Terça-feira, 28 de Outubro de 2014

O "MÉTODO MARILYN"

Ulysses, after Eve Arnold photographed her reading

Marilyn-Monroe-1954-by-Eve-Arnold-reading-series.j

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotografia de Eve Arnold 

 

Joyce, o dia 16 de Junho de 1904, dele, em “Ulisses”, as horas parodiadas de Leopold Bloom, Molly Bloom e Stephen Dedalus nem sempre estimulam leitura continuada. Eve Arnold, a mulher pioneira do fotojornalismo, reteve imagens várias da capitosa loura de Hollywood, Marilyn Monroe. Algumas, ignorando poses, revelam-na entretida com um calhamaço que a alheava do redor: “Ulisses”. Daqui, a pergunta: “Ela leu ou não leu?” Acrescento: atriz até nos momentos devidos ao repouso entre sessões fotográficas?

 

Décadas após, Richard Brown quis romper o mistério. O professor de Literatura escreveu a Eve Arnold. Que sim, que Marilyn já o lia quando a conheceu. Em voz alta, confessara-lhe, por gostar do estilo, conquanto difícil. A loira mítica assim desmentiu o (pré)conceito de ser apenas um belo corpo exposto generosamente e desprovido de pensar lógico convincente.

 

Facto é o professor Brown transpor para a atividade letiva o aprendido na investigação: “Ulisses” não deve ser lido com a persistência da água que corre até furar pedra. Abri-lo ao acaso, ler um trecho, depois outro é a recomendação de Brown aos alunos. “Método Marilyn”, chama-lhe.

 

Nota: texto publicado em "Escrever é Triste".

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:40
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Terça-feira, 25 de Fevereiro de 2014

COMO A MARILYN

 

 

  

Autor que não foi possível identificar                                                                                               Dinie

 

Não me dou por exagerada ao afirmar que substantivo número de mulheres muito dariam para uma vez ao menos, na altura certa e observada a condição de ser o vestido pregueado, os vapores das entranhas da cidade ou o vento as transfigurarem em «Marilyns» deslumbrantes como se o pretendido fosse púdico desejo de evitar saia voando até à cintura. O aleatório cosmos não me parece ser de fiar para auxílio na reunião das condições necessárias. Por outro lado, os deuses devem jogar à bisca ‘todo o santo dia’, constatados que foram por eles serem excessivos os pedidos humanos traduzindo tontarias ou patifarias. As novas beatas e santos, pela lógica mais dispostos a mostrar serviço porque precisados de crentes que lhes consolidem o cadeirão celestial, deveriam ser os mais atentos às miudezas imploradas. Mas quem se lembrará de orar por bem-sucedida conjugação astral à Beata Sãozinha ou à Santinha da Arrifana para o vestido rodado, já curto para ajudar, se erguer comme il faut no momento desejado? Trocando por miúdos: não há natural ou sobrenatural que nos atenda se imitar a Marilyn ou outra futilidade é a essência da prece. Um dia, num acaso em que a vida é pródiga, talvez aconteça. Ou talvez não.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:36
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Quarta-feira, 9 de Outubro de 2013

O “MÉTODO MARYLIN”

Marilyn lendo "Ulisses" - fotografia de Eve Arnold

 

Joyce. Dia 16 de Junho de 1904. Dele, em “Ulisses”, as horas parodiadas de Leopold Bloom, Molly Bloom e Stephen Dedalus nem sempre estimulam leitura continuada. Eve Arnold, a mulher pioneira do fotojornalismo, reteve imagens várias da capitosa loura de Hollywood, Marilyn Monroe. Algumas, ignorando poses, revelam-na entretida com um calhamaço que a alheava do redor: “Ulisses”. Daqui, a pergunta: “Ela leu ou não leu?” Acrescento: atriz até nos momentos de repouso entre sessões fotográficas?

 

Décadas após, Richard Brown quis romper o mistério. O professor de Literatura escreveu a Eve Arnold. Que sim, que Marilyn já o lia quando a conheceu. Em voz alta, confessara-lhe, por gostar do estilo, conquanto difícil. A loira mítica assim desmentiu o (pré)conceito de ser apenas um belo corpo exposto generosamente e desprovido de pensar lógico convincente.

 

Facto é o professor Brown transpor para a atividade letiva o aprendido na investigação: “Ulisses” não deve ser lido com a persistência da água que corre até furar pedra. Abri-lo ao acaso, ler um trecho, depois outro, é a recomendação de Brown aos alunos. “Método Marilyn”, chama-lhe.

