Giorgio Brunacci
Hallelu Yah, «Louvai o Eterno», Aleluia! E olho e louvo o que vejo. Louvo o que não vejo e existe, impondo a razão madura ao empirismo que inicia no ser humano a arte do entendimento. Aleluia dobrado por tudo o que não sei e desafia. À conta da razão, louvar o Eterno é mais difícil.
Do planeta, do sistema solar, da galáxia, do universo, de tudo o que «é», conheço a precária condição. Mais ainda se do escrutínio racional fizer método, terminando(?) a dissecação na migalha menor do já infimamente pequeno. O que é, não é, sei, o que é, parece, também. Nos breves suspiros do Universo que duram dez vezes a história da humanidade, a eternidade para quem atende chegar aos oitenta anos, fica diluída a noção de tempo. Um «pfffff» de uma galáxia e lá se vai uma estrela, um cometa, ou redondeza (des)conhecida na lista dos planetas. Tudo precário. A eternidade como ilusão ou limite abstrato.
Que louvo então? A quem teço íntimas loas e desfio orações? Por que insisto em murmurar o rosário sem contas mover nas mãos? Por que preciso. Por que fui ensinada a acreditar. Por que escolhi acreditar. E de todas as razões esta: não há caos organizado de modo tão harmónico sem razão superior. Jamais foi notícia a criação aleatória de vida num perfeito ambiente laboratorial. E ao mergulhar na ciência, lembro a descrição do Eça de Queiroz selecionada pelo Carlos Fiolhais no Física Divertida: Eça de Queiroz, num texto da Campanha Alegre, descreveu de maneira assaz hilariante a situação da marinha portuguesa em finais do século passado. Reza assim a sua crónica: «É uma marinha inválida. A D. João tem 50 anos, o breu cobre-lhe as cãs. O seu maior desejo seria aposentar-se como barca de banhos. A Pedro Nunes está em tal estado que, vendida, dá uma soma que o pudor nos impede de escrever. O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes - mas não pode pedir troco. A Mindelo tem um jeito: deita-se. No mar alto, todas as suas tendências, todos os seus esforços são para se deitar. Os oficiais de marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais. A Mindelo é um esquife a hélice.» A corveta Mindelo tem pois dificuldades em flutuar direita. Deita-se logo que é deitada ao mar. Corre, portanto, o risco de se afundar. De nada lhe vale a lei de Arquimedes, que diz que todos os barcos devem flutuar porque, logo que deitados à água, surge uma força vertical, de baixo para cima, que equilibra o peso do barco. Porque é que os navios, em geral, flutuam? Desde quando se sabe a razão de os navios flutuarem?
Se a isto é fácil responder no automático, fazendo deslizar o fio lógico chegaremos, como em tudo, à últimas das questões: por que somos. É na resposta que no meu íntimo dou que creio. Também por ela sorrio e me julgo uma mulher feliz. Aleluia!
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros