Neste dia que burocratas sempre em serviço dizem inútil por não contribuir para a produtividade nacional, melhor é ‘mandar às malvas’ quem tal afirma, desesperanças e viver alegria.
Sugiro o Galito, pena fechar ao domingo!, lugar da minha rendição à comida alentejana. Serigrafia oferecida pela querida Amiga Manuela Pinheiro onde figura Pessoa, um dos seus amores, e, a começar, aqui a terminar, os torresmos do rissol que me perdem.
CAFÉ DA MANHÃ
A obra da Pintora Maior Portuguesa Manuela Pinheiro e os detalhes que quotidiamente tenho o prazer de redescobrir
Esta pintura da querida amiga Professora Doutora Manuela Pinheiro tem história como tantas outras da mesma artista. Sendo mulher de beleza extrema, culta e eloquente, não é de estranhar que a sua postura arranque inúmeros suspiros dos corações masculinos. O poema “No Soy de Aquí, Ni Soy de Allá” de Facundo Cabral (1970) foi símbolo da admiração e respeito que Lisboa lhe dedicava. Hoje, ainda mais.
“Me gusta andar…
pero no sigo el camino,
pues lo seguro ya no tiene misterio,
me gusta ir con el verano…
muy lejos,
pero volver donde mi madre
en invierno
y ver los perros que jamás me olvidaron
y los abrazos que me dan mis hermanos.
Me gusta el sol
y la mujer cuando llora,
las golondrinas y las malas señoras,
saltar balcones y abrir las ventanas
y las muchachas en abril.
Me gusta el vino tanto como las flores
y los amantes, pero no los señores,
me encanta ser amigo de los ladrones
y las canciones en francés.
No soy de aquí… ni soy de allá
no tengo edad ni porvenir
y ser feliz es mi color de identidad.
No soy de aquí… ni soy de allá
no tengo edad ni porvenir
y ser feliz es mi color de identidad.
Me gusta está tirado siempre en la arena
o en bicicleta perseguir a Manuela
o todo el tiempo para ver las estrellas
con la María en el trigal.
No soy de aquí… ni soy de allá
no tengo edad ni porvenir
y ser feliz es mi color de identidad.
No soy de aquí… ni soy de allá
no tengo edad ni porvenir
y ser feliz es mi color de identidad.”
CAFÉ DA MANHÃ
Manuela Pinheiro – “Procurando Florbela Espanca” Manuela Pinheiro – “Sob a linha D'Água”
Foi no teu olhar que encontrei sempre a minha âncora
mesmo quando foste tu a desencadear os vendavais
a minha barca quase se afundava...
coberta de ondas, tremia e depois se alevantava
mais forte, mais bela, mais segura
e quando fui eu que inventei as tempestades
e fiz tremer o casco dos navios
e fiz nascer a impensável escuridão
de rastos e olhar vazio
atravessei o nevoeiro
perdi a noção do norte e das estrelas
esqueci mesmo o bater do coração
à procura de um arco-íris
e de novo
o teu olhar
a eterna razão que me trazia à tona de água
nadei até ao cais
exausta, confusa, arrependida
seguindo o único farol que me traz de volta a casa
ilumina o resto do caminho
e continua a dar sentido à minha vida
Nota – Poema inspirador da talentosa e mui querida amiga “ERA UMA VEZ” publicado na “Coletânea de Poetas”.
CAFÉ DA MANHÃ
Manuela Pinheiro - Eça de Queirós, 2000 Autor que não foi possível identificar
“O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a desconfiança. O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espetaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros
não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espíritos. Não se pressentem soluções nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadência. A política, sem atos, sem factos, sem resultados, é estéril e adormecedora.
Quando numa crise se protraem as discussões, as análises refletidas, as lentas cogitações, o povo não tem garantias de melhoramento nem o país esperanças de salvação. Nós não somos impacientes. Sabemos que o nosso estado financeiro não se resolve em bem da pátria no espaço de quarenta horas. Sabemos que um deficit arreigado, inoculado, que é um vício nacional, que foi criado em muitos anos, só em muitos anos será destruído.
