Autor que não foi possível identificar
Na sornice da deita deste Verão português, demora a pré rentrée que anuncia a vivacidade outonal. Com notícias silly, excetuando as relativas à tragédia incendiária vivida cá e na Síria, iniciativas culturais escassas, até a má-língua popular e a mediática tão costumadas estão em pousio como solos rapados após as colheitas. Persiste o véu nostálgico ou desesperançado nas soalheiradas dos dias. Dele, sentimos a opressão há ror de tempo e o navio continua à deriva - “E La Nave Va” em tons sépia como Fellini quis.
Neste amanhecer ventoso, uma notícia fez a diferença: a trindade de televisões generalistas nacionais decidiu não cobrir a campanha autárquica por razões ponderadas, consentâneas com a decisão da Comissão Nacional de Eleições e, mais importante, com o estado vegetativo do país. Nem duvido, desconfiada por imposição das muitas fraudes em que já escorreguei como se o chão fosse coberto por cascas velhas de bananas, que causas outras (conluios?) sejam berlindes no jogo jogado (estas bengalas futebolísticas garantem-me riso). Da minha abundante inocência, basta parte naufragou por isto. Nem a dose cartesiana que soe constituir proteção valeu – estatelei-me com fragor e pavor.
Admitindo a bondade da notícia, merece aplausos de pé e o ecoar de “bravo!” por cada um. Que os candidatos multipliquem proximidades com as gentes que diligenciam representar sem os clichês habituais feitos para as tevês e engolidos nos sofás pelos cidadãos. Política viva e olhos nos olhos, perguntas e respostas no momento sem espelhos mentirosos. Assim, sim!
CAFÉ DA MANHÃ
Barrett, Hugh-John (1935-2005) La lectrice, 1993
Não passa um dia sem precisar vezes algumas dum dicionário. De quando, em quando, surgem termos que me embasbacam. Até agora, nem um registo feito para mais tarde usar porque estranhos e, presumo, ignorados pela maioria dos leitores. Talvez presuma mal e o desconhecimento do significado seja meu e não doutrem. Dou exemplos:
- hebetar (latim hebeto, -are); v. tr. v. tr.; Tornar bronco, obtuso ou embotado;
- guarda-mancebos (forma de guardar + mancebo); s. m. 2 núm.s. m. 2 núm. [Náutica] [Náutica] Cada um dos cabos que servem de corrimão de corda ao longo do gurupés ou ao longo da borda da embarcação;
- impermisto (latim impermixtus, -a, -um); adj. Que não foi misturado (ex.: doutrina impermista). = genuíno, puro, simples; ≠ permisto;
- bananosa (banana + -osa); s. f.s.[Brasil, Informal] [Brasil, Informal] Situação complexa, de difícil resolução. = embananamento.
Um impermisto cai sempre bem. Hebetar ou introduzir bananosas, rejeito. Quanto ao guarda-mancebos que cumpra a função.
CAFÉ DA MANHÃ
Mark Keller
Oficialmente, “Os Homens do Fraque” vêm aí. Oficiosamente e sem darmos conta, havia meses (as)saltaram as nossas fronteiras. Espiolhavam discretamente, não (pres)sentisse o povo, cedo demais, os calos já doridos insuportavelmente apertados. Dizem-nos competentes, duros de convencer, impõem respeito, autoritários. No íntimo de cada português, a imagem concebida é de fuinhas com «dinheirama» séria que cortam nós górdios através de outros mais estreitos que dependuram ao pescoço de cada um. Assim foi nos atrasados oitenta, assim será.
E venham dizer que doravante viveremos menos angustiados, que a esperança voltará! Atentando na experiência irlandesa e na grega, os autóctones nada de bom têm para contar – um taxista irlandês, aceite seja o exemplo, anda deprimido, recebe hoje cerca de um terço do pré anterior; como antes nunca fora visto, fecham lojas, os jovens imigram aos milhares pelo desemprego, pelo custo dos créditos à habitação, regressam a casa dos pais pela impossibilidade de sustento independente.
Por haver males imediatos que a longo prazo se revelam curas, resta-nos sofrer e (re)aprender que as coisas realmente boas da vida não carecem de euro dispendido.
CAFÉ DA MANHÃ
Ainda na senda de vozes portuguesas.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros