Lauro António, apresenta o convidado. Jorge Silva Melo aborda a cultura portuguesa na atualidade, o teatro em especial. De tão especial a palestra, foi rico o debate no após.
Maria Eduarda Colares, Maria da Luz e a atriz Lia Gama que muitas achegas certeiras deu ao diálogo estabelecido.
Maria Ondina Camilo e o ator/encenador Frederico Corado.
A atriz Elsa Galvão, a irmã, Celeste Chaves, Victor Serra também enriqueceriam a conversa com reflexões justa e sábias. A alegria reinou.
Em baixo, outros participantes dum "Vavadiando" a não esquecer.
CAFÉ DA MANHÃ
Jan Bollaert
Quando ela entrou para o comboio, já vinha com cara de boneca. Rosto quadrado, lábios quase sintéticos, olhos escuros, meio encobertos pela franja perfeita de um cabelo que parecia peruca. O único movimento que traía a sua fisionomia de brinquedo era o contínuo mascar de uma pastilha, que resistia apesar de sucessivamente esmoída pelos movimentos basculantes do maxilar inferior.
Encostou-se junto à porta, na posição de máxima interferência com a saída e entrada de passageiros, e iniciou o processo. Qual processo? O de se embonecar ainda mais. Tirou da bolsa um estojinho, abriu-o e, com um pompom, aplicou um pó qualquer sobre o rosto. Fê-lo com movimentos precisos, conduzindo com destreza a almofada pelos contornos faciais, várias vezes sobre cada ponto, até dar-se por satisfeita.
Mas o serviço não estava completo, longe disso. O estojo voltou para dentro da mala e, em troca, surgiu o pincel - não um qualquer, mas um desses de cabeça larga e pelagem fofa, bom para tortura nos pés. Com a mesma habilidade, a rapariga valeu-se do utensílio, em garbosas pinceladas nos cantos essenciais da face.
Eu, sentado a meio da carruagem, na minha posição de moribundo matinal, já começava a quedar hipnotizado pela cena. E mais ainda fiquei quando o pincel foi fazer companhia ao estojinho e da bolsa emergiu uma espécie de caneta grossa, como um bastão de cola. Não colava, mas preenchia. O quê, não me perguntem, pois a pele da miúda, congruente com a sua idade, ainda estava despida dos vales epidérmicos da progressão etária. Mas ela lá sabia, e entreteve-se durante alguns minutos a retocar alguns pontos invisíveis de imperfeição. O que ela fazia com aplicações leves e cirúrgicas, eu não conseguiria nem com duas demãos de massa de pedreiro.
O comboio já ia a meio do caminho, com mais passageiros em pé do que sentados, incluindo o meu objecto de estudo naquele dia. Cogitei onde ela trabalharia, para ser precisa tanta maquilhagem. Intrigava-me também como o constante esforço na mastigação da pastilha não comprometia o revestimento facial recém-aposto.
Mas a rapariga não dava tréguas para reflexão profunda. Era um produto atrás do outro que saía daquela mala. Depois da caneta grossa, veio outra, fininha, para o contorno dos olhos. A seguir, um lápis para o lado externo da pálpebra. Depois, outro para a borda interna da mesma. Uma escovinha de pentear as sobrancelhas. Outra para os cílios. Uma coisa qualquer para a testa. Batom. Brilho. Reforço. Lustro.
Quando eu julgava esgotadas todas as possibilidades, ela avançou para o cabelo. Uma escova para alongar, outra diferente para enrolar a franja. Um espelho para os retoques finais. À chegada do comboio ao Cais do Sodré, estava no spray, aplicado sobre a sua arquitectura capilar e o ombro do passageiro ao lado. Desceu na estação terminal com mais cara de boneca do que quando entrara e deu com uma amiga, que também vinha no mesmo comboio.
- Olá, estás boa? - disse e cumprimentou-a com um beijinho, daqueles em que apenas as bochechas se tocam. Temi que as duas ficassem para sempre com a cara colada. Mas não, havia muita ciência naquela maquilhagem.
Nota - “Cara de boneca” por Ricardo Garcia com a prestimosa ajuda do António a propósito do texto aqui publicado “Batom-Cola” no dia 18 de Julho de 2010.
CAFÉ DA MANHÃ
Nathalie Picoulet, Mauro Cano
Por razões profissionais e voluntárias, veio recambiada para Lisboa. Aluguer de casa, mudança dos púcaros e tarecos, novo ambiente de trabalho. Cidade por dominar nos atalhos e desvios e nos caminhos d’alcatrão que dum lugar levam a outro. Treina percursos, acabada jornada de trabalho. Filha pequena a 300km de distância por ter iniciado actividades lectivas ainda a mãe não mudara do ninho quente que às duas comprazia. Uma vez por mês, está com a sua menina na cidade donde veio, custos descontados no parco vencimento de licenciada com pós-graduações no cume das ondas científicas; na outra é o pai, ex-marido, que lha traz. A renda paga ao senhorio pela casa digna que de Janeiro em diante, acabado o primeiro período escolar, alojará mãe e filha. Do pré, leva a maior fatia. Descompensada afectivamente pela ausência da criança prolongamento do útero e amor maior. Ouve-a ao telefone. Umas vezes chora, raramente espraia no rosto sorriso - apavora-a perder o cordão que unia ambas.
Procura escola para a filha. Sobreviver capital na capital. Compatibilizar horário de trabalho com o cuidado de estar na escola a tempo e horas para a menina não sentir esperas de falso abandono. Mulher só na moura urbe. Sem rede de apoio familiar. E quando vierem febres infantis? Faltar pode, mas não deve sob pena de danos profissionais que à pequena família acrescente reveses. Quotidiano difícil para mães e pais isolados com filhos a cargo. Famílias monoparentais, classificação useira. Nelas, o império do ‘tem que ser’ substitui escolhas. Valem, como âncora, afectos - «novam» e renovam o brilho dos dias.
CAFÉ DA MANHÃ
A cegonha, qual bússola tresloucada, desdenha o Norte e do Sul quer saber. Nele, a refracção da luz pela diferente refrangência dos meios quebra a estaca direita. Revela o ângulo limite que antecede o raio luminoso rasante com o espelho fluido, ténue na imagem à direita do objecto imerso. Além muito, a estrela-do-mar era vida.
Os frutos do mar vazios secaram no algodão. Parte de saco, assento ocasional quando os pés sentem os quilómetros palmilhados, azul sobre azul, azul sobre areia molhada.
E no regresso, já o sol e a cegonha apontavam a tarde, a mulher celebrava com um copo de riso a maré cheia de beleza. Dispôs-se à partilha do mundo das pequenas coisa e manias com quem delas, justamente, nada espera ou limporta saber.
CAFÉ DA MANHÃ
Will Kramer
A fé não é um hipnótico capaz de mergulhar em sono profundo os portugueses estrangulados social e economicamente. A fé não é anestésico que alivia dores. A fé não pode consentir crimes, sejam pedófilos ou má gestão dos dinheiros públicos. A fé não deve ser cúmplice de mentiras e silêncios continuados que pelo mundo fora aumentam pobreza e tristeza. Que permitiram e aumentam neste «canto» desequilíbrio e sofrimento. Os crimes requerem julgamento. Condenação _ lesar o interesse comum é delito imperdoável. E se oitenta por cento dos portugueses são católicos, muitos deles são responsáveis pela nossa miséria social. Por permitirem às entidades bancárias cobrança de sete a catorze euros por mês aos utentes das contas menos recheadas pela manutenção. Neste contingente, incluídos salários e reformas paupérrimas.
É fácil apontar o dedo à «crise» importada. Triste ‘conto do vigário’: nas últimas décadas, imperou o laxismo na governação que, por ora, a todos pesa com IVA aumentado. Carga traduzida pelos olhares cabisbaixos e previsível conflitualidade.
Nesta visita de Bento VXI, foi confundida pompa com dignidade. A primeira foi ociosa, a segunda seria pedagógica. A interpretação papal do ‘terceiro segredo de Fátima’(?) deve ir além da pedofilia cometida ‘pelas ervas-daninhas’ semeadas nos católicos. Ainda não foi ouvido pedido de desculpa sobre a responsabilidade do Vaticano neste caos de desumanidade. E se é verdade que a acção social da Igreja Católica tem persistido no compromisso com os mais precisados, são necessários reforços para enfrentar infernos esperados. Não é suficiente o feito no futuro começado amanhã.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
Mas estas bostas nunca mais acabam? Ao menos, que intervalem para descanso dos espíritos. Fartei! Não eriço pêlos porque condicionados a levantamento se frio ou febre ou prazeres sentidos e caminhantes de baixo a alto ou ao contrário o motivam. Corro, corremos(?) risco de autismo e consequente indiferença às bojardas e atropelos e logros dos podres poderzinhos. Que, putativamente, enchem bolsos. Que, de facto, traficam a droga das influências. Que inalam ou fumam ou engolem com shots alienantes. Imediatistas. Encobertos. Depois, nus. Ou nem por isso, ou fantasmas, ou gigantones erguidos para confundir a populaça que não respeitam. Que catem pulgas autores e denunciantes por encomenda.
Haja vergonha e contenção. Estamos em crise de esperança. As ilusões furadas vazam confiança. As estatísticas dizem-no, também para fornecer lucro às «marktestes» e a quem as encomenda e propala. Malvada sociedade de risco que risca a alegria do povo. Perverso motor da engrenagem que ludibria quem nele acredita(va). São Magalhães, Pêtês, têvês, pressões (en)comendadas sobre jornais e jornalistas que, após assentirem, lamuriam quais donzelas falsamente violadas, submarinos e submersões em milhares de trocos por fora.
Maldita cocaína que ambições e sujeições traficam! Que seja trocado o diapasão pelo qual afinam os pequeninos com poderzinhos, reizinhos nas coutadas pantanosas onde caçam.
CAFÉ DA MANHÃ
Becky
No adiante tratado, os culpados não são os do costume. Inocente certo há um: o sismo chileno. Pode ter desviado oito centímetros o eixo da Terra à roda do qual gira - dia reduzido num microssegundo arredondado, foi lateral aos terrenos. Mais relevantes que esta (in)significância, acontecimentos outros.
“Qualquer investigação criminal está distribuída por várias entidades - procuradores, policias, arguidos notificados, funcionários que transportam as escutas e a documentação.” Declarada como aposta perdida saber as fontes responsáveis pelos escapes de informações. Actos cirúrgicos sem anestesia. Numa qualquer manhã, a nossa vida pode estar ao léu por diálogos certos com pessoas supostas erradas.
Tenho remoído as declarações de Cândida Almeida. Defende como possível solução para o crime de violar segredos da justiça escutas telefónicas alargadas do funcionário menor ao magistrado. Os senhores juízes reagiram como lhes cumpria – mal. Eles, que numa mão têm a balança e na outra a espada, acharam insulto desmedido a possibilidade. Em consequência, declaram-se incorruptíveis e com bocas seladas. Mas ouvem cidadãos, à partida, tão angelicais quanto eles; presumidos cúmplices da culpa não formada.
A supremacia reivindicada pelas, julgadas, elites é vara feiticeira: impacienta-me - facto raro pela habitual relativização. Desmentem superlativos que a eles, os próprios, atribuem. Desfeitas em caliça, ‘Figuras’. Óbvias figurinhas ou figurões.
Para remedeio da indigestão, em vez de um Pepsamar com hidróxido de alumínio na mistura, episódio do Bonanza. O Lorne Greene sim, desempenhou ‘Figura’ de truz! Alma lavada sem precisar de imergir em selha com água e sabão chegado o Fourth of July. Lástima é restritas aos ecrãs ou aos livros gentes assim. Ressalvo a escassez dos banhos que também os corpos deixam limpinhos.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros