Vladimir Kush, David Ligare
A literatura, quando de qualidade, é fonte de ensinamentos que duram para lá do tempo em que foram. Prova-o este “Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault” que adaptei aqui e ali:
"Colbert: _ Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino: _ Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert: _ Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: _ Criam-se outros.
Colbert: _ Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: _ Sim, é impossível.
Colbert: _ E então os ricos?
Mazarino: _ Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: _ Então como havemos de fazer?
Mazarino: _ Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais!Esses, quanto mais tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório
inesgotável."
Numa dezena de «tiradas», os princípios básicos da exploração que nos sujeita e traz acabrunhados. Assim era. Assim será? _ Não creio. Em
2010, 25% das transacções escaparam ao fisco. A percentagem subiu devido ao aumento do IVA. Cerca de quarenta mil milhões de euros são o valor da actual economia paralela. Com isto e mais se desmente parte da argumentação de Mazarino. Nova ordem social terá de ressuscitar parte substantiva deste mundo agonizante.
Nota: origem do excerto aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
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