William Henry Chandler
Isento de suspeição o acordar pelas sete habituais que voz querida sabia e, por isso, marcou número. Desafio irresistível _ “ Pelas dez, estou aí. Enfia trapos e precisões numa mala que seguimos por aí acima até o Prado nos ver.” Estremunhada, ainda balbuciou objecção de porcelana para, logo, assentir _ Pois se era o que mais desejava e só a rodilha do sono a impediu da normal lucidez no querer… Uma volta pelo AKI para compra de tintas e pincéis e mais instrumentos e produtos desconhecidos para no Prado continuar o restauro. Até Junho, antes da obstinação de recuperar onze divisões maltratadas por duas décadas e picos de abandono, o sítio metia dó a quem lhe conhecera o esplendor.
A subida da Grande Alface até às faldas montanhesas pareceu tiro sem dano no espírito aventureiro e no corpo de quem usa mãos e braços para outros delicados e prazenteiros fins. Chegando, troca de roupa citadina por outra adaptada a diluentes e martelos e sprays milagrosos capazes de fazerem rodar pinchos, dobradiças, torneiras de segurança teimosas em saírem da imobilidade/rotina solitária de quem há muito não sente afagos e se esqueceu do que são. A montanha iluminada por entardecer hesitando entre o soalheiro e o nublado acrescia mistério e bem-aventurança aos que desfrutavam o titubear experimentando ‘sangue de boi’ no ferro duma janela das águas-furtadas. Foi rejeitado por unanimidade. Aprovado sem abstenções em vez de cinza claro nas paredes, branco puro, janelas cinza em mistura com laivos de azul goteado, ferros exteriores, esses sim, no tal vermelho sanguíneo no ponto de secar. Por dentro, brancura, portas e aros e arcos e tectos de madeira sã pintada em cinza igual ao das janelas. Enceradas e luzentes as tábuas do soalho. Móveis restaurados ou disfarçados ou trocados por outros que esperam utilidade no sótão de casa outra. O descrito é futuro esperançado. O presente é composto de lixo, terra infiltrada, madeiras saudáveis cobertas pela mistela, janelas descascadas, vidros partidos, nogueira cujos frutos foram roubados, uvas moscatel como vestígio resistente. Afortunado.
Hoje ficou limpo o balcão das silvas enroladas na glicínia outrora pujante, agora seca até ao âmago, retirados «sacões» de inutilidades dos muitos baús e das paredes e dos móveis, descobertos tesouros, decidido o que fazer do espaço reservado à antiga capela, uma casa de banho mereceu diagnóstico do necessário, cirurgia no premente. Resultou. Amanhã muito haverá para fazer e dele retirar prazer.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar, Tim O'Brien
Do mistral, soube cedo pela literatura francesa. Por demorar na Provença somente em período estival, jamais lhe senti o empurro circulando em Nice ou Cannes ou Cap Ferrat ou no Mónaco, lugares cerca donde os Alpes terminam e enredam os passeantes em frio vindo do Norte. A Wiki informa ser um vento catabático. Desconhecia o significado do termo mas a referida esclareceu: _ “da palavra grega katabatikos que significa ‘descendo colinas’ é o nome técnico de drainage wind, um vento que transporta ar de alta densidade de uma elevação descendo a encosta devido à acção da gravidade. Cá está. Tinha de ser. A força gravítica ao permanente dispor.
Ontem, no cimo do Parque Eduardo VII, marcados nos painéis digitais, oito Celsius, a TSF informou que Manuel Alegre sofre de “engulhos pela adopção gay”. É lá com ele, o candidato do PS cuja maioria vota Cavaco como se mistral tivesse cavalgado nos céus até Belém e varrido a fidelidade dos militantes socialistas à escolha partidária. Os engulhos gays de Alegre comparo a olho que pisca à direita.
À conversa com especialista em Sociologia vim a saber que em Manaus, a Secretária da Educação estuda proibição de docentes masculinos leccionarem crianças até aos doze anos. Por dois professores da rede municipal terem abusado de crianças entre os 6 e os 12, já entre grades os culpados, os responsáveis burlam a lei que dita ausência de discriminação pelo sexo dos candidatos à docência, retirando os homens das salas de aula e remetendo-os para tarefas burocráticas.
Esta coisa do pénis, majestade que tem sido condicionante da igualdade laboral, merece reflexão. Antes, ainda hoje mais do que a esperança, era o útero penalizado. Agora, os pénis desviados da linha recta oficial construída por comportamentos morais sólidos, alguns «moralóides» (homossexuais & company), são espectros no reino das sombras. Mundo fantasma este ou não imperasse a hipocrisia do adágio "ouve o que digo, esquece o que faço.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
É utópico. Poeta. Vive e tem parca/polémica recompensa dos ideais que o fluir dos anos(trans)tornaram em atitudes desligadas do real. Analisa o redor, facto, com filtro de poros largos. Dele o desfasamento sentido pelos concidadãos. É pau na engrenagem poderosa/ política que o teme e nele manifesta descrença como candidato a Belém. Divide em dois o PS. Jaime Gama como putativa opção geradora de maior consenso.
Manuel Alegre de nome, sobrevivente de idos onde pontificaram Natália Correia, José-Luís Ferreira, querido amigo, Vera Lagoa e Helena Roseta entre outros muitos. O Botequim, sito no Largo da Graça, em Lisboa, foi lugar de tertúlia onde as partes/pessoas eram figuras principais. Hoje, transformado na livraria infantil “O Pequeno Herói". Mas quem lembra a mesa do fundo, altar ou tribuna onde os notáveis tomavam assento, retém memórias e estórias que a História não deve esquecer.
Manuel Alegre jamais será o meu candidato presidencial. Cavaco também não – odeio pragmatismos servidos gelados. Cito Jorge Sampaio – “há mais vida além do défice!”. Da coisa/«crise» também. O povo, ignoto como eu, confirma-o.
CAFÉ DA MANHÃ
Tema ouvido pela vez primeira com Manuel Maria Carrilho quando, no melhor tempo dele segundo análise subjectiva - a minha -, em vez da farda intelectual preta e branca, usava ganga e camisa «vaiela» com quadrados.
Alberto Vargas
Corre um Verão lindo nascido há um mês. Pingos de chuva abençoam o que a terra faz crescer neste extremo pobretanas, mas soalheiro, duma Europa a tantos que nem sei quantos são. Pior _ nem um clique faço para me informar do que, porventura, devia, mas não apetece. O calor e o remanso esperado pedem actos outros: pele nua, trapos mínimos, sandálias rasas ou espigadas em saltos. Esquecer o despertar condicionado. Liberdade. Provar o sumo da vida e a doce embriaguez que provoca. Dar o impossível para alcançar o tutano dos dias.
E se o Manuel Alegre, respeitável cidadão, quase foi elevado ao céu e envolto em panegíricos na despedida da Assembleia da República, acho bem. Os deputados vão de férias. A Justiça vai de férias. Os alunos estão em férias. Os professores também. Os desempregados continuam, desgraçadamente, em férias. O país entrou em férias ainda que finja o contrário.
Quem tem paciência para seriedades de meia-tijela?
_ Eu não!
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros