Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014

A MINHA FRÁGIL TRASEIRA

 

 

 

Liudmila Kondakova – “Daybreak on Seine”                                                                                      René Magritte

 

Há uns anos escrevi isto. Nem obrigou a revisão minuciosa – continuo a pensar o mesmo. Que siga então.

 

Considero os automóveis os eletrodomésticos mais caros que já possuí. Por eles desembolsei balúrdios para a serventia que lhes dou. Atestados, são em tudo diferentes de um camelo – só têm uma bossa e escoam sem parcimónia o alimento. Piores que um gigolô por conta, presumo, por jamais lhe ter utilizado os préstimos. Perdoado me seja o desvio, mas gostava de saber à conta de quê se valorizam os “acompanhantes encartados” quando canasta sexual não é opção. Serão cultos e galantes? Lindos e polidos? Sendo tudo isso, o que, além do dinheiro, os motiva na «profissão»? Se bovinos de espírito não há «V» do físico cultuado nos ginásios que compense, digo eu. Para satisfazer cliente lasciva, bem podem acartar nos bolsos leite condensado e chocolate líquido – li isto algures e pasmei. Fosse comigo e, ao ver tal fornecimento, levava o homem para a cozinha e punha-o a bater claras após testá-lo na separação das gemas. Mediana mousse dali havia de sair, porque culinária como ingrediente indispensável a «cama boa» pretextam-me farta risota. Sem ofensa, juro!, mas o “Nove Semanas e Meia” já lá vai há um ror de anos e ainda sobrevivem resistentes apegados ao chantilly ou ao iogurte de morango.

 

Como condutora sou sofrível. Dou para os gastos, como soe dizer. Odeio buzinas, sou rabina e expedita, sem mimar por aí além os cavalos e a carroça. Circulando em autoestrada, irrita-me sentir veículo colado à traseira. Vai uma honesta cidadã empenhada numa ultrapassagem a 130km/h – ouvi serem dez quilómetros margem de consentida tolerância -, a via da direita repleta e um energúmeno pressionando a dianteira contra a minha frágil traseira. É lá coisa que se faça? Fartei-me! Adeus aceleração de cedência à pressa alheia. Que esperem. Que aguentem. Que esbracejem. Apenas regresso à direita quando segurança avisto.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:25
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Sábado, 12 de Outubro de 2013

A CAMINHO DA SAUDADE

 

Liudmila Kondakova - Daybreak on Seine                                                            Pierre Marcel

 

Daqui a instantes, o caminho repetidamente corrido levar-me-á à casa de que farei saudade. Na segunda, estará nua. Subirei até à Estrela com o coração apertado. Ali, o entusiasmo pelos arrumos suavizará a mágoa.

 

CAFÉ DA MANHà

 

publicado por Maria Brojo às 06:33
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