Terça-feira, 29 de Março de 2011

À VOLTA DO BURRO QUE SUBIU O ‘CÂNTARO MAGRO’

Victoria Moore, Kristin Abraham

 

Houve menina que bem conheci. Fez-se mulher. Privou com avós e bisavós e ‘tios-bisavós’, mais tios-avós até idade adulta avançada. Teve infância pobre à conta da falta de irmãos e primos directos - respeitasse o novo acordo ortográfico e escreveria ‘diretos’ - desde três gerações; rica pela família que a gerou (o ‘rico’ não significa óbvio – tem a ver com experiências inusitadas de que guarda memórias d’ouro).

 

O avô era músico autodidacta. Lia pautas como criança industriada que, de cor, repete tabuadas. As filhas cantavam primorosamente, eram prendadas em artes várias (domésticas incluídas). Uma foi p’ra freira e conservou a tradição de cada camada geracional contribuir com um ou mais elementos para casório divino. Pelos muitos castos(?) da família, houve descendente única. Transviou – não fez votos de castidade e de pureza ou pobreza. Insubmissa, escolheu trilho diferente dos mandadores: o comum. Nunca se arrependeu, mas venera crítica e afectuosamente donde e de quem veio para o mundo.

 

De regresso ao avô - viajar para tempos mais recuados dava livro e não crónica. Compunha músicas e letras/poemas. Amante da mulher que lidava com o quotidiano e do marido/amor respeitava utopias, teve casamento feliz por décadas até se despedir da vida. A mulher, namorada sempre, sobreviveu-lhe um ano. Primo exímio em guitarra mais colegas tocadores da canção coimbrã eram visitas da casa. Desafiavam-no para serenatas e tocatas até horas-meninas da madrugada, para aventuras como fazer serenata no cimo do Cântaro Magro; quem o conhece de longe vislumbre a aventura. Burro atestado com víveres, violas e guitarras subia com eles. Loucos deliciosos!

 

Nos estios, noite chegada, a casa vibrava com acordes. Tertúlias que arrebatavam amigos e personalidades de artes várias. Uma delas, Irene Lisboa, a menina já não conheceu mas leria a obra em que desancava tias-avós. A pequenota levantava-se pé-ante-pé, sim, porque era mandada cedo para a cama, e, sentada num vão da escada roendo maçãs, ouvia e ria com as anedotas, as picardias sobre política e literatura que intervalavam música.

 

A mulher não herdou talentos - limita-se a fazer uso menor do aprendido no regaço meigo da família.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:27
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