 

O mais curi­oso é o con­se­lho de Brown ter alguma vali­dade. Na fase em que lia quase tudo do recente apa­re­cido nas livra­rias — houve cura, feliz­mente! -, des­bra­vei o “Lin­guado” do Gun­ter Grass seguindo o método. Após meia obra dige­rida no modo tra­di­cio­nal, não resisti: inter­va­lei pági­nas. Foi o melhor.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:51
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Sábado, 22 de Junho de 2013

"LES HOMMES ENDORMIS" DA BRIGITTE BARDOT

 

Peter Engels, autor que não foi possível identificar

 

Volta que não volta, lembro dos anos cinquenta e sessenta do século que já lá vai a diva do cinema europeu que todas as «esposas» sensaboronas temiam. A imagem fornecida da BB condensava inocência e sensualidade capaz de deixar em tremeliques orgásticos o mais pacato dos homens. E eles acorriam aos cinemas sós ou acorrentados pelas respetivas que lhes vigiavam pestanejares e trejeitos quando rosto e corpo perfeitos da Brigitte enchiam os ecrãs.

 

Se as fitas que estrelou enquadradas na nouvelle vague não deixaram grandes memórias, outro destino teve o "Viva Maria" em que partilhava a tela com Jeanne Moreau, bem como o subversivo "E Deus criou a Mulher" dirigido pelo marido, Roger Vadim. Perdura na memória a inesquecível cena em que dança descalça em cima de uma mesa, tida por uma das mais tórridas da história do cinema.

 

Simone de Beauvoir descreveu Brigitte Bardot como "uma locomotiva da história das mulheres". Outros intelectos rotularam-na como a mulher mais livre da França no pós-guerra. Por esse tempo, nos «States», Marilyn Monroe borbulhava como ícone sexual, conquanto não fosse além do púdico maiô obediente aos estúdios hipócritas censores e conservadores. Na mesma época, BB atrevia o bikini, (...)

  

"Ils ont tous les mêmes manières
De peser au creux de nos lits
Abandonnés à leurs mystères
Sans façon désertant nos vies
Ils ont tous les mêmes manières
Les hommes, les hommes endormis

 

Ils ont tous le même visage
Serein détendu rajeuni
Ils ressemblent aux enfants sages
Comme parfois ils sourient
Ils ont tous le même visage
Les hommes, les hommes endormis

 

Repus et alanguis
Au creux de nos bien êtres
Ils dorment lourdement
Inexorablement
Avec de l’insistance
Même de l’insolence
Ils dorment libérés

Loin de tout, loin de nous

 

Les éternelles, les inquiètes
Les amoureuses attendries
Nous les curieuses on les guette
Avec des ruses de souris
Nous, les éternelles, les inquiètes
On les guette, on les guette
Les hommes... Endormis"

 

Nota: texto integral aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:55
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Sexta-feira, 1 de Março de 2013

"Whatever Lola Wants"

 

Ilaria Robert

 

John Keats na "Ode a uma Urna Grega", escreveu:

“Beleza é verdade, verdadeira beleza, - isso é tudo.

Sabeis na terra, e todos precisam saber.”

 

Procuramos a beleza que se esgueira e cada um inventa. Num rosto, num perto ou num horizonte. Indiferentes aos critérios e cânones dos estudos que investigadores sobre a beleza fazem tese. Talvez os humanos lhes obedeçam e confirmem créditos à ciência que os gera.

Ou não.

 

Pela subtileza de traços discordantes que induzem fantasias, lábios cheios como os da Angelina Jolie são fascínio para muitos. Boca insubmissa às regras clássicas e outras graníticas nas normas.

 

O quê/muito da inocência que transparece da inquestionável beleza da Marilyn é a sensualidade abrangendo mitos sem tempo no tempo. De Eugénio de Andrade, no “Coração do Dia, Mar de Setembro”, a constatação:

“Branco, branco e orvalhado

O tempo das crianças e dos álamos.”

 

Eugénio de Andrade, na mesma obra, torna a escrever sobre fundos humanos. Servem como luva à beleza senhoril de Audrey Hepburn.

“Mãe…

Na tua mão me levas,

Uma vez mais

Ao bosque onde me sento à tua sombra.”

 

Nota: publicado também aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:16
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Terça-feira, 14 de Junho de 2011

À MÍNGUA DE BOTÕES

Peter Driben, Elvgren

 

Lugar-comum: cinco dias fora do mundo noticioso e, à chegada, nem respigo de novidade (à laia de novela, soe o dizer). Em tão curto intervalo de tempo, não esperava mudanças substantivas, convenho, mas nova de causar espanto que me arregalasse o olhar, afora aumento do número no rol de catástrofes, seria bem-vinda. Antes da partida, uma houve prestes a consegui-lo: criminalizar como assédio sexual piropos, encostos nos transportes e assobios endereçados às mulheres passantes. Entidade promotora: UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta).

 

Exercício contrário: está um homem postado em seu sítio e mulher arrisca o piropo ou o roço. A suposta vítima de assédio não calaria uma de duas reacções: acedia alegremente ou ripostava com vigor. Se a mulher em idênticas circunstâncias não reage e se dá por presa coitada sujeita ao predador, culpa dela - é exemplo a resposta pronta e rápida, apanágio de dignas peixeiras que sabem pôr no lugar abusadores. Estes afastam-se, encolhidos, e elas nem um segundo mais dedicam à frivolidade.

  

Se a menina foi educada para silêncio que lhe preserve o pudor, se, mais tarde, a mulher não cresce no entendimento do seu papel social e é incapaz de defrontar com igualdade leves atrevimentos masculinos ou femininos, que também os há, não se lamurie, actue. Um tédio a mulherzinha sofredora! Que vá aos mercados e aprenda com as maiores. Que acabe com o estereótipo que lhe coage o estar: “odeio peixaradas!”. Faz mal - mão na cintura e língua afiada até vem a propósito sentida ofensa no espírito e na pele.

 

Depois, há a hipocrisia do ar enjoado quando arriba piropo sendo que a maioria de nós acha graça aos bem engendrados. E rimos por dentro ou ostensivamente como ontem me aconteceu. Frigorífico esvaziado, pousei malas e fui ao minimercado afavelmente aberto em dia feriado. Neste bairro que harmoniza extremos sociais, passei por idosos jogando damas no empedrado, bandos de homens à solta. Ouvi:

_ Ainda bem que não ganha o suficiente para comprar botões.

Lerda, percebi, era o instante passado. Saíra com a fatiota da viagem, túnica pelo joelho e generosas aberturas laterais que o vento alevantou.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:11
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Sexta-feira, 21 de Maio de 2010

NEM O PINO AJUDA!

Keith Garv

 

Gentes de Trás-os-Montes, ali nadas e criadas, são como as da Beira: penhascos que ventos e neve e tômbola de tempestades não desalinham ou roem. Ainda bem! De falta de convicções e «tou-por-tudo» e ‘tanto se me dá como deu’, estando a salvo porta-trocos, há fartura. E se penedos são arte quando os séculos deles fazem esculturas! Ele há a Cabeça do Velho, a do Boi, as freiras graníticas em oração subindo de Gouveia para a Estrela. Não vê a obra do cinzel quem não atenta, preso às curvas disfarçadas e ao horizonte d’além repartido em malvas e azuis e cinzas. Chegado o dormir do Sol, incandesce. Momento para regressos de quem nas faldas habita.

 

A professora nua que não vi, mas gostava de ver assim houvesse tempo para tempo inútil, cumpriu vontade/necessidade. Fez, sigo o dizendo p’ra aí, boa figura nos retratos. Ora, quantas mulheres têm corpo e vontade para o mesmo? De tão poucas me coro e m’envergonho. Por mim também. Ora, consta que a «prof» foi arredada do ensino e caminhou para o arquivo de Mirandela. Definitivamente, não sabemos tirar proveito dos recursos – pedagoga dotada e com nadas por roupa motivaria assiduidade escolar que a promiscuidade legal, ao abrigo do perdoa-faltas, não consegue. Por outro lado, há a considerar traumas infanto-juvenis sendo o método seguido por matronas azedas _ porque existem seja qual for a idade.

 

P’ra mim tenho que nem fazer o pino ajuda quando os infantes são arredios de qualquer letra ou números escritos. Quando os conceitos lhes batem na testa e devolvidos num ricochete. Ao cabo de duas aulas com bata/traje/lingerie docente mínima, os aprendizes davam ‘às de vila-diogo’. Desandariam. Rotina e regra e regulamento _ três «erres» malditos, são, para eles, alergia sem cura.

 

CÁFÉ DA MANHÃ

 

A playmate de sempre.

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:03
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