Sexta-feira, 8 de Julho de 2011

ACERCA DE SILVEDOS E GALO COM NOVA CANTORIA

Lorie Merryman, Philip Howe

 

Quem ama a descoberta dos nossos recantos mais ignotos, quem não troca por turismo de plástico exterior descobrir quilómetro a quilómetro Portugal, tem inevitável desgosto pelo abandono dos solos agrícolas onde a vista se perde. A desertificação é facto impressivo; causas conhecidas. O litoral ajouja com gente vinda do interior, expulsa pela pobreza ou à cata de trabalho nos serviços e empresas. Passado o tempo d’ouro em que a Europa nos enchia cofres não aproveitados com racionalidade pela visão lúcida do longo prazo nacional, o desemprego e a pobre qualidade de vida sobrevieram para aqueles migrantes. Entretanto, ficaram improdutivos os campos, pasto para incêndio as florestas por cuidar, instalada a dependência dos bens alimentares importados.

 

Tivéssemos investido na mecanização agrícola, adaptado culturas a cada região, fundado cooperativas fortes nas mãos dos produtores que garantissem o escoamento directo das colheitas para o consumidor, o galo cantaria de outro modo. Feneceriam os intermediários safardanas que se aproveitam do pântano onde se debatem os agricultores.

 

Mas estamos a tempo. Copiar boas práticas é prova de inteligência. Aliando o gosto de reflectir sobre o defendido por quem nas diversas matérias prova saber mais, o exemplo nórdico merece ser pensado. Por lá, inexistentes campos onde o silvedo invade cada metro quadrado. Simples a solução tomada: proprietário que não trabalhe a terra é taxado duramente. Incomportável o pagamento do imposto, é confrontado com a necessidade de vender. Compra quem se dispõe a rentabilizá-la. Apoiados através das cooperativas, vendem directamente às grandes superfícies. Sendo preferencial a produção interna nos abastecimentos, lucra o agricultor, o povo que consome, o país. E, em vez de cemitério de velhos desamparados, penedos carecas, manter-se-ia vivo o interior rural, convenientemente apoiado ao nível da saúde e da educação. Utopia? Nem um pouco! Se com meia dúzia de meses de gelo por ano é possível, porque não neste mediterrânico clima?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:52
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