Pierre Farel
"Pois é Maria...
De ‘partícula em partícula’, cheguei aqui, a este lugar para mim desconhecido mas por onde já me passeei.
De facto não encontrei nem a inveja nem "o resto" mas sim o estilo franco e habitual que já conheço.
Nem de propósito deparo com uma imagem que faz disparar todos os alarmes. Um homem e uma mulher fazem parte do encantamento da minha idade jovem, de um tempo em que descobria emoções e músicas e um desejado bom gosto.
Na altura adorei o filme, a música, o cão a correr na praia, o almoço com os miúdos, as mãos ansiosas, a corrida de Monte Carlo a Paris, e sobretudo o poder dos olhares, enfim um tratado de sedução devastador. Vi o filme do Lelouch (nunca soube se o ch se lê ou não) mais do que uma vez.
Passaram muitos anos.
Às vezes falava dele cá em casa. Há poucos anos, os meus filhos que nunca viram o dito, encomendaram o DVD que veio diretamente de Paris e ofereceram-me no aniversário.
Toquei no DVD como numa joia rara.
Depois tive medo, medo de inquinar uma memória tão deliciosa. Medo de que me parecesse ultrapassado, lamechas, sei lá.
Um dia enchi-me de coragem. Nenhum desencanto. Saudade apenas, confortei-me. Estava lá tudo o que me tinha encantado. A descoberta da bossa nova pelo marido duplo de cinema, sarava! Até isso. Um documento.
O ano passado, o filme AMOUR traz-me um Jean Louis, outrora "perfeito" envelhecido prematuramente... amando com o mesmo carinho, a mesma dedicação até à decisão heroica e controversa.
Até escrevi “por aí "sobre isto.
E assim... a prova de que de facto, o tempo passou...
Indiferente... apenas indiferente.”
Agora, escrevo eu. Obrigada, “Era Uma Vez” cujo rosto glorificado por sorriso aberto não esqueço. Escreve muito, muito bem. Põe a alma nas teclas. Não oculta o íntimo nem utiliza subterfúgios cínicos. O meu endereço de e-mail está ao cimo desta página. Atrevo-me a fazer-lhe um convite – escrever aqui sobre o que bem ou mal lhe apeteça. Teria muito gosto.
CAFÉ DA MANHÃ
Andrew Valko
Ficciono, vivo, (re)conto e escondo. De tudo, muito. Como hoje aqui.
No chão, pegadas de cetins e rendas. Almofadas selvagens espalhadas no atirar do que está a mais. Enrodilhadas cobertas e mantas coloridas, parte/mancha da decoração. Chinelas de salto médio, pedrarias incrustadas, espaçadas no corredor. Despojos e testemunhas. Viram e silenciaram. Mas lembram. Insistem. Repetem a gula daquele e doutros momentos vívidos vividos. Porque a “liberdade é maluca e sabe quanto vale um beijo”. Muitos beijos em que, insolente, declarou presença.
Entre eles, o sempre. Dela, o “nunca mais” ocasional desmentido pela glória partilhada em espaços repetidos. Diferentes. Anos correm, e les vieux amants tão juvenis como no primeiro andamento. Recordam “Le Mépris” de Godard e a tragédia em Capri. Trauteiam a banda sonora de “Un Homme et une Femme” assinado por Lelouch. Nas teclas, o livro dele.
Há harmonia que é música ou peça de vida/teatro/filme em construção. Ele conhece os lugares do corpo e da casa. Ainda aberta na cama, ronrona enquanto ele tira o primeiro café da manhã. E multiplicam histórico, afagos, sentires e discordâncias. E riem do leviano débil que cola em vez de dividir. Conhecem o sabor das chegadas e do adeus sem ruturas ou lágrimas. Felizes ‘o cheguei e parti’. No a dois/presença, também.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros