Sábado, 27 de Outubro de 2012

‘Room with a view’

Autor que não foi possível identificar

 

Garota, sonhadora, depressa cansei livros de inocentes afetos, bondade às pazadas, fadas, sapos que eram príncipes, príncipes que eram uma maçada. Tudo envolto em bosques, castelos, heroínas louras com lábios de rubi. Olhos azuis ou esmeralda. Os joelhos esfolados por campeonatos de salto à corda e à «macaca» não me davam aspeto de menina bem comportada. Que não era, também pelas atrevidas leituras à socapa. Mimada e enamorada pela família, desgostá-la era mágoa pesada. Aprendi a conciliar. A ler Sarah Beirão. A engolir grito de dor ao desinfetar ferida sorrateira nos joelhos tapados com a fímbria do vestido. A inventar sítios novos para esconder livros pecado, alimento da minha sofreguidão. Charlotte Brontë foi deslumbre na baralhada passagem de menina a adolescente.

 

A leitura continua isolamento amigável. Separa o pequeno mundo onde sou. Abre outros. Concilia a mulher com pensares diferentes. Promove sonhos nem às paredes confessados. Daí a necessidade duma janela, dum espaço que respire o fora, dum room with a view para dar tempo a metaleitura firmada quando o olhar se desprende da página e procura o longe íntimo. Observador daria por inexpugnável o castelo de quem a si própria, lendo, faz companhia.

 

Jean-Pierre Gibrat

 

Má leitora pela índole conduzida ao hábito de devoradora de livros, incrementei a necessidade de voltar ao lido. Confesso mais de vintena de regressos a obras que me caíram no goto, algumas na adolescência. A Cidade e as Serras transportam-me ao Minho da infância estival, aos sabores conseguidos no ferro da panela à lareira, aos rituais agrícolas, às graçolas das gentes, às graças finamente engendradas pelo Eça. Leitura outonal acompanhada pelo roer de maçãs, se camoesas melhor. Indiciada a dependência dos retornos pelos ciclos da Terra. Ao Gonzalo Torrente Ballester no Filomeno, para meu pesar e ao Umberto Eco reservo o Inverno. A inauguração da Primavera ergue-me os braços para retirar Música de Praia da prateleira onde o resto do ano passa ao lado de Pat Conroy. No Verão, releio sagas. Eugénio de Andrade, sempre.

 

Discordo da opinião de amigo estimado, leitor e escritor exigente, ao afirmar que se lhe ofertassem as Fnacs ficaria com dez por cento e para reciclagem útil mandaria os noventa de sobra. A tão radical sentença, oponho o meu congénito ecletismo.

 

Domen Lombergar 

 

Defeito e qualidade.

 

Verso e reverso.

 

Sou dispersa nas escolhas. Leio por inteiro o comprado ou ofertado, à exceção do “Linguado” e dos últimos pedantismos do Mário de Carvalho. Se pelo vocabulário - obriga a dicionário d’antanho, outro atual ao lado - julga atingir hallelujah, que se desengane. Evoluiu, sim, desde a singeleza exemplar no Beco das Sardinheiras. Por dobrões não contados entregou ao diacho que o não leve a pureza sábia.

Refinou e perverteu.

 

Por ora, com entremeios de cambraias outras, leio, em castelhano, Arturo Pérez-Reverte no room with a view. Oferto cambraias finas.

 

A redação está conforme ao «Tpc», querida Tia?

 

CAFÉ DA TARDE

 

publicado por Maria Brojo às 12:30
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Segunda-feira, 2 de Janeiro de 2012

A NOVA «BÍBLIA ENCHE-BARRIGA»

Harry Baerg, Stan Ekman

 

Porque não sintetizaria melhor, transcrevo: _ “Presidente falou. Fala, dizendo que outrora falou. E promete que falará. Confirma-se que, na prática, a teoria é outra.” Este pensar li chegado por Mário de Carvalho. Alvo com seta bem no centro. Só incautos crêem ser novo o dizer. O Presidente fala, partidos aplaudem ou não conforme a frequência em que se situam no arco-íris politiqueiro. Comentadores deste ‘nada de novo’ esmeram-se em extrair ilações omissas no discurso. Especulam com denodo porque a avença dá arranjo e não sendo criativos e doutorais lá se vai o pré que neste 2012 tanto arranjo dá para compensar o rol de aumentos sujos. Sacrifícios de todos, necessários garantem os palradores com nome ou cargo que os colocam acima da importância e pobreza dos demais.

 

Gostaria de os ver debitando, Presidente incluído, discurso semelhante no meu bairro, face a face com os moradores que saem do supermercado ou têm por obrigação comprar calculadora gráfica para a Matemática e Física e Química dos filhos neste segundo período – se contam com as supostamente disponíveis nas escolas, tirem daí o sentido pelas pilhas gastas que não as deixam «reflectir». E quem diz calculadoras e superes diz bens indispensáveis ao estar saudável pelo comido e pelos serviços. Electricidade por exemplo (mais haveria a apontar). Nem é precisa a meteorologia para adivinhar Inverno gelado – quem se atreve a ligar radiadores sabendo como alternativa fome ou frio? Em poleiro, modesto é certo, está quem ainda pode aceder à rede/net, substituir bife do lombinho por frango ou peru. Cerca estará o dia em que mil maneiras de cozinhar 'pipis' serão «bíblia de enche-barriga».

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:01
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Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011

NÃO ESCREVES MUITO BEM

Byron Traag, Yossi Rosenstein

 

Foi-me dito semelhante a isto: _ "Algumas frases das croniquetas que publicas saem boas, mas não escreves muito bem. Dás pontapés na gramática, tens alma; porém, tudo junto nada augura de bom. Não te comparas a um Mário de Carvalho, com qualidade sempre, ou a um Gabriel García Marquez em cuja obra somente reconheço como exemplar o “Cem Anos de Solidão”; os seguintes deslustram aquele. E se alguma editora aceitar o que produzes será livrito, nunca um Livro. Talvez o tenhas dentro de ti, todavia e até agora, faltam provas. Entendo por seres das Ciências. Poderás, com sorte, ter lugar na Fnac junto às menoridades em venda. Obras sem préstimo outro que o de encher bancadas para incautos. Porque sou teu amigo tenho o dever de te prevenir."

 

Escutei, atenta, o áugure que acabara de ler as pautas dos voos das palavras saídas desta chaminé virtual. Ideias a merecerem ponderação – quem lê e o faz bem é crítico que importa. Possivelmente outros, com mais saberes em leituras, não só assinariam por baixo, como acrescentariam dureza à apreciação.

 

Reconheço a fragilidade do «jeitinho» que possuo para juntar palavras e edificar textos. Concordo ter alguma dificuldade em pontuar, as mais das vezes por distracção a gramática sofrer arranhões, ignorâncias imperdoáveis. Quilómetros de páginas lidas escritas por nomes grandes das letras não formam um escritor. E se alguns desses célebres autores são consensuais, outros incorrem em divergências opinativas como é natural pela diversidade humana.

 

Para a mulher que ama a escrita e tem livro (livrito?) em revisão foram duras as palavras ouvidas. Não desiste e lembra Jacinto de Magalhães reconhecido por poucos no seu magnífico “A Água e o Silêncio”, sem que ao talento dele compare o seu.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:53
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