Sábado, 7 de Fevereiro de 2015

MINISTRO PORTUGUÊS, MINISTRO ANGOLANO

Bruce Bomberger (1918 – 1980) 1.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bruce Bomberger (1918 – 1980)

 

 

Um ministro Português recebeu, em Lisboa, um ministro Angolano. Simpático, o ministro português convidou o outro a ir lá a casa. O ministro angolano foi e ficou espantado com a bela vivenda. Em bairro chiquérrimo e com piscina. Com a informalidade dos luandenses fez perguntas.

_ " Com um ordenado que não chega a três mil euros limpos, como é que o meu amigo conseguiu tudo isto? Não me diga que era rico antes de ir para o Governo?" O ministro português sorriu, disse que não, antes não era rico. E em jeito de quem quer dar explicações, convidou o outro a ir até à janela.

_ " Está a ver aquela autoestrada?"

_ " Sim", respondeu o angolano.

_ " Pois ela foi adjudicada por 100 milhões. Mas, na verdade, só custou 90 milhões" - disse o português, piscando o olho.

 

 

 

Semanas depois, o ministro português foi de viagem a Luanda. O angolano quis retribuir a simpatia e convidou-o a ir lá a casa. Era um palácio, com varandas viradas para o pôr-do-Sol no Mussulo, jardins japoneses e piscinas em cascata. O português nem queria acreditar, gaguejou perguntas sobre como era possível um homem público ter uma mansão daquelas. O angolano levou-o à janela.

_ " Está a ver aquela autoestrada?"

_ " Não!"

_ " Nem eu..."

 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

«GEME-PARA-RIR»

 

Almada Negreiros Gare Marítima da Rocha Conde de

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Almada Negreiros - Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos

 

 

 

Portugal, a ter alcunha no povoado europeu, seria «Geme-Para-Rir». Lugar pequeno, aninhado entre o muro Espanhol e o Oceânico, habitado pelos «gemepararrirense»s, gente de sólida fé na lamúria como amparo e fonte de riso. Povo desconfiado, bonzinho, caritativo, pródigo em «peninhas» - de quem teve a casa assaltada, foi atropelado, é desgraçadinho, se impõe pelo maior currículo de doenças, pouca sorte ou fraca figura. Enfim, alimenta a auto-estima não dos méritos próprios mas dos duvidosos ganhos em comparações menores. E fica satisfeitinho. Quiçá, arriscando risota. Mais sonora se meter marido cornudo, esparrela a incautos, vigarices aos «grandes» atavicamente enchendo os bolsos, as contas suíças ou off-shores à custa dos «pequenos» - vulgo, povão, zé povinho, maralhal.

 

 

 

 

Em «Geme-Para-Rir» é frágil o arrimo ao trabalho -– “se aquele nada faz, o mesmo farei que não sou menos do que ele!” O objetivo de vida é enriquecer à custa da sorte –- mortos os tios da América perdeu-se a fé nas heranças. Maior temor é a doença, seguido da desconsideração pelos vizinhos - pior do que ladrão é ser um zé-ninguém sem pelos bens encher o olho aos demais. Tempos houve em que muitos saltaram o muro Espanhol ou o Oceânico. Do nunca visto traziam notícia. Alguns lá ficaram, engolidos pelo monstro chamado fado; outros trouxeram casa e automóvel,“tudo sofrido”, diziam, “mas aquilo, sim!, é mundo.” Os «gemepararrirenses» creem a lamúria e a cunha como indissociáveis do sucesso -– ter mais que o preciso sem muito laborar. Julgam pouco atinado rir à solta, não vá quem manda pensar fáceis os dias da arraia miúda.

 

 

 

 

O riso constitui uma espécie de reserva semelhante à do ouro nacional. É usado com parcimónia, mas, sendo preciso impressionar o mundo, os «gemepararrirenses» são foliões, originais, «levados-da-breca», vaidosos e pulam para a rua de bandeira na mão. (Des)Assestado o óculo internacional, voltam à pelintrice sorumbática. No museu de «Geme-Para-Rir», estão guardados bens preciosos: os direitos adquiridos. O povo vigia e assanha-se e grita se cuidar deles os pretenderem apartar. Mesmo saindo pela porta do museu mortíferos tentáculos que a presente e difícil vida tentam esganar.

 

 

 

 

CAFÉ DA MANHà

 

 

 

 

  

publicado por Maria Brojo às 08:00
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (2) | favorito
Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2013

IMPERIOSA DISTINÇÃO: HOMENZINHOS E MULHERZINHAS

 

     

Autor que não foi possível identificar                                                                                  Joseph F. Kernan

 

Há queixas duma subespécie humana difícil de aturar. Circulam livremente, infestam ruas e empregos – trabalho é malquista obrigação -, enfarpelam-se como as demais. Misturados com as Pessoas, à primeira, são difíceis de distinguir. Diariamente, um ou mais exemplares infernizam honestos cidadãos que somente pretendem a tranquilidade possível até ao novo acordar.

 

A subespécie divide-se em homenzinhos e mulherzinhas, como impõe a Mãe Natura que o tantrismo associa à Serpente Ígnea dos mágicos poderes. Alinham os quarenta e oito cromossomas comuns. Porém, os atentos encontram distinções. Neles, tomo por alertas: olhos miúdos e piscos, lábios que trejeito afila, tibieza, face e mãos frouxas, conversa linguaruda. Acrescendo passada curta e banalidade esticadinha no trajar, declaro pronto o retrato. Portas adentro, ignoro-lhes o trato. Mulheres, a quem sina madrasta ou cruel engano com eles coabitaram, dizem-nos arrogantes e «ditadorzinhos» que olho arregalado nem sempre logra conter.

 

Respeitando o sufixo «inho» que surge, fatal, no discurso ao referir estes mutantes, exteriormente, as mulherzinhas assemelham, na perfeição, Mulheres. Nem a roupagem ou o andar as distingue. Sinal inequívoco é, pública e frequentemente, comporem desarranjos imaginários do aspeto. Puxam saias e vestidos com falso pudor, ajustam calças, com os dedos espiam o cabelo, não se aventure ele a desobedecer. Aliás, odeiam desobediências às “vontadinhas” instantâneas; de igual modo, abominam imprevistos e contratempos. Adoram lamúrias, ruminações engelhadas, debicar o bem-estar alheio. Apresentam défice de coragem para pegarem a vida de frente. Ignoram adaptação reivindicativa às reviravoltas nos poeirentos ‘statu quo’. Especialistas no deixa-andar, aproveitam-no para renovarem o armazém de “queixinhas”. Têm medos - muitos e acerca de tudo. Acordam rabugentas. Trocam sexo por cochilar no sofá.

 

Homenzinhos e mulherzinhas têm em comum arruinar otimismos e serenidades desprevenidas. Às Pessoas: registem, um a um, os sinais. Reunidos indícios claros, o melhor é tesourada no cordão capaz de propiciar enlaces ruinosos para psiques saudáveis.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:54
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
Domingo, 19 de Junho de 2011

REPETIR FELICIDADES

 

Vidas feitas de coisas pequenas. Felizes. Memoráveis. Lembradas amiúde quando os dias correm iguais, quando as surpresas abandonam quotidianos, quando nada acresce emoção. Ou o contrário: vidas grávidas de vontade para tudo abarcarem num instante. E as recordações compõem o bouquet, ramalhete à boa maneira portuguesa. Regresso a lugares onde felicidades foram rainhas.

 

 

Arrozais e casarios em vistas reencontradas. Muralhas geométricas nas ameias. A plenitude que o horizonte largo comporta. O desaguar do chão no céu entremeado pela alvura do casario. E quedo-me como se nunca houvera visto. E nem lembro idos, respiro, porque os olhos também inspiram e expiram.

 

 

Descido o Sol pra cama longínqua, azuis e violetas cobrem o espaço no momento restrito. Cantares e vestimentas doutras eras, o pendular dos corpos ao ritmo musicado, abóbadas, varandins debruados a ferros lineares, tons que de irreais, parecem, não se acreditam. Mas escurecem à medida das horas noctívagas. Outra alegria, nova felicidade para quem nela atente. Os distraídos vêem noite onde outros percepcionam fantasia. 

 

 

Acordada a manhã soalheira, as gentes com ela, é nova a pintura. Os telhados sobrepostos por honesta telha, sem modismos à francesa, bem espreitados exibem no canto esquerdo cúpula alentejana que poderia ser redondo de ilha grega. Felizmente é nossa, ou estaríamos desesperados e lacrimejantes como os nativos da Grécia que da ruína económica não sai nem revela sinais de ressurreição. Paciência, o saber gerir e criatividade não faltem para almejarmos melhor.

 

 

É Alentejo em suas bordas ocres caiadas ao redor das portadas e janelas. Azul sulfato afastaria mosquitada pela repelência do enxofre. Barragem privada, as dunas do Sado à beira, cais palafítico ali tão cerca atraem formas de vida incómodas, todavia com direito a sobrevivência. Dela dão provas ao entardecer multiplicando picadas, depois coceira, depois, ferida.

 

 

Para quem dos verdes não abdica, jardins são maravilha. Os sobreiros, engrossados ano a ano pela casca de cortiça, fornecem sombra e frescura. Cascalho reveste o solo onde germinam cheiros e cores e folhagens várias com intervalos floridos. 

 

 

Apertando o calor, terraço oferece assento almofadado, sombra e bem-estar. As conversas desabrochadas em tão doce lugar, são mel que o esmorecer do dia não afecta. E vão pela noite adentro, e enchem o espírito, e alegram almas já antes contentes.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:53
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (2) | favorito
Domingo, 15 de Maio de 2011

DA SAÍDA À CHEGADA, “SÃO ROSAS, MEU SENHOR!”

 

Na saída, “são rosas, meu senhor, são rosas”, brincos de princesa e frescura no ar lavado. O automóvel ronronará, depois, a caminho do centro ainda histórico pela tradição. No Largo, a partir do qual mil caminhos derivam, paragem. Duas gerações directas enveredam pela calçada das muitas esplanadas e um jardim.

 

 

O coração da urbe bate aqui no enviesado das ruas e escadas, dos prédios estreitos, significantes. Ex-libris alguns. Outros somente velhos cujas faces foram alindadas. Por dentro, os curadores tratam de preservar o encerado das escadas, a dignidade possível. Se ocupados por serviços, foram remediadas rugas e humidades e a modernidade entrou.

 

 

Mas são os ferros forjados por hábeis artesãos que recolhem olhares. Em baixo, hordas de turistas com cabeças empinadas para das fracções arquitectónicas catalogadas não perderem pitada. E tufos de musgo, de ervas selvagens espreitam nos telhados. A roupa debruçada nos varandins denuncia necessidades/hábitos dos poucos habitantes sob o desenho rendilhado.

 

 

Existe maior beleza que a simplicidade dos traçados? Edificações coladas, coerentes, cúmplices nos alicerces e paredes-meias abrigam recursos a todos necessários. Conhecem pelo nome os clientes habituais, cumprimentam-nos nos passeios havendo folga entre o ‘quero isto’, ‘quanto custa?’, ‘embrulhe’, ‘tome lá, dê cá’.  

 

 

Pontifica na artéria a filial dos Grandes Armazéns do Chiado instalada em 25 de Abril de 1910, ano da implantação da República. Foi modernidade da cidade litoral, vendeu mercearias finas, mudou costumes no trajar, terá enfeitado damas e cavalheiros à moda de Lisboa quando Paris, Londres, Roma e Nova Iorque eram lonjuras inimagináveis que raros conheciam. Cumprido o centenário com festa e folclore, continua dedicada às artes e desempenha valorosa contribuição cultural.

 

 

Ainda na mesma rua, a desordem de estilos ordenada pelos anos. Para a mulher que se embevece com sacadas e ferros e candeeiros e comércio tradicional, que recorda com saudade o esmero dos arranjos florais da Petúnia Florista para alegrias e lutos, cada reencontro é beber seiva duma das quatro raízes.

 

 

No Arco da Almedina, antiga Porta de Barbacã possivelmente construída nos reinados de Afonso III e D. Dinis, está protegida a escultura de João de Ruão. Mais abaixo, a Igreja de São Tiago é acompanhada por escadaria que de cima desce à Baixa Velha.

 

 

Rosas de pedra, trabalhadas por cinzel ágil. É a Rainha Santa Isabel inspiradora de tantos ornamentos floridos com idêntico mote? Na dúvida, sejam colhidas por pupilas focadas no alto.

 

 

Abandonadas presenças do que foram e ainda são, esperam rosas a chegada. O automóvel detém-se. Na quase curva, o fresco de paredes vetustas, conhecidas, amadas, é desejo quando o sol está a pino.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:29
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (7) | favorito

últ. comentários

Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
Olá Tudo bem?Faço votos JS
Vim aqui só pra comentar que o cara da imagem pare...
Olá Teresa: Fico contente com a tua correção "frei...
jotaeme desculpa a correcção, mas o rei freirático...
Lembrai os filhos do FUHRER, QUE NASCIAM NOS COLEG...
Esta narrativa, de contornos reais ou ficionais, t...
Olá!Como vai?Já passaram uns meses... sem saber de...
continuo a espera de voltar a ler-te
decidi ontem voltar a ser blogger, decidi voltar a...

Julho 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

pesquisa

links

arquivos

tags

todas as tags

subscrever feeds