Carlos Botelho
Lisboa, tão bela, depois da Estrela arrisco desgostar-me dela. Inaugurado o regresso com filas de trânsito na curta distância desde casa até outro ninho de afectos, preciso, com urgência que se me não tolde a visão e relembre os encantos da cidade ribeirinha, das colinas, dos recantos ternos que não dos arrabaldes, pensões Estrelinha nocturnas, onde há feiura, lixo e mau no cimento erguido.
Coimbra, lar outro, já piora no terço do caminho andado desde a limpeza e vida simples de Gouveia. Em Lisboa, gaiola que me aprisiona – sentimento por uma vez experimentado há quinze anos num retorno semelhante. Nunca depois com desconsolo tão grande como ontem. Faltam-me lonjuras, sobram «repolhos» que entopem vidraças. Faltam-me “bons dias” de quem não conheço, sobram apitadelas e gestos impacientes. Falta o conforto dos cheiros da terra, as regas do entardecer, acessibilidades pacíficas; transborda na taça desgostosa a secura das árvores que tentam amenizar de modo raquítico a quentura dos passeios separados por alcatrão.
E, Lisboa!, demando entre os liozes, calcários outros e basalto a tua sedução feiticeira. Garanto-me disponível para sentir e rendição. Não peço engodos, apenas que te reveles num novo surpreendente sem rasgares cambraias ou o linho do Tejo onde adormeces nua, ondulante, coberta com lençol de estrelas, afagada pelo rumorejar dos cais e embarcações.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros