Marteen Koopman
Podemos pedir-lhes para, quando fora de casa, não comerem nada amarelo salvo fruta, preferirem o que é verde exceto pistácios. Não adianta. A maionese, batatas fritas, panados e salgadinhos irão direitos à boca, escorregando até ao incipiente barril que, aumentado, deixa mulheres e homens cabisbaixos. Coisa de pouca dura: só voltam a lembrar quando for memória «ele» ou «ela» olhada de cima.
As mulheres afirmam-se preocupadas com uma alimentação saudável. Tentam afastar excessos de gordura, carne e refogados dos hábitos domésticos, retomando o bom costume das sopas e legumes. Porém, caso resvalem para maior rigor na gastronomia doméstica, serão coagidas sob ameaças de greve de fome ou levantamento do rancho familiar. E cedem.
Os ocidentais engordaram ao ritmo da perversidade da civilização. A facilidade e a imobilidade normalizou-os. Foram-se as caminhadas para a escola, os jogos de bola, saltar à corda ou jogar às escondidas com os amigos, as brincadeiras de índios e cowboys na rua pelos finais de dia (culpam a insegurança, é sabido!). Disto há vestígios nos meios rurais ou do interior, e talvez aí ainda chegue mãe à janela chamando pelo filho traquinas. A urbe, o mais próximo de ocupação física que fornece são atividades em clubes desportivos ou nalguns colégios para a gente miúda. Sentimo-nos flácidos, pouco ágeis, obesos por dentro quando não por fora. Curvamos as costas, encaixamos o pescoço nos ombros, descemos o queixo afinfando o olhar no chão. Carregamos o peso do nosso e do alheio mundo.
Ó amesendado povo! Tirai os glúteos dos assentos e andai! Caminhai sem que os pés vos doam. Meia hora como andarilho a ritmo constante e por dia queima exageros, aumenta gula aérea reclamando postura ereta. E quando olhamos o céu ou quem pela frente nos cruza, esfumam-se sombras que só nós vemos e aumenta a liberdade.
CAFÉ DA MANHÃ
Greg Hildebrandt , Daniel Green, Richard Whitney
Na vida adulta dos meus avoengos, o pecado da luxúria falava espanhol. Melhor, encantava em espanhol, convencia por gemidos e obtinha através de beicinho e volúpia. Os casinos da Póvoa de Varzim e da Figueira da Foz desfaziam, no Norte e Centro, fortunas em menos de um Pai Nosso rezado, com fervor e de joelhos prostrados, frente aos oratórios pejados de Santos e santinhos pelas mães e «esposas» devotas e (des)enganadas.
Os desvios do bom caminho de um ‘rapaz de família’ começavam nas 'Repúblicas Coimbrãs', aí continuavam até o enérgico «Basta!» do pai de família ao temer exaurida a bolsa. Tinham interlúdio no casamento por amor ou «arranjado» que legitimava discretas e ocasionais derrapagens desde que na ignorância da respectiva e ao jantar, servido a horas, ninguém faltasse. Um sossego!
Amornados os sentimentos, a modorra instalava-se. Os negócios entediavam e os ímpetos careciam de potenciados estímulos. Os parceiros de tertúlia garantiam:
_ “Do que precisas é da Conchita! Ficas outro!”
E ele ia. E ficava. Enrubesciam as faces, o olhar coruscava, o riso bailava e a vela dos negócios enfunava como se alísio soprasse. Tudo corria de feição até o homem se apaixonar. Aí começava a pensar, falar, comer e gemer em espanhol sob o imperioso domínio da horizontalidade das artes de nuestra hermana. A Conchita florescia, a fortuna do homem diminuía, o tabelião afiava as unhas, a Conchita abalava e as mágoas perdiam-se à mesa de jogo. As devotas mães e esposas continuavam prostradas de joelhos, levantando o olhar fremente para os Santos e santinhos. O oratório, esse tinha desaparecido.
CAFÉ DA MANHÃ
Mark Cross
Há um ano e pós, começou revolução mundial. Outras constam da história recente da humanidade: “status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), a crise do petróleo de 73.” A que, por ora, vivemos irá, como todas, alterar a forma de vida nas próximas décadas. É radical, imerge-nos, a cada dia prova avanço violento. A Tunísia e o Egipto, a Líbia e o genocídio de fracções dum povo submetido há 42 anos são alertas. Mais existem: o agigantar da China e do eixo Rússia/Índia, a Crise Financeira Mundial e a do petróleo que contrai a mobilidade das mercadorias transaccionadas dentro e entre países. É de acrescer a progressiva destruição da classe média em Portugal e na Europa, os fenómenos migratórios que a curto prazo atingirão 85 milhões de imigrantes neste velho continente - como objectivo da mudança a procura de algum bem-estar compensatório das humilhações sofridas. Como causas, assimetrias sociais geradas pelas falsas democracias e pelas verdadeiras ditaduras no mundo, o exaurir galopante pelo Ocidente das matérias-primas existentes nos países de origem dos que deles somem.
Mais é sabido, mais li e consolidei pelo acordado com o meu pensar: a Europa envia sinais do estertor em que soçobra. Próximo o cerimonial fúnebre – moribunda, não tem projecto, falha a liderança, não consegue definir objectivos abrangentes para o caldo de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns, salvo a geografia; escasseiam cidadãos europeus que nela confiem.
Porque das revoluções sempre provieram épocas de esperança e crescimento, que esta vá adiante. Que os lutadores mortos sejam honrados pela acção pacificadora dos sobreviventes.
CAFÉ DA MANHÃ
Por via duma sugestão do Veneno C.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros