Paul Meijering - Lou Reed Autores que não foi possível identificar – Lou Reed
“Era um aristocrata nova-iorquino. Ou, visto, de Los Angeles, um desses snobs contidos que toca guitarra como se não lhe coubesse um feijão já se está a ver onde. Visto daqui, de Lisboa, será sempre um tipo que caminhava pelo lado selvagem.
Tinha tanto de poeta como cara de velha. Misturava-se nele uma poesia simples e direta, um convívio fácil com as outras artes, um gosto suave por uma certa decadência existencial. Como todos os nova-iorquinos, parecia que podia ser europeu, mas nunca teria sido nada sem Brooklyn ou Coney Island.
Um tipo de veludo, um tipo das catacumbas. Teve alguns dias perfeitos. Fez canções e, sem o escarcéu de Keith Richards, tomou uma valente carrada de droga, da boa e da pesada. Para fazer canções, diz ele, batia uma todos os dias. Sem trabalho não se vai a lado nenhum.”
Nota: publicado no "Escrever é Triste".
Duas obras que vão além do simples retrato de Lou Reed. A primeira, de Peter Rodulfo - Living with Lou Reed, a segunda, de Fabrice Plas – Vicious, inspirada por um dos temas mais aplaudido de Lou Reed.
CAFÉ DA MANHÃ
À espera entre muitas, uma oliveira. Tronco robusto que denuncia idade e força e resistência. Este é o primeiro incentivo ao olhar quando o travão manual sobe e dá por finda viagem soalheira. Em cima, recortando o céu/horizonte próximo, campanário branco, imaculado, convoca quem chega. O cruzeiro mais além. Afronta entrada vetusta, carimbada por estrelas muitas, rochas polidas esparramadas à luz terminal em manhã de Outono pleno. O cruzeiro é a última das bússolas.
O esplendor do Alentejo apazigua inquietudes exportadas de quotidiano assoberbado com preocupações que decidem futuros profissionais. A planura, o casario alongado por terra imensa, quatro quilómetros atrás, é o perto visto de longe. E quem deseja, há anos, passar dias de Outubro em Boston pelas surpresas coloridas das folhagens encontra dentro o que o fora promete (ilude?). Bastou contornar de Évora a muralha recomposta, mal, com cimento. Avançar como quem vai para Estremoz. Depois, parar em sítio prometido. Paraíso? Qual quê? _ Faltam macieiras e pardalada exótica. Serpentes. Adões e Evas, sim, todavia compostos. Presentes e serviçais e cúmplices desde o olho fotoeléctrico/abre portas.
As grades limitam janelas conventuais. Emolduram a paleta cromática da estação. A tijoleira e a pedra. Um banco vazio onde fariam sentido almas que repousassem corpos exaustos. Mais elas do que eles, pois queixumes físicos são, mais das vezes, adições sucessivas de lágrimas invisíveis. Engolidas. Comandantes se a vigília do senso autoriza fluírem à revelia. Talvez banco memorial, como na Inglaterra ou na Escócia. Português, este. Que cada um dele faça seu.
E no Outono que cai, a doçura é verde e cobre. Árvores desempenadas legam à Terra o devido. Provam vida na morte. Testemunham precariedade inerente. São lágrimas e sorrisos e afagos e gostos enformados na folhagem que borda margens e muros.
Dentro a visão última. Nada esquecido. Roupeiro vazio. As cadeiras tentam minutos de rendição. E senta-se alma no corpo. Olha o princípio do foi. O convento abre escadas e caminhos e carreiros. A vida aprendeu com eles.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros