Lisa Fittipaldi, Richard Franklyn, autor que não foi possível identificar
Tenho-me como previdente – de si, cada um constrói imagem desejada que o ego não rejeite. Ainda o final do ano vem longe e já congemino noite especial – no mínimo, é hipótese de estar viva no novo. Nada de muito diferente do sentimento experimentado na celebração de aniversários: ‘este já cá canta, venha outro!’ Triste, arrisco, é não alojar esperança no advir, ainda que no tempo corrente a «crise» tenha sido rebatizada como miséria para fração graúda dos portugueses. Os poucos com a sorte de ainda terem umas moedas nas algibeiras remoem como preservá-las. E se distribui-las por quem precisa é pontual, outras opções mais consistentes existem: não estando, por ora, o tempo livre sujeito a tributo, melhor dedicar algum no minorar de males alheios. Pensares assisados.
De torno às congeminações que o frio e a chuva outonais, mais a neve que branqueou a Estrela desafiaram, ilusionei. Passar a 2013 é comummente tido por mau augúrio económico. Assim sendo, contenção, contenção, contenção sempre e na noite em que fina 2012 de má memória. Máquina calculadora em punho como arma pragmática, três hipóteses:
- jantar doméstico limpo de exageros na casa de Lisboa, música boa, risos dos amados;
- o mesmo na casa da Estrela com os acrescentos de amigos queridos que o espaço legitima, lareira acesa e dos cumes possivelmente nevados ali tão perto;
- viagem curta, cinco dias chegam, a cidade europeia por desbravar. Vantagem: descanso.
A máquina de calcular somou para cada hipótese as despesas. A primeira ganhou por larga margem. Senão: fica o dia primeiro sujeito à neura costumada pelos rituais de sempre. A segunda, tentadora, somando desde combustível, a portagens, à paga extra da funcionária que atende o casarão, aos ‘comes e bebes’ aumentados, o total resvalou. A terceira, vasculhada a «rede», desenhou contornos de competitividade com a anterior pela modéstia dos preços obrigada pela conjuntura. Arreda o espírito blue do arranque de Janeiro, combina novidade e aventura. Com sorte, neve no cenário. E depois, sendo 2013 tão árduo como se configura, o melhor é recebê-lo com alegria enquanto cueiros o vestirem.
CAFÉ DA MANHÃ
Judith Forrest, Lisa Fittipaldi – Lisbon
Semana que começo na ignorância dos realces informativos dos últimos dias. Vai sendo hábito quando situações importantes se agigantam. Há que vivê-las, resolvê-las ou, no mínimo atendê-las. No tempo de fruição que resta, escasso, entre os prazeres comuns observar quem passa ao redor, os gestos anódinos de gente anónima. Ler o visível, fantasiar o invisível. Tomar consciência dum povo cujos ancestrais foram pobres, transmitiram em herança pobreza suavizada nalguns casos, noutros a mesma que os afligiu. A conformação, a capacidade de sofrimento, a desesperança. E dói que gente boa viva com o fito único de trabalhar, de levar alimento para casa, sem que alguma largueza alivie quotidiano sofrido.
Ideio que tudo está ao contrário: _ trabalhar para viver com dignidade, sim, não o inverso. Mas é neste último paradigma que por cá e noutros mui desventurados cantos pobres do mundo as pessoas desfazem os dias. Interiormente, desmoronam-se pela injustiça de estruturas desmioladas que as têm governado, distraídas da equidade social como decisivo factor de paz. E olhares embaciados mereciam reflectir luz, erectas as espinhas curvadas pelos desmandos dos mandadores.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros