Quinta-feira, 2 de Setembro de 2010

DA MAÇÃ À AMEIXA, DO LONGE PARA LISBOA

John WoodWark, Mark H.

 

Começou por dor aguda no braço direito. O Centro de Saúde enviou o Sr. Mário para o hospital da Guarda. Atendido por um ortopedista, recomendou cirurgia como saída única para o libertar do sofrimento. No entretanto, receitas de anti-inflamatórios e nem um protector gástrico para ingerir antes da impressiva dose de comprimidos. Seguiu preceitos. O estômago, arreliado com as agressões diárias, rebelou-se. À insuportável dor do braço juntou a do estômago e o receio pela utilidade da cirurgia. Noites e noites impedido de dormir - dores mais variadas e acesas do que antes. Em desespero, o Sr. Mário, recorre a curandeiro de nomeada sito nas redondezas. Ervas e trapo à volta do cotovelo que não cessava de inchar. Tamanho duma maçã quando o vi. O homem abeirado dos cinquenta, alto e bem constituído, possante e trabalhador, vergara à doença.

 

Estando de férias no lugar médica reumatologista, ofertados préstimos. Aceitou com esperança no olhar. Uma infiltração, receita de protectores gástricos, antibiótico, recomendação para imobilizar o braço durante 24h e que voltasse par de dias após. Para a família reunida que muito o estima, a reumatologista confidenciou desassossego pela infecção que temia generalizada. Ao voltar, o Sr. Mário estava radiante: o sofrimento passara. No lugar da maçã, ameixa imberbe no tamanho.

 

Ontem, telefonema matutino. A Fátima, mulher do Sr. Mário, chorava ao dizer:

 _ O meu marido não se mexe, dói-lhe a coluna e nem andar consegue. Está na cama e só lhe apetece gritar. Que fazemos minha senhora?

_ Acalme-se Fátima. Faço um telefonema e ligo de volta.

Assim foi. Conselho recebido: _ que fosse prestes ao hospital de Viseu e procurasse um dos especialistas na curta lista de três. Chegado ao destino, nem um dos clínicos sugeridos estava ao serviço. Na urgência, radiografia e diagnóstico: hérnia discal. Nem encaminhamento para consulta posterior, nem palavra mais. Calcorreia, dorido, as dezenas de quilómetros do regresso com vazio em frente.

 

Reportando o acontecido, disse o homem num fio de voz: _ E agora, que faço?

Ligo à reumatologista:

_ Hérnia discal. E agora, que faz o senhor?

_ Mais exames e consulta por um neurocirurgião.

_ Conheces algum em Viseu?

_ Não. Se ele puder que venha. Encaminho-o.

 

E o Sr. Mário tem de vir numa ambulância para Lisboa. Irmãos vivem aqui e dar-lhe-ão apoio. A 300 quilómetros, pela necessidade de ganhar sustento, ficam mulher e filho em cuidado.

 

Maldito sistema de saúde centralizado que não cura servir anónimo em tempo útil e persiste no esmero de à dor fornecer beber!  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Nos Açores e lugares em demasia, paródia triste. 

 

publicado por Maria Brojo às 09:19
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