Mark Arian
«Lele, panilhas, veado, roto, mariolo, maricas, larila, maricon, afrescalhado, ventilado». Significados do mesmo - homossexual. Alguns com graça. Sendo para eles isto tudo na gíria do povão, nós merecemos pouco: «gaja, gajedo, fufa, sapatona e o genial grelame». Não apreciando discriminações, tenho para mim que tal desigualdade tem a ver com a ancestral borracha que à mulher apagava direitos - reprodutoras, sim, pessoas inteiras não. Cumulando, aquelas e outras designações passavam à boca pequena - masculina, está visto! - de geração em geração, uma ou outra acrescentado um ponto no conto. Ainda agora, no linguajar feminino e mais brejeiro, não nos aventuramos muito para lá do «gaja(o), fufa, maricas e larila». Definitivamente, umas senhoras! Podemos usar jeans, ser libertas, quiçá libertinas, mas, bem no fundo, ainda não nos despedimos das pérolas e do saia-casaco.
Dos saldos económicos fartámos - invariavelmente negativos. Vamos a outras contas, outras realidades sem as quais a vida extinguir-se-ia. Proponho cálculo mental: casal regular e ativo na conjugalidade. Façamos conta à modesta regularidade bissemanal de vinte minutos cada (nada de vagares que o amanhã também é dia e o cansaço e o sono não autoriza mais): 2 x 20 min x 60 s = 3600s. Ao ano: 3600 x 52 = 187 200s. Com uma frequência média de 1s e reduzindo à unidade SI de comprimento: 26 740 x 17cm = 454 580cm. Em quilómetros e com aproximação à dezena: 460km ao ano. Isto por cabeça feminina. É obra!
CAFÉ DA MANHÃ
Julianna
No começo, adrenalina do novo, da descoberta dum ser, do caldo fervente que mistura emoções revisitadas, talvez esquecidas, talvez alojadas no canto dentro julgado com ferrolho cuja chave o tempo perdeu. Num momento inesperado - é quase sempre assim! – a chave está na mão que toca outra, no olhar silencioso que subverte o instante e conduz arrepio à pele e torna ébrio o sentir. E os seres misturam emoção com amor, amor com paixão, paixão com vida toda. Cantam almas e corpos até de dois ser feito um. Continuam a folia traduzida no brilho dos olhos, juram, convictos, o ‘para sempre’.
Inexoráveis, sucedem horas e dias e meses, anos, quiçá. Sorrateiramente, espia a rotina no seu jeito de borracha dos sentimentos que vai substituindo o desenho inicial por um deslavado de intensidade. Mas fica a posse, as palavras, gestos repetidos sem porquê salvo terem o outro como sentido de vida à maneira de seguro que garante cobertura de estragos se os dias entortarem. Sobrevém o cansaço com capote largo a encobri-lo. É redito o amor por um ou por ambos. Mas não – somente acata o pagar do seguro.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros