Kathleen Scarboro – Sharing
Por onde andas que tão poucos te encontram? Que forma tens para muitos não te reconhecerem quando partilhas a casa que os abriga? Falasses, murmurasses ao ouvido “estou aqui, ao teu lado” e talvez te vislumbrassem. Talvez o olhar rodasse. Talvez lábios entreabertos num sorriso luzido. Talvez dias/tesouros. Talvez doenças se esvaíssem. Talvez o mundo girasse ao contrário por desse modo ser entendido.
Tantos te associam a haveres e a ausência de deveres. A desejos (ilusões?) satisfeitas no instante em que arribam. A lâmpada de Aladino sempre a brilhar. Mas, para isso, quem assim ideia a felicidade teria de ser distinto dos demais. Só o poucochinho dos seres faria deles espécie outra. Alojaria nas curvas cerebrais a convicção de privilegiados. Que muitos têm e não sabem. Porque vivem no negrume. Cega-os a desesperança metódica, implacável. Solidariedade como palavra vã – não lhes acresce bem-estar imediato; maçada que não apetece.
Dar de si o melhor em cada dia passado, é futuro prometedor. Entender que o lugar-comum “a saúde e os afetos são o que mais importa” é, afinal, verdade insofismável. Que família calorosa, que corpo sem células guerrilheiras e assassinas são bens que descontam achaques e miudezas. Porque ao chegar a tristeza, e chega sempre, a noção de felicidade séria não é mera panaceia. É remédio. Seca lágrimas, cura chagas da alma, dá sentido a um corpo mutilado, à sobrevivência quando paira a ameaça real de amanheceres precários.
CAFÉ DA MANHÃ
Afirma a pintora contemporânea Kathleen Scarboro: _ "A vida é magia, mas, frequentemente, esquecemos isso. Parece-nos repetitiva, vulgar quando é surpreendente e este mundo complexo. Não quero esquecer o mistério no centro de cada ser vivo. Adoraria redescobrir a vida cada manhã. É o que fazem as crianças e é razão de serem tão apelativas. O ideal seria combinar a frescura duma criança com o poder de ação de um adulto."
L. Willey Muslim Kathleen Scarboro
Lembrar não é demais. O reconto. Neste dia do ano de 1857, iniciaram greve as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque. Ao ocuparem-na, reivindicarem encurtar para dez horas o horário de trabalho, até ali, superior a dezasseis por dia. Operárias com salário inferior a um terço do recebido pelos homens. No incêndio durante a clausura, 130 morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional feminina na Dinamarca, foi decidido homenagear as vítimas; dali em diante, 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher”. Por via dele, pretendiam realçar o papel social e a dignidade da mulher, contestar preconceitos e limitações. Objetivos que serviam e servem toda a humanidade, contribuindo para a paz social.
Corajoso o gesto de há um século atrás. E hoje? Tem sentido a evocação perante o percorrido do ponto de vista legal e coletivo? Continua intacta. Pelos milhões de mulheres que habitam África, Ásia, Oceânia em sentido restrito e muito por todo o lado, a luta de todos por todos tem de continuar. Nem as mulheres ocidentais dos países classificados como desenvolvidos ou em ‘via de’ estão a salvo da continuada discriminação na política, salarial e no trabalho doméstico.
O "Dia Internacional da Mulher" soa a provocação ao evocar memórias funestas que o presente desdiz, afirmam muitos com ‘barriga cheia’. Contrario: podia e devia ter nova abrangência e batismo esta comemoração centenária – "Dia da Desigualdade entre Géneros". Referências institucionais pouco dizem quando desacompanhadas de mudanças efetivas.
Orgulhosa da minha condição, consciente do privilégio da ausência de queixa individual neste particular, atribuo preito a todos os excluídos do respeito que a Pessoa merece.
CAFÉ DA MANHÃ
Kathleen Scarboro
Seja pelas vidas esforçadas, por comodismo, ou ambição de mais e melhor para os filhos, os portugueses diminuíram a procriação. A manter-se a situação atual, Portugal perderá dois milhões e meio de habitantes em cinquenta anos. Uma em cada duas crianças nascidas em Portugal são filhas de emigrantes. Não fossem eles e o país teria atingido de forma mais abruta a contagem decrescente da população. No ano passado, nasceram dez mil crianças filhas de estrangeiros que neste retângulo marginal da Europa assentaram arraiais.
Nas escolas, é significativo o aumento de alunos com nacionalidade estrangeira. Os muçulmanos que frequentam a escolaridade básica e secundária, têm dificuldade na integração. Voz amiga reportou ter sido posto à prova numa turma que lecionou no ano letivo findo; estavam inscritas duas muçulmanas que não falavam qualquer língua exceto a dos pais e avós. Era suposto aprenderem a ciência exata onde estavam inscritas. Não faltaram a uma aula. Do início até ao fim do ano letivo, copiaram, durante os tempos letivos, o Corão. Em contrapartida, os ucranianos adaptam-se com facilidade à língua portuguesa e teimam na rápida aprendizagem tendo o dicionário sempre à mão. Brilham nas aulas e atingem o nível da excelência. Quando indagados sobre a razão, a resposta é, invariavelmente, a mesma: “aqui é exigido pouco comparado com o regime de rigor no desempenho que tínhamos no país natal.” Croatas e moldavos dizem o mesmo. Reluzem nas pautas que listam as classificações.
Os chineses inseridos na escolaridade portuguesa apresentam dificuldades em relação às turmas e ao português. Em contrapartida, deixam longe os demais alunos nas disciplinas de Matemática e Educação Física – não é exclusiva responsabilidade do governo Chinês o brilharete nos Jogos Olímpicos e na computação.
Quem são, afinal, os portugueses? A história testemunha o lusitano e ancestral apetite por descobrir e conhecer novos mundos. Imigrámos, miscigenámos outros povos e foi chegado o tempo de recebermos emigrantes que chegam idênticos na esperança aos portugueses fugidos à miséria e aos horizontes curtos dos anos sessenta e no dorido presente. Levantar o espectro da relação criminalidade/emigrante é fácil. Difícil é fundamentá-la com rigor. E quem, apreensivo, vê a chegada de estrangeiros e os julga destinados a trabalhos menores, esquece que na investigação científica, em trabalhos diferenciados técnica e culturalmente, nas artes, muitos são os que ocupam lugares de mérito.
É justificado receio não quando nos procuram, mas quando partem. Dados recentes confirmam esta tendência. Diminuídos fluxos migratórios para Portugal, é provada a recessão (opressão) da nossa economia. Nesta conjuntura do país, respeitar e acolher com dignidade emigrantes, é investir num futuro menos severo para todos nós.
CAFÉ DA MANHÃ
Alex Alemany Kathleen Scarboro
Helena Kadlcikova Autor que não foi possível identificar
Dia soalheiro em que a pequenada é rainha. Na parte do mundo tomada por desenvolvida e em paz, se bem que podre na maioria, ainda existem condições para ofertar às crianças momentos felizes. Na parte do planeta em guerra ou por razões outras excluída dos direitos fundamentais de qualquer ser humano, os mais novos em particular, escasseiam oportunidades para alegria genuína diária no hoje.
É imperativo lembrar que a dependência dum futuro equilibrado da humanidade reside no feito tendo em vista a dignidade e o amor devidos aos mais pequenos desde o nascer.
CAFÉ DA MANHÃ
Kathleen Scarboro
- Resgatados 19 mineiros soterrados em mina polaca devido a sismo.
- Vulcão indonésio Lokon voltou a entrar em erupção.
- Al Qaeda reivindicou atentados no Iraque.
- Malásia acusou oito seguidores do sultão de Sulu de terrorismo.
- Antigo ditador da Guatemala começou a ser julgado por alegado genocídio.
- Frota da Sea Shepherd regressou à Austrália reivindicando vitória sobre o Japão.
Estes são os títulos que na mesma página acompanham a notícia da decisão da ONU ao estabelecer 20 de Março como Dia Internacional da Felicidade. Valha-nos o bom senso do senhor Luciano Espósito Sewaybricker ao reconhecer o óbvio: não existe segredo para a felicidade, não existe sob a forma de pílulas à venda na farmácia, não é o consumo que a inclui no embrulho. Mais disse: _ “Atualmente, ser feliz tornou-se um peso. Temos que ser feliz. E quanto mais as pessoas querem ter a felicidade, mais elas se vão sujeitar a uma felicidade simplista. E esse movimento é potencializado face ao contexto em que vivemos, de uma sociedade que se organiza em torno do consumo.”
Incontestado é em Portugal e neste mundo caótico, as gentes raramente poderem fazer o favor de serem felizes’.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros