Segunda-feira, 3 de Maio de 2010

DA 'BARCA HERMÍNIA' À 'PEDRA BRANCA'

 

Pat Dugin

 

Diálogos mediados entre pergunta e resposta. Tantos arquivei que esperam merecida publicação! Exemplares pela escrita pensada. Emoções transcritas. Esta, uma das últimas.

 

João Nave:

_ Por curiosidade: e a 'Barca Hermínia', sabe onde fica?

 

Teresa C.:

_ A 'Barca Hermínia' não. Pena minha! E a 'Pedra Branca', conhece? Troca por troca: diz-me deste seu recanto e eu conto-lhe do meu.

 

_ Vamos lá. Com todo o gosto. O desafio foi seu. A caminhada vai ser dura. Inverno ou Verão? Tanto faz. O risco é semelhante: respirar até não poder mais.
No vale do Rossim, olhando lá para cima, subir até às penhas. Depois, na mesma direcção, caminhar numa linha recta entre o Vale do Rossim e o Cântaro Magro. Este planalto é porventura o local mais inacessível da Serra. Tentar ir um pouco pela esquerda, percebendo o vale glaciar lá em baixo. A certa altura, a meio caminho do Cântaro, nota-se uma depressão com paredes de granito. Daquelas paredes de pedra limpa e dura que só por lá se encontram. Não fosse um planalto e quase poderia ser a caldeira de um vulcão. No Inverno é mais fácil descer até lá abaixo; escolhe-se uma das enormes frestas entre as paredes de granito e rebola-se pela neve até ao fundo. No plano do fundo atapetado de verde encontra-se, encostada a uma das paredes, com uma enorme pedra a servir de tecto, uma construção com uma inscrição a encimar o que poderá ser uma porta: Barca Hermínia. Dizem que foi um doido endinheirado de Manteigas que, no princípio do século XX, foi para lá viver, sobrevivendo com os víveres que os seus criados lhe levavam regularmente de burro por caminhos estreitos na encosta do vale glaciar do Zêzere. Hoje, isto é, há trinta anos (teria uns 19 quando lá fui a última vez), era um poiso para os pastores. Doido, diziam os que tratavam da vidinha na Vila! Doido!

 

_ Desvendo-lhe um dos meu (re)cantos na Estrela. Do Rossim para as Penhas Douradas quando o sol as incendeia, pisando matos rasteiros e virgens para Norte, depois alguns metros de alcatrão, vê branco reluzente. Duas pessoas encavalitadas em altura chegam para o medir. Mais perto, depara-se-lhe quartzo cristalino. Rocha pura, construída por tetraedros de sílica (dióxido de silício, SiO2), espigam do todo pela geometria que lhes determinou o estado sólido, interrompido por prismas hexagonais ou colunares. Dureza 7 na Escala de Mohs majorada pelo diamante. Pela beleza e brilho e tamanho XL dos cristais, houve quem à custa de martelo e escopro a tivesse deformado. Atentado à beleza e à natura, agora proibido e vigiado. O regresso é mais longo que a ida, conquanto seja idêntica a distância: a subjectividade temporal enganada pelo desejo de ver o novo selvagem. Sendo Verão, convém ecrã solar ou é inevitável pela queimada e bolhas e farrapos descolados pela mortandade da epiderme.

Pode atingir a 'Pedra Branca' de automóvel. Não é o mesmo: perde oito km de entusiasmo e leveza do ar.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:36
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