Sexta-feira, 10 de Abril de 2015

A MULHER, A AUTORA, A MARIA E A NARRADORA

Mark Keller melody_in_lace.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mark Keller – “Melody in Lace”

 

“Retém as tuas palavras perante todos, mas não perante um amigo.” Abu Said 

 

Na música, no bailado, numa peça de teatro há marcações, andamentos, saída e entradas que importa respeitar. Na vida é o mesmo - uma luz pestaneja duas ou três vezes e apaga-se. É o sinal da mudança, a consciência fugaz do seu reconhecimento. Destas luminescências podemos não dar conta imediata. Só a distância dos dias situam o local da viragem, o momento em que transformámos um moderato num presto ou num allegro.

 

 

É tão difícil abandonar o narrador que nos encobre... É tão fácil metaforizar, fabular, largar pegadas pelos escritos, na contradição do medo/esperança de que alguém se debruce sobre eles e percecione os nossos passos... E que necessidade é essa de entreabrir frestas no que ao próprio pertence para espíritos alheios o desflorarem?

 

Sou incoerente: o anonimato relativo oculta-me e desenho a autora como espelho da mulher que sou. Em que ficamos? Preservo-me ou exponho-me? Porque a prudência espartilha e a cada dia senti mais opressores os atilhos, desapertei-os, aos poucos, até restar um: o núcleo do que sou. E esse não interessa a quem por aqui navega.

 

A mulher, a autora, a Maria e a narradora. Coincidem aos pares. A Maria narra o que a mulher e autora experimentam, intui e fantasia. Denuncia-as, a atrevida. A narradora é o outro vértice deste jogo triangular. E, como em todos os triângulos humanos, há traição. Da mulher a si própria? Da narradora aventureira que denuncia a mulher? De todas numa só que legitimam a narradora no despir do linho fino que as cobre?

 

 

CAFÉ DA MANHà

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Quinta-feira, 7 de Abril de 2011

“OS HOMENS DO FRAQUE”

Mark Keller

 

Oficialmente, “Os Homens do Fraque” vêm aí. Oficiosamente e sem darmos conta, havia meses (as)saltaram as nossas fronteiras. Espiolhavam discretamente, não (pres)sentisse o povo, cedo