O que nos magoa é ver que só há energia e atividade para aqueles atos que nos vão empobrecer e aniquilar; que só há repouso, moleza, sono beatífico, para aquelas medidas fecundas que podiam vir adoçar a aspereza do caminho. Trata-se de votar impostos? Todo o mundo se agita, os governos preparam relatórios longos, eruditos e de (…)
Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora', 3 de março de 1867
Nota: texto publicado integralmente aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Manuela Pinheiro — “Solidão em Bola de Sabão”
Frase manuscrita no reverso de uma ementa reza assim: “Casei-me com a arte; as mulheres divertem-me.” No ateliê da pintora Manuela Pinheiro, o escrito resta preso via pionés à mistura com fotografias de amigos, a maioria com nome inscrito na história recente portuguesa. O autor foi homem da cultura, falecido quando faltava um para os setenta anos - David Mourão Ferreira. Caracterizava-o o talento como poeta e a mestria na prosa. Em privado, acrescia espontaneidade, rendição aos encantos das mulheres com quem mantinha amores felizes. Depois, por ele descritos e ilustrados com o traço de Francisco Simões, à época Francisco d’Almada. Desenhos resumidos à essência de um gesto, dois talvez, remetem para a mulher fecunda pelo acentuado redondo da anca e mamilos. Inspirados na tensão erótica de amor que inaugurava.
A frase, rabiscada a esferográfica, aparenta provocação machista e leviana. Mas o desvendar último do sentido fica a roer por dentro. Com a arte, amor e compromisso para a vida; com as mulheres, fruição de laços que atam sentidos num nó cúmplice, eventualmente terno. Talvez precário. Divertido no sentido de risonho. Folguedo de quem a vida quer cheia e livre. Isenta de obrigações penosas além das inevitáveis no percurso dos humanos.
A arte é procura de (…)
CAFÉ DA MANHÃ
Don Dixon Bill Fogé
Eles levantam ouro nas caixas ATM; nós enviesamos o olho ao ler papelote do saldo cuspido pela máquina. Eles têm petróleo; nós possuímos solo exaurido e ausência de recursos. Eles cavam fossos sociais; nós do mesmo não saímos. Eles têm mulheres subservientes, outras condenadas porque na venta arrebitam os pêlos; nós, assim possamos, fugimos dos ditadores domésticos como da cruz o diabo e, à «fartazana», eriçamos, comummente, inestéticos pêlos sendo casa as narinas/ventas. Eles misturam «esgravata-céus» com adobe e tijolo sem revestimento nas habitações; nós construímos condomínios/clausuras de elite e a maioria vive em prédios roídos e na ruína. Eles cativam turismo de luxo; nós os assalariados medianos duma Europa falida. Eles compram griffes como nós adquirimos atum de lata. Eles têm hotéis de milhares de euros por noite, em que tudo sobe e desce automaticamente, quiçá os atributos enrolados na cama XXL; nós disponibilizamos aluguer de sítios com charme para ricaços e «têzeros» que os pelintras, todos quase, utilizam para ir ‘a banhos’. Eles estão cheios do muito que roda o mundo; nós de nada. Eles não viram o Papa; nós folgámos dia e meio. Eles são uns tristes, mas abanam as ancas; nós trememos dentro e fora. Eles vivem em Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos; nós em aldeia abandonada na qual se transformou o país todo. Nós temos, entre outras, heranças do Saramago, da Amália, do Nadir Afonso, do Eusébio, mais a Paula Rego, o Querubim Lapa, a Manuela Pinheiro e fado e Fátima e futebol de jeito. Temos a palavra saudade, verdes a rodos, liberdade de nos exprimirmos conforme normas a passo mais apertadas, democracia carnavalesca, juntamos no mesmo palco B. B. King e Rui Veloso. Eles não.
CAFÉ DA MANHÃ
El Greco, Manuela Pinheiro
Sexta-feira Santa – dia da paixão de Cristo. A paixão seja por uma causa, um ser, um trabalho engrandece os dias.
Faz um ano o apelo à ‘Troika’. O nosso calvário, antes vero mas oculto, começou, despudorado, aí. Sem final à vista exceto nas aldrabices confusas dos governantes que sendo não o sabem ser.
Neste tempo de lazer, ouvir, ler e ver os ‘clássicos’ do nosso tempo e de idos nem sabemos o bem que fazia!
Borrasca em cima, choveu e granizou. Deixaram-me feliz no meu casulo.
CAFÉ DA TARDE
Rodrigo Leão, Adriana Calcanhotto e múltiplos mestres da pintura fazem parte do meu desejo de boa tarde para todos.
Neste dia que burocratas sempre em serviço dizem inútil por não contribuir para a produtividade nacional, melhor é ‘mandar às malvas’ quem tal afirma, desesperanças e viver alegria.
Sugiro o Galito, pena fechar ao domingo!, lugar da minha rendição à comida alentejana. Serigrafia oferecida pela querida Amiga Manuela Pinheiro onde figura Pessoa, um dos seus amores, e, a começar, aqui a terminar, os torresmos do rissol que me perdem.
CAFÉ DA MANHÃ
À entrada e na sala da tertúlia, ícone da animação cultural lisboeta, devida ao dinamismo e saber do Lauro António.
Quando as mãos também falam.
Teresa C. e a Pintora Manuela Pinheiro
Improvisado conto de Natal. O escrito pelo Lauro António foi o desafio.
CAFÉ DA MANHÃ
Homenagem a Cesária Évora.
Gustavo Fernandes, Manuela Pinheiro
“A decisão da UNESCO foi favorável à candidatura portuguesa e o Fado passou, a partir de ontem, a ser considerado Património Imaterial da Humanidade.” Sinto-me alegre como badalo de igreja ao exultar, oscilando, boas novas.
"Chegaste a horas
Como é costume
Bebe um café
Que eu desabafo o meu queixume
Na minha vida
Nada dá certo
Mais um amor
Que de findar me está tão perto
Leva-me aos fados
Onde eu sossego
As desventuras do amor a que me entrego
Leva-me aos fados
Que eu vou perder-me
Nas velhas quadras
Que parecem conhecer-me
Dá-me um conselho
Que o teu bom senso
É o aconchego de que há tempos não dispenso
Caí de novo, mas quero erguer-me
Olhar-me ao espelho e tentar reconhecer-me."
CAFÉ DA MANHÃ
Nuno Pinheiro
Linhas depuradas inauguram a entrada. Pendurados os abafos num bengaleiro/escultura metálica, libertos os gestos, cirandar pelo espaço é prazer. Luz a rodos que os verdes das floreiras interiores e exteriores encantam.
Teresa C. (homenagem a Manuela Pinheiro), Ernâni Oliveira, Bravo da Mata
Teresa C.
Originais a óleo, maioria, ou a guache forram, sem excesso, paredes. O do Ernâni remete para a profissão do casal. Móveis de design com linhas apostadas no linear. A simplicidade e restrição de objectos ociosos, minimalismo soe dizer-se, é a característica fundamental. Não seja julgado frio, pelo despojamento, o resultado. Sucedem-se recantos onde apetece ficar entretido numa leitura aconchegada, silenciosa seja esse o desejo. No escritório, parede com livros arrumados em biblioteca que rasa o tecto. Escada deslizante permite aceder às prateleiras cimeiras. A muita tecnologia não sobrecarrega ao surgir como reservada ao essencial pelas formas simples, bem esgalhadas, e cabos invisíveis.
Manuela Pinheiro (as três primeiras obras, pertencendo a última à colecção 'Afectos' da mesma pintora), Teresa C., peça de autor que não registei
Não há divisão rainha. Sem fracturas, todas se harmonizam ao avançar duma para outra. Preto, branco, encarnado, tons de terra e mar associam ao espaço a bondade da natureza.
CAFÉ DA MANHÃ
Sugestão do 'Cão das Artes'
Manuela Pinheiro, colecção particular
Dos gostos o que mais importa é gostar. Muito. Irreversivelmente, acontece. O belo, seja o que for para a maioria dos humanos, está condicionado ao gosto – teu, meu não. Mas preciso mesmo é animar a malta com qualidade estética, seja na música, nas letras, nas artes plásticas, cénicas - bailado, ópera, teatro. Acredito na beleza das atitudes e dos comportamentos, no ensino e divulgação das artes como modo outro de educar. Porque nunca tudo está esparramado em manuais, ir além é indispensável. Pelos educadores, pelos governantes, pelos líderes de opinião, pela investigação em ciência. Houvesse o culto do belo chuchado com o leite materno ou misturado nos biberões, e cedo seria encaminhado o pepino para estares orientados no sentido da imperfeita perfeição. Sendo exclusivamente individual a leitura dela feita, o desafio que constitui como «meta» sem chegada enriquece o mundo através das várias leituras significantes.
E qual o lugar do feio? O que é? _ Aspecto diverso e oposto do que para cada pessoa o belo exprime. Desconfortável quase sempre. Causa repulsa as mais das vezes. Pelos sintomas, bitola? _ Nunca universal, é certeza. Porém, a cada um pertence reacção diferente. _ Pode obliterar a beleza, conceito tão incerto como o anterior, abatê-la em momentos particulares? _ É possível como a guerra, agressões de teores diferentes, as desigualdades sociais, a fome, a miséria.
O mundo está dividido em duas partes que dele são essência: o belo e o feio. Todos os humanos também as possuem em fracções variáveis que as vidas e o planeta reflectem. À conta do belo criamos, pelo feio destruímos.
CAFÉ DA MANHÃ
Manuela Pinheiro
É australiana, de seu nome Codie Young, e protagonista da campanha publicitária duma marca de roupa britânica. Tão magra surgiu nos retratos, que a polémica estalou: rebelaram-se os cidadãos e associações de apoio a vítimas de anorexia nervosa. Trocada por outra a fotografia onde a modelo surge mais encorpada. Desmentido padecer da doença a bela jovem de dezoito anos, foi atribuído o seu aspecto a características herdadas no genoma. Admitamos estar a explicação correcta. Ainda assim convém lembrar a tendência dos jovens consumidores de moda para tomarem como exemplo os manequins que desfilam nas passarelas, enchem revistas e outdoors.
A anorexia não afecta somente quem dela sofre directamente: o núcleo familiar próximo é atingido no seu todo. Assistir ao definhar dum filho – embora com prevalência substantivamente superior no género feminino, o masculino apresenta índices preocupantes – é mágoa que corrói a família. Cada refeição um tormento que faz vacilar as atitudes dos pais entre a condenação agressiva e o silêncio dorido. Como alterar o comportamento do jovem? Procurar ajuda é medida certa, nem sempre a primeira por o doente não admitir o padecimento que joga a vida.
Não raro, uma anorexia é seguida de bulimia. O excesso de peso que advém é causa outra para a rejeição do corpo, para o desajuste relacional e psicológico. Com auxílio especializado o paciente recupera, conquanto sequelas deixem registo físicos e em leves distúrbios alimentares.
Igualmente faladas a pré-obesidade e a obesidade que afectam mais de metade dos portugueses, dois em cada três norte-americanos, milhões no mundo ocidental. Matriz genética, hábitos alimentares medíocres e sedentarismo algumas das razões. Graves danos para a saúde são consequência da doença cuja viragem para epidemia se situa a meio do século XX, no alvorecer da sociedade do bem-estar.
No livro “A Obesidade em Portugal e no Mundo” coordenado por Isabel do Carmo, figura na capa Fernando Pessoa e consta a reflexão: “Não sabemos se neste momento - e acompanhando toda a transformação - se Fernando Pessoa não teria engordado desta maneira".
CAFÉ DA MANHÃ
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