Quarta-feira, 9 de Abril de 2014

A VIDA/MORTE DOS PORTUGUESES É UMA TÔMBOLA

    

Jeff Suntala                                                                 Andre Wek

 

Médicos estão num jantar, assistem a um espetáculo, e, no intervalo, encontram amigos ou conhecidos. De imediato, em percentagem significativa, correm o risco de consulta palrada: _ Sinto isto e mais aquilo, não durmo sereno, acordo com cãibras a horas inusitadas, vomito ao acordar, o coração bate como máquina descontrolada. Que acha ‘doutor’? E o ‘doutor’ não acha nada por ignorar a história clínica, sorri, estando o humor em alta, caso a fadiga dos «bancos» obrigatórios o determine mantém o fácies cerrado, recomenda visita ao médico de família. Sendo próximo o queixoso, oferece consulta particular, inevitavelmente à borla, estando a potencial maleita incluída na especialidade pela qual optou. Mais grave, todavia compreensível perante a ineficácia do Sistema de Saúde provado pelas listas de espera maiores que o rol somado de todas as lavadeiras de Caneças d’antanho, é o putativo doente solicitar dianteira no rol para cirurgia ou quejando. O 'doutor' rejeita com a urbanidade possível.

 

No retrato, quiçá fiel, do português desenrasca, sobressai o estado da saúde lusitana – quem conhece auxiliar dum hospital, enfermeiro ou médico vulnerável a pedinchices tem garantido préstimo abreviado. Os outros são o maralhal - esperam, desesperam e descreem nos serviços de saúde aos quais têm, legitimamente, direito. Aplicadas as «troikices», além do mau que era e é, em alta as comparticipações financeiras dos utentes nos tratamentos precisados. Adeus taxas moderadoras já de si injustas – tanto paga o rico como o pobre –, olá financiamento do utilizador. Malvada decisão porque arredada justeza do sistema contributivo segundo os rendimentos individuais! Diminuídos os «isentos» das contribuições na assistência do Serviço Nacional de Saúde, era suposto que a vilanagem do metal pago justificasse serviços apropriados em rapidez e fiabilidade. Mas não. Em curtos meses, mortes e/ou situações críticas evitáveis se a articulação bombeiros, ambulâncias/INEM/hospitais existisse.

 

Bastas vezes me pergunto qual o «malino» que nos condenou a estas e outras atávicas incompetências. Sem exorcismo que nos valha no Sistema de Saúde, o «malino» deve ser poderoso lá nas quenturas dos infernos ao transformar a relação vida/morte dos portugueses numa tômbola.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:59
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