julgado ter colocado vendas nos olhos, tampões nos ouvidos para a “santa vidinha” ficar isenta de sobressaltos. Quem, hoje, experiencia sociedade trágica, alguns filtros revelam-se imprescindíveis para evitar a desesperança, contaminação do espírito e persistir nos valores que desde o berço foram inculcados e, depois, outros tão ponderosos como aqueles, adquiridos.
CAFÉ DA MANHÃ
Com o guionista e célebre autor de comics Jean-Pierre Gibrat o alargar de espíritos que menosprezam a banda desenhada de qualidade.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros