Terry Rodgers Terry Rodgers
A Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA) realizou em 2012 estudo sobre violência contra as mulheres. Abrangeu 42 mil mulheres europeias. Alguns dos resultados conhecidos ontem:
- 43% disse já ter sofrido de algum tipo de violência psicológica que incluem humilhações, ameaças físicas, proibição de sair de casa ou ter ficado sem as chaves do carro por ação do companheiro;
- 30% afirmou já ter sido violada pelo menos seis vezes pelo companheiro. Destas mulheres, uma em cada três denunciou o caso à polícia, mas 25%preferiu o silêncio por vergonha:
- uma em cada três mulheres já foi vítima de violência física ou sexual;
- uma em cada cinco foi vítima do marido ou do companheiro;
- entre os tipos de violência física mais comuns estão o empurrão, a bofetada, o agarrar pelos cabelos, ou atirar a mulher contra uma parede;
E no que a Portugal respeita? Conclusões:
- acontecendo a agressão no casal, 27% envolve mulheres desempregadas e 23% com mais de 63 anos;
- uma em cada quatro portuguesas já foi vítima de violência física ou sexual;
- 51% das mulheres que sofreu este tipo de violência não tinha trabalho;
- uma em cada três mulheres foi vítima de assédio sexual;
- 55% silencia o assédio por julgar resolver o assunto sozinha;
- 60% das entrevistadas pensa ser muito comum a violência contra as mulheres;
- 37% das portuguesas conhece alguém que já foi vítima de violência doméstica;
- Portugal lidera o grupo de países onde a violência contra as mulheres apresenta valores mais baixos.
“A Dinamarca, a Finlândia e a Suécia são os países com mais abusos, o que pode ser explicado por questões culturais, como o maior número de anos no mercado de trabalho ou os hábitos de consumo de álcool.”
CAFÉ DA MANHÃ
Joan Manuel Serrat - Puedo escribir los versos mas tristes esta noche (poema de Pablo Neruda)
Porque é domingo, vem a propósito: “hóstias alucinogénias levam idosas a agredir padre.”
CAFÉ DA MANHÃ
O Sr. Joaquim Monteiro pastoreou rebanhos pela serra fora desde que se fez homem. Nos seus oitenta e tal anos, na banda de cá da Estrela, conheceu todas as pastagens, cantos e recantos, minas de água que dessedentassem os animais. Dias e noites sem volver a casa, pernoitas embrulhado no capote, em cama de chão. Aguentou frios e gelos de rachar ossos. Amanhecendo, recomeçava a lida de “guardador de rebanhos”, por vezes sentado num penedo, filosofando sobre o que via e acontecia, a vida, enfim. Não é acaso a sabedoria dos pastores e a tranquilidade proverbial.
Em casa da antiga vila, hoje cidade, habitavam os padrinhos de casamento, amigos e protectores do casal Monteiro, Joaquim e Maria da Luz. A herdeira da família madrinha neles pensava bebericando “café dos velhos” à sombra de latada e do muro onde heras subiam. Detinha-se caindo os olhos nos frutos da macieira e do pessegueiro amorosamente plantados e merecedores de mil cuidados pelo pai em sepultura próxima. As primeiras maçãs surgiram no Verão seguinte à partida da referência que sempre constituíra a figura paterna. Sorria ao ver a maravilha dos frutos coloridos, «via» o amor e o colo do pai correndo na seiva que os crescia.
Por vontade e obediência ao preceito “quem do seu cuida não merece castigo”, ergueu-se. Esquecida do «Cristo» em que tornaria pés, braços e pernas após o trabalho dos silvedos, enfiou vestido leve em vez de calças e botins velhos, seguiu “Estrada da Serra” acima até ao “Prado” onde prosseguia o restauro da casa. Enfiou-se por carreiros conhecidos desde as férias da infância – encurtavam o percurso e transbordavam beleza. A ondulação granítica da montanha sempre na dianteira, musgo seco pelo estio alapado nas rochas, em harmonia, espécies várias de arvoredo. Continuou a subida.
Já outra etapa iniciava rumo à quinta grande, quando casebre no limite do “Prado” a estacou. Então uma beldade daquelas para ali abandonada? Mirou de todos os lados a construção. Dela fez registo. Mais andarilhou até chegar à meta segunda. O Vale D. Pedro, misto de terreno urbanizável, agrícola, pinhal (bravo e alpino) intervalado por castanheiros e carvalhos, limpo de mato seco amigo de incêndios.
Durante a passeata, vislumbra o Senhor Joaquim Monteiro, alforge ao ombro, pastoreando nem meia dúzia de cabras. Como de costume, aproximaram-se, cumprimentos, o senhor baralhado nos laços de parentesco que ligavam a mulher aos padrinhos, se bem que havia dois meses no mesmo lugar se tinham encontrado. Confundia bisneta com neta, foi novamente explicado que não, que era a neta e ele na mesma teima. Passou às queixas usuais: que o Sr. Mário, o feitor, embirrava com as “pobres cabritas”, que o expulsara, que à propriedade não ligava. Além tinha ido na querela: ameaçara-o pôr veneno nas ervas e resolver o problema de vez morrendo os bichos.
_ A menina veja, matar-me as «bonitas»! Chamou-me “filho daquela” e eu não me fiquei chamando-lhe filho “dum aquele”. A partir da última vez, quando a menina lhe chamou a atenção, mais fui destratado. Que me morreu uma, é verdade.
_ Deixe lá Sr. Joaquim que sempre foi vontade da família vir para aqui quando quisesse. Uma vez prometido, para sempre cumprido.
Por lá ficou mais consolado.
Coincidindo o Sr. Mário e a mulher irem à casa para ser tratada com uma ‘infiltração’ a Fátima que penava com dores reumáticas no ombro e no cotovelo, houve conversa lateral:
_ Faz o favor de me explicar o acontecido com o senhor Joaquim?
_ É simples, minha senhora: deixou as cabras destruírem-me as sementeiras. Fiquei danado e disse-lho. Então aquilo fazia-se? O meu suor ali desbaratado?! Ameacei-o com pesticidas, mas nada fiz. A senhora conhece-me.
E a senhora que sim, que confiava nele por jamais ter dado motivos para o contrário, mas que tivesse paciência, embora marcasse regras. Saindo da saleta a Fátima com o braço ao peito e recomendação de repouso absoluto, foi o par à sua vida. A “minha senhora” voltou ao trabalho, fiada em ter apaziguado as partes.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
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