Lorenzo Sperlonga
Porque a semana surge intrincada com a greve das transportadoras, a procissão de crentes liderados pela CGTP nas ruas de Lisboa, a instabilidade social pelo «pacote 4», apetece frivolidade que alivie desprazeres. Segue junta.
Sendo dada a rejeições de locais confusos, ruidosos e entupidos por excesso de cabeças, não entro em centros comerciais. De cinco em cinco semanas, abro excepção – a Guida mudou-se para cabeleireiro sito num deles; sigo-a. Profissional competente, sem peneiras de «mete nojo» como soe quando a conta é directamente proporcional aos arrebiques do lugar.
Para fugir à moléstia, marquei para domingo, manhã, cedo, o embate. Hora, mais meia doutra, estava despachada. Apresso a saída. A caminho do estacionamento, passo pela loja onde me abasteço do chá preferido e que deve durar no armário tanto como o arranjo do cabelo. Desprezei talão e saco; chá directo para a mala. Sempre em corrida encho-me de coragem e no «hiper» compro nozes que, havia dias, apeteciam. Parcos metros faltavam para a salvação, outra urgência veio à lembrança. Pé ainda fora, outro dentro da loja, já o alarme apitava. As meninas emp(r)oadas olham-me de soslaio e recomendam nova tentativa. Obedeço. Recomeço. O mesmo. Uma das empoadas sugere um talvez: objecto não desmagnetizado. Retorno à loja do chá _ passam-no, novamente, pelo aparelho. Saio e nada apita. Entrada na loja das meninas empoadas – a comédia persiste. Queixo erguido, passo firme, retiro o objecto. Pago. A desconfiança das meninas continua. Uma delas, teimosa, pega no chá e vai à porta. Idêntico estardalhaço. Experimenta com as nozes – nada. Leva a mala aberta – ensurdecem os guinchos e eu arregalada. Pergunta se a minha roupa era de meia dúzia de lojas que enuncia _ É que, sabe, nessas marcas os tecidos podem magnetizar-se sozinhos. Flamejaram-me os olhos pelo disparate e insolência. _ Que nada vestia em estreia, mas não lhe competia saber disso. Mira os sapatos: _ São novos? Pelo reactor interno que explodia, costas voltadas, ouço: _ Se vai fazer mais compras é melhor avisar. Avalanche de palavrões à beira das cordas vocais; contive-a.
Dez metros adiante, descida para as catacumbas irrespiráveis. Acciono o comando do carro. Nada. Imagino o pior – falta de bateria. Tento abrir com a chave. Não cabia. Aparece o dono e atamanco o óbvio – enganara-me no veículo. Lugares adiante, lá estava o servo com rodas. Fujo. Só no ar livre, abro a janela e vomito repulsa. Vejo a hora: em vinte minutos após Guida, a cascata de absurdos.
CAFÉ DA MANHÃ
Lorenzo Sperlonga e Mark Sparacio
“A população mundial precisa de 1,4 planetas para cobrir a actual procura de recursos naturais. Cada cidadão americano «ocupa» o dobro do espaço utilizado por um europeu e um europeu o triplo do que necessita um africano.” Tanto para tão poucos! A estimativa não é novidade; complementada pela crise económica, obriga a (re)pensar o actual way of life do Ocidente. Quando parte ínfima da humanidade requisita para uso fracção maior da Terra, a humanidade faz o pino e persiste no ‘pernas para o ar’.
Prova esta pirueta, o badalo ontem chocalhado: os americanos no Afeganistão custeiam os talibans. Desembolsam milhões de dólares a troco da segurança no transporte dos bens necessários aos guerreiros made in U.S.A.. Alvoroço inevitável nos patrícios sob o pano com stars and stripes. Resta o facto: inimigo financia inimigo. Máfia «soprana», máfia soberana. Série com sucesso nos ecrãs transposta para o palco real.
Quem dera insensibilidade aos (e)feitos dos mandantes nas relações internacionais que as guerras fazem e contaminam! Mas não – cidadão do mundo queda-se. Fica absorto pela pintura descascada. Olha à volta e condiz o que presumia condizente. Malvada perversidade em que o ser comum é vítima e culpado!
Porque hoje giro ao contrário, mais do que o escrito seria além do Além.
CAFÉ DA MANHÃ
Ocorreu escrita acerca de Bento XVI. Denunciou, ontem, “a inércia da hierarquia católica irlandesa, manchada por actos de pedofilia”. Há anos, pontificando João Paulo II, o muito amado - incluo-me -, a Arquidiocese de Los Angeles pagou 660 milhões de dólares a meio milhar de vítimas de abuso sexual quando menores. “A Diocese de Detroit foi à falência pelos actos cometidos por sacerdotes acobertados por bispos”. Mais tarde, biliões em libras e dólares pagos, como se metal vil compensasse sofrimentos. Tristeza, uma entre algumas, que outras igrejas e a Católica propiciam aos devotos por fé, que não pelas posturas hierárquicas.
Parei. Rebolados e sambas não propiciam seriedades. Clicado o Facebook, mais houve para saber. Li:
_ “O sonho de Teixeira dos Santos é ir para Governador do Banco de Portugal, mas parece difícil com o ano que vamos ter. Vitor Bento seria escolha de abertura.”
Resposta alheia:
_ “O Paulo Bento. Esse sim, está sem trabalho.”
Minha:
_ “«Me desculpem, vai», mas vou na hipótese do J.V. O homem foi leão valente. Para o BP somente por tampa/tacho, esquife à vista!, ou por bravura carimbada.”
Última:
_ “Árbitros profissionais exigem aumento dos subornos todos os anos”.
Resposta:
_ “Assim não dá! Uma mulher tenta escrever coisas sérias, vem aqui numa rapidinha, e dá com esta.”
Riso solto e desandou a (pouca) inspiração.
Demorei - alergia a redes sociais -, mas reconheço: desde há pouco, fiquei adepta do Facebook. Razão: é um ‘te avias’ de ideias e humor. Saídos do forno, pareceres de fazedores de opinião. Nunca da minha – preciso de juízos meus. ‘Você lá, eu cá’ nas breves com gentes admiradas. Submissão perante deuses terrenos? Nem um pouco! Apenas mais um gosto nos escassos lazeres.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros