Sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

MALGAS E NALGAS

 

Oscar Durand                                                                                                  John Kacere

 

Malgas e nalgas. Nos povoados do Interior Centro, malgas de sopa saciaram fome a muita gente. Tigelas eram coisa fina. Muito mais finas não sei!, conquanto no presente ainda dêem arranjo - sopa fria e cereais odeio esparramá-los em pratos. Não aconchegam o que come primeiro: os olhos.


As nalgas como palavra são malgas sem uma perna. Nádegas de facto. Curvas e cheias; calotas que se querem firmes. Mulher de nalgas apetecíveis, no oscilar entaladas por saia fina, deixa muito homem escorrendo água pelos beiços. Idos houve em que os garotões simulavam desequilíbrios para tombarem contra os alqueires de oscilação gémea. E quando tocar nas nalgas era lubricidade (im)pensável, trocava-se o ato pela ameaça: “do que ela precisa sei eu, de umas boas nalgadas é o que é!””

Solteiros e mal «maridados» muitas nalgas provaram nas malhadas espevitadas pela água dos lameiros. As saias subiam e as calças baixavam num entra-e-sai tão corrido que o restolhar da erva mal parecia ter acontecido. Não fora o escarlate das faces, ou tremuras a bambarem as pernas, ninguém daria por nada. Mas dava. Meio pequeno tem destas coisas - passar despercebido não existe. Cheirando a escândalo ou a prática devassa, o “disse que disse” é mais rápido que Pai Nosso.

 

Para as malvas, reputações, nas nalgas, o proveito.

 

Nota: texto publicado aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:01
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Domingo, 14 de Fevereiro de 2010

AMORES SEM VIDRAÇAS OU DIAS


John kacere

 

Fuga breve. Sítio outro. Quentura na alma advinda do íntimo, independente da chegada soalheira como Primavera adiantada no tempo e no corpo. Tiritar anunciado desfeito pelo sentir da pele. Água na manta com brilhos verdadeiros. Novidades à esquerda e à direita. Finalmente, na margem percorrida, o condomínio embargado tapou tijolos e ferro e constrói lugares de bom viver. Envidraçados os, antes, buracos. Demandam a água fronteira. O outro lado. Naquele, abatidas laranjeiras no pomar selvagem com a base dos troncos velhos inundados durando chuvas invernosas. Testemunhadas num par de décadas, menos pelo desconto inconsciente da criança.  

 

Mudar de terra desgoverna rituais quotidianos – abundância no desjejum, coordenadas da cama, longe a escolha liberal da lingerie apetite. Muito mais pontifica. Ainda bem, que do costumado há bastante. Até as ondas da rádio crescem frequência, diminuído o comprimento periódico pelos retransmissores locais. E, acordada a mulher para a luz natural, cai dissertação sobre morte e ritos fúnebres. Sem ajuste ao espírito alegremente iludido. Esforço valente para o botão debitar vozes desejadas. A 'menina da rádio' detecta elo que continua e sabe pela vida vivida. Por ele, interroga-se. "Igual ao pai", ouviu dizer desde cedo. No tempo da rebeldia, negava. No crescer, entendeu semelhanças de atitudes, gostos, nadas/«tudos» fundamentais do espírito.

 

O pai foi e seria eterno amor. Fascínio: a mãe pelo requinte, pela argúcia, feminilidade, prendas domésticas, estar generoso e presença. Sente a avó Mamia e os pais como primeiros namorados, entendidos como aqueles que sentem e retribuem amores. Outros vieram e foram. Nos que ficaram, a mãe perdura. Por isso diz “Amo-a!”. Não conta dos rostos colados e beijos que enlaçam o, há muito, enlaçado.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 11:22
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