Mariola Bogacki
Não sei se me pertence algum merecimento ou é a saudade de quem está longe do país a pedir alívio. Pouco a razão importa quando constato chegarem a díspares sítios no mundo os elos criados através do fumo desta chaminé. Deste blogue tenho recolhido afeto e retorno que jamais ao rabiscar os primeiros textos idearia. Surpresa boa. Um dos prodígios das «redes». E se nelas encontram abrigo mercadores de almas, larápios, cabotinos ou escroques, nunca os lobriguei quando nesta «rede» bambaleio. Pelo dito, não decorra candura patética. Filtro o possível e do tempo espero decantação fina. O método não me tem traído.
Noutras «redes» há o sabido: pornografia, fantasias e sexo, tórridos (des)amores que acabam em dilúvios de lágrimas e furacões de arrependimentos. Outras ainda satisfazem a curiosidade pelo conhecimento novo de que precisa o evoluir do espírito – sem elas, como remediar, no instante preciso, uma ignorância incómoda? Viciantes todas, se a determinação pessoal deixar lasso o freio. Porque o percurso dos humanos não tem nos saberes a prioridade de vida, os afetos e o trabalho que apaixona são, afinal, o que de melhor trazem os dias.
CAFÉ DA MANHÃ
Prado Conceição Ramos (colecção "Maternidades")
A confessa ‘menina da rádio’ tem a mania de escutar a TSF desde que a frequência lisboeta nasceu. Dá-me desgostos, olá se dá!, nomeadamente quando em viagem ou no interior português o sinal é desastroso. Mas, na procissão dos dias correntes, gratifica quem lhe segue as pegadas sonoras. E sigo. E ao entrar numa das casas minhas, bagagem recatada, a primeira coisa após o andarilhar de divisão em divisão, é abrir portadas, a segunda catar a sintonia desejada que encha o espaço de continuidade do lugar donde vim.
Ontem, ao ouvir o Pensamento Cruzado, reflecti-me nos dizeres. Tema: “A casa que há em nós”. A harmonia desejada entre o indivíduo e o interior das paredes que, ao cabo de jornada, o recolhem como ninho de paz. Retrato do ser que a casa constitui. A fala silenciosa que tão eloquente é – descreve os humores, períodos de instabilidade, de calma traduzidos no desarrumo ou no seu contrário. A companhia dos objectos, do recheio diverso que ao maestro do espaço confere aplauso da invisível orquestra que dirige. E os músicos ali estão, imóveis, possuindo a mestria necessária ao encanto do conforto doméstico.
Porque caseira me declaro, fruo de cada elemento da estrutura íntima da casa. Pela utilidade, não prescindo de um - a opção minimalista evita complicações nas limpezas e no olhar. Arriba-me à memória sugestão de pessoa mui querida: para num suspiro de empreiteiro, longo e imprevisível, é sabido, completar o restauro da casa do Prado, telhado, pintura interior e exterior, grades protectoras nas janelas nos baixios, portões novos, tábuas do chão afagadas, jardim ordenado, acrescento duma casa de banho e não mexer em reservas financeiras, vender 'apenas' um ou dois dos originais que forram paredes em Lisboa. Mas como, se fazem parte do que sou? Prefiro economizar, avanço comedido, que tesourar a alma.
CAFÉ DA MANHÃ
Sugestão de Veneno C. Sugestão de 'Cão Estrela da Manhã'
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