Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2014

DA MINISSAIA AO DERBY MOURO NO ESTÁDIO DA LUZ

 

 

  

Greg Horn                                                                     Autor que não foi possível identificar

 

Rosnava o “Antigo Regime”. Em Coimbra, passei da primária para o rígido Liceu Feminino Infanta D. Maria. O ‘Infanta’ ou ‘D. Maria’ como era chamado tinha instalações de privilégio. Porém, e não me lembro do porquê, altura houve em que aulas decorriam em anexos/caixotes cobertos com chapa de alumínio e separadas as salas por tabiques que pretendiam ser isolantes térmicos e acústicos. Todavia, não eram nem uma coisa nem outra: os painéis, deteriorados, expunham curiosa matéria que se dividia em mil pedaços semelhantes a finas lâminas translúcidas. Soando a campainha para intervalo, as alunas entretinham-se a puxar mais e mais do revestimento. Brincadeira diária e repetida de cinquenta em cinquenta minutos. Fomos proibidas de o fazer pela instrução de perigo terrível. Mas continuámos. Antes isso que ser alvo das torturas da Maria dos Craveiros que, além de jardineira voluntária, era vigilante tenebrosa dos comportamentos. Lembro-a zelando pelo vestuário das alunas – minissaias e calças proibidas, o mesmo com pernas nuas chegado o calor de ananases por volta de maio e junho. No Inverno, arribando o frio da Estrela, batas por cima das saias, saias por cima das calças. Meias obrigatórias ainda que calorões apertassem. Três hipóteses neste particular: soquetes, meias pelo joelho ou de vidro. Tendo dúvidas, a Maria dos Craveiros beliscava as pernas. Outras funções cumpria a mando da reitora: zelar para que nos corredores escolhêssemos direita ou esquerda conforme o destino e que nem uma aluna se aproximasse do muro que nos separava do corta-mato por onde desciam, terminadas aulas, os rapazes do liceu masculino. Estes obrigados a permanecerem a mais de cem metros dos limites da escola. E permaneciam. E nós sabíamos. E, quando libertas, os amores aconteciam. Certo é ter chegado à faculdade com meias pelo joelho, sapatos de verniz rasos e abotinados, saia ‘kilt’ a lembrar cinto largo, maxicasaco preto com fenda atrás até à cintura.

 

Desta arenga, sobra o que me traz aqui – lã de vidro. É material que começou a ser utilizado na década de 1930 sob a forma de filtros para a indústria. Posteriormente, serviu para isolamentos contra ruídos e temperatura. A fibra de vidro, nome comercial,  descreve produto manufaturado a partir do vidro e convertida numa teia fibrosa. Mais tarde, seria conhecido que as pequenas lâminas constituintes nada mais são que pequenos alfinetes que o tecido pulmonar atrai. Quando inaladas, ao redor de cada espetadela, micro infeção. Muitas implicam doença oncológica dos pulmões. Se em contato com a pele os riscos existem à mesma. A condição primeira do uso da lã de vidro é não ficar em ambientes aeróbios, ou seja, onde possa haver circulação de ar. Por isto, é utilizada em divisórias, revestimentos e tetos, devidamente calafetados. Curioso é recordar terem sido desmantelados pela periculosidade os contentores em que tive aulas e continuar em uso a lã de vidro. O Estádio da Luz como exemplo até ao expoente da 'Stephanie'.

 

Desde ontem, que ninguém se entende quanto à natureza do material caído em farripas no relvado. Começaram por lhe chamar lã de rocha. Acabaram (...)

 

Nota: texto completo aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:17
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