Lluis Ribas – da coleção “As Cores do Branco”
Calor, férias, praia, amigos, ondas, corpos, areia, frutos do mar. Ilusões, afetos, desejo, sonhos, mudança, risos, noites de luar. Não apetece seriedade. É legítima a ociosidade. Estar dispensado de normas e regras e interditos. Ser frívolo sem sofrer chibatadas alheias ou do próprio. Correr atrás do nada com os pés imprimindo areia molhada. Olhar à volta e omitir o que não é belo ou afável ou gracioso. Esquecer que no resto do ano muito é feito por obrigação, outro tanto porque sim, raramente porque não. Deixar que o pó se deposite em paz. Dispensar pontualidade e disciplina e método e ordem patológicas por não acautelarem o tempo de ‘ser’. Acordar cedo se a espertina vier e fruir do prazer de caminhar quando ainda dorme quem não trabalha e o dia respira, suavemente, desencaracolando os dedos e a mente após a noturna evasão.
“Dispensar o que agride” – primeira regra de um tempo que se deseja sem elas. Difícil tarefa a de desgrudar hábitos servis que impõem abdicar de fração do «eu» quando é de férias o falado e não combina com tarefas ou mandados.
“Fazer o apetecido” – legítima aspiração para recorte pequeno num ano tido por longo, somente encolhido por volta do Natal. Adiamos o que apetece mesmo em tempo de férias e pelo final do interlúdio pouco foi cumprido. Por adiamentos vários nem os frutos do mar saboreámos – mexilhões, surfistas, lagostas, harmonias de curvas andantes, búzios, nadadores salvadores calados e o bartender bem falado, ostras, as bondades dos deuses em forma de simplicidade, entardeceres abençoados, gente linda, inteligente, humorada, risonha, bronzeada, desejável e desejando. Ainda bem! Alergias a mariscadas e similares é, além de grave, maçada.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros