Mike Bougher, autor que não foi possível identificar
São tulipas. Num ramalhete, verdes finos, outros carnudos, tons de rosa e de roxo desmaiados - tons pastel, digo. Oferta de gente linda que partilha comigo o trabalho/gosto. E quem não gosta de receber flores como símbolo de afectos construídos com verdade transparente nos gestos, entre eles a transmissão de saberes jamais arrogante, mas disposta a com todos aprender?
Porque o conhecimento não livresco é adquirido com aqueles onde descortinamos valias sábias, nos povoados grandes ou pequenos, do pastor ao idoso na fila do Centro de Saúde ou do autocarro, o segredo é conversa atenta. Quem nos outros concentra interesse, intui num ai quais as pessoas com muito para ensinar. A curiosidade encomenda o resto: entabular conversa, ouvir muito e pouco fala. E as pessoas escolhidas optam entre o silêncio e a dádiva das experiências relatadas. Também o silêncio permite aprendizagens e motiva questões: porque se recolhe no mutismo, porque alarga as fronteiras entre o ser e o dos demais. Se bem observarmos, alguns afastam-se e procuram espaço onde corpos alheios estejam afastados. Incapacidade de partilha social ou necessidade básica de preservar recolhimento individual?
Sou mulher viciada no perscrutar, não no estereotipado estilo da porteira ou da vizinha que o alheio vigia por detrás das cortinas. Interessam-me almas sem que me atreva a julgá-las. Entendê-las, sim. Por isto não me distraio de quem comigo se cruza ou segue ao lado ou à frente. Daqui as tulipas frescas onde o meu olhar se regala.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros