Autor que não foi possível identificar
Invade os escaparates das livrarias. Nome insistente nas mãos de todos. Delas, em abono do rigor. Desde que abdiquei, sem alguma vez ter provado, de anos de favas guisadas com chouriço e entrecosto, declarando não aprecio, nem o cheiro!, revi as minhas atitudes defensivas sob comando da intuição. Se favas bem cozinhadas são, afinal, deleite para o palato, por que não experimentar o produto que o homem tanto vende? E arrisquei. "Brida" e "Alquimista" os livros, Paulo Coelho o autor. Tenho de reconhecer que as compras não foram exactamente escolhas, antes falta de assunto num dia cansado. Li de fio a pavio. A cada passo espantando-me com a prosápia subjacente a uma pseudo inovação literária e a minha tolerância ao persistir.
Entre os livros de viagens espirituais que afirma escrever e um guia do American Express, reconheço a eficácia do segundo e a falácia dos «Paulos Coelhos». Promiscuamente expostos em lojas de conveniência à mistura com livros de pensamentos (outro delírio do marketing) e cartões lamechas de ursos abafados em flores. Como leitora não faço ao autor falta nenhuma - nos milhões de devotos contam-se Julia Roberts, Bill Clinton, Shimon Peres e Madonna. É campeão de best-sellers, caso típico do self made man que afirma que o seu «negócio» é o sonho. Nem contesto. O meu é mais a vida.
CAFÉ DA MANHÃ
Ideias originais? _ Nem uma! Tinha de chegar o Paulo Coeelho com samba na voz para convencer leitores a dançar o «forró» com as suas obras.
Van Gogh – “Wood Gatherers in the Snow”
Neva à fartazana em todos os estados norte-americanos. Nem o Havai escapou. Atingido metro e meio de altura do nevão, mais um metro é esperado hoje. Culpam a passagem do vento frio sobre as águas quentes do lago Erie que gerou «nuvem de neve» jamais vista num outono. “Efeito Lago” chamam-lhe. O sucedido é fácil de explicar: o lago transfere calor e vapor de água para a massa de ar fria que congela o vapor. Chegando o inverno a meio, o Ernie congela e desliga a máquina de neve que, por ora, aflige populações.
Não desminto o meu gosto por neve, pelos pingentes escultóricos feitos de gelo que dos muros e telhados pendem. Não desminto a fanfarra que a neve despoleta na minha imaginação. Não desminto o fascínio por livros e filmes, mesmo os mais lamechas, que me teletransportem para cenários imaculados pela brancura que os cobre enquanto trinco maçãs camoesas. Não desminto o mistério sedutor que me rende quando nevão dá sinais – atmosfera branca, translúcida, invulgarmente luminosa cobrindo o longe e o perto, até dezena de metros.
Confirmo ter-me entregue ao poeta Ka inventado pelo ganhador do Nobel da Literatura em 2006, Orhan Pamuk. Confirmo, entre outras veniais rendições da carne e do espírito, a entrega absoluta ao “Branca de Neve e os 700 Anões” escrito pelo irreverente José Vilhena, às histórias de amor e aventuras com filmes de James Bond pelo meio desvendadas no livro “Quando a Neve Cai”, à “Rainha da Neve” de Hans Christian Andersen - fulano extremamente suspeito por ter segredado ao diário a sua recusa em experimentar relações sexuais -, que os irmãos Grimm apimentaram - a rainha má é forçada a dançar até a morte usando sapatos de pedra, quentes como brasas. Bem feito!
Gostei do filme da Disney por ter omitido perversidades canibalescas: no conto original, a rainha pede o fígado e os pulmões da Branca de Neve para servirem de pitéus na «janta». Achei um tédio o filme “Branca de Neve e o Caçador” – nem avançava nem saía de cima. Ri a bom rir com a Julia Roberts em "Espelho, Espelho Meu". Concordei (…)
Nota – Texto completo e ainda quente aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
“Who knew it was so much fun to be a hooker?” é pergunta associada à inesquecível cinderela do século XX, Julia Roberts. Indiscutível o paralelismo entre a versão contada por Charles Perraut no final do século dezassete e o guião escrito por J. F. Lawton aproveitado por Garry Marshall no filme “Pretty Woman”. Neste, homem de sucesso intimida a jovem prostituta Vivian; na história da gata borralheira, existe a omnipresente e cruel madrasta. Ambas, Vivian e a Cinderela, conhecem os respetivos príncipes no baile da vida. Pas de deux na coreografia do tempo o encontro da prostituta com o rico empresário que a contrata como acompanhante. Cinderela e Vivian angulam o percurso ao depararem com mescla de inesperado amor romântico e poder.
Na película, o vestuário da responsabilidade de Marylin Vance-Straker é o aspeto mais visível da progressiva mudança da jovem acompanhante. Como «mulher-da-rua», minissaias, licras, tops acima da cintura, decotes generosos, cabeleiras postiças e botas de ‘vou ali «swingar» e volto já’. Aparência de ostensivo descaro. Aos poucos, adquire postura melhorada a que não são alheios os crescentes afetos por Edward e pelo gerente do hotel. Vivian adquire maneiras, bom gosto no vestir, alivia a maquilhagem e educa, sem perder, a natural espontaneidade. A transformação culmina em Rodeo Drive.
A minha cena favorita é a do Richard Gere (Edward) abrindo uma caixa. Nela, colar destinado a Julia (Vivian) para que aprimore a figura, entre no avião privado e assista ao espetáculo de La Traviata em São Francisco; num repente inventado por Gere, este fecha-a quase entalando os dedos de Vivian. Surpresa, Julia encanta com o riso solto e natural naquele momento como noutros. Não admira que há vinte e cinco anos, tenha sido a girl nest door dos States. Por outro lado, que bem casou o excerto da La Traviata com o enredo! Nada de espanto, poderá argumentar-se, ao ser dito, como quem não diz que disse, que o guionista buscou inspiração no libreto desta ópera de Verdi baseada no livro “A Dama das Camélias” de Dumas.
Sem a perfeição corporal exigida – nalgumas cenas teve a body double Shelley Michelle –, Julia Roberts fascinou pela jovialidade e pureza. O já antigo tema musical de Roy Orbison,”Oh, Pretty Woman”, viria a batizar o filme. Garry Marshall não podia ter encontrado melhor padrinho.
CAFÉ DA MANHÃ
A minha cena favorita do "Pretty Woman" O único vídeo de "Oh, Pretty Woman”disponível para blogs
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