Helena de Groot
Partiu para local (in)certo o autor que para sempre introduziu novos modos de escrever. Escrita criativa, diz-se hoje. No Levantados do Chão e no Memorial do Convento, obras primeiras mais divulgadas, era tomada por imcompreensível e extravagante o ajuntamento das palavras e fonemas saídos das mãos de Saramago - mau escrever, tolice, a diferença como valor último desrespeitando a mui estimada, por alguns/poucos, língua portuguesa.
O pesadelo por ora vivido traduz-se na ignorância dos jovens que terminam o secundário ou licenciaturas sob a economia do Bolonha. Consequência: aliteracia generalizada. Antónimo de literacia que jamais caracterizou o povo luso. A pobreza, a ditatura, a pressa dos governos posteriores em alcançarem rankings de sucesso importados, não podiam gerar frutos suculentos. Não geraram. Aprestamo-nos a prodigalizar diplomas de frequência em vez de aproveitamento exigente. Contudo, nascem génios neste povo abandonado.
Chutos na semântica e na grafia, dou muitos. Sendo raro, isento de erros, exame de ciência patrocinado pelo Ministério da Educação e estando em curso os Nacionais, exemplo do «eduquês» que as sucessivas e desvairadas reformas implementaram. Vero, veríssimo, testemunho testemunhado sob formas muitas.
"A professora pergunta ao aluno:
_ Quem escreveu "Os Lusíadas"?
O aluno, a gaguejar, responde:
_ Não sei, mas eu não fui.
Lacrimeja. A professora, furiosa, diz:
_ De tarde, quero falar com o teu pai.
A professora relata:
_ Não percebo o seu filho. Perguntei-lhe quem escreveu "Os Lusíadas" e ele respondeu-me que não sabia, que não foi ele. Entrou em pranto.
Argumenta o pai:
- Bem, não costuma ser mentiroso; se diz é porque não foi. Já se fosse o irmão...
Irritada, a professora conduz a caminho de casa. Paragem. Stop do polícia de trânsito. Olha-a.
_ Parece que o dia não lhe correu bem!
_ De todo! Imagine que perguntei a um aluno quem escreveu "Os Lusíadas", respondeu que não sabia, que não fora ele e chorou.
_ Deixe lá. Chamamos o miúdo, damos-lhe um 'aperto' e verá que confessa!
Ataque de nervos eminente, a professora chega. Pergunta-lhe o marido:
_ Como foi o dia?
_ Um horror! Perguntei a um aluno quem escreveu "Os Lusíadas". Gaguejou. Alegou que não sabia e ele não fora de certeza. Chamei o pai. Disse-me que ele não é mentiroso. A polícia quer obrigá-lo a confessar. Como faço?
O marido conforta-a:
_ Esquece. Janta, dorme e amanhã tudo se resolve. Verás que podes ter sido tu e não te lembras."
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
Em estudos de papel, tinha a quarta classe. Tudo começou tarde na vida do homem que inspirou paixões e ódios. Reconhecimento público aos 58 anos, novo e duradouro amor/paixão aos 63. Foi-lhe dito:
_ Vê o que fazes. Ela, espanhola e pela diferença maior que vinte anos na idade do que a tua, é risco.
Não temeu. Pilar del Rio também não.
A jornalista aventurou conhecer o autor da obra que devorara. Foi a 14 de Junho de 86. Vida comum em 87, casamento no ano de 88. «Recasariam» em 2007 nos arredores de Granada - Castril, terra onde nasceu a andaluza que soube manter vivos enamoramento e paixão. Terceiro casamento, simbolismo ajustado, com a mesma mulher a 3 de Junho de 2008 na freguesia d’Azinhaga quando o nome da enamorada lustrou placa de azulejos orlada a ocre. Endereço da rua esquinada com a de Saramago. Escreveria: «A Pilar que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar». A mulher acrescentou:
_ Que todos os enamorados do mundo se encontrem e dêem um beijo nesta esquina.
Durante os passos nas ruelas da aldeia, vendo idosas lavarem roupa à mão, Pilar disse:
_ Não foram os contraceptivos que libertaram a mulher, mas a máquina de lavar roupa.
Sábias palavras da companheira que deixa Lanzarote e escolhe para lugar de vida a terra onde o enamoramento aconteceu.
Dia 3 de Junho, proponho, seja o Dia da Paixão. Celebrado em Portugal todas as horas do ano. S. Valentim me desculpe - não inclui história de um grande amor nosso e exemplar.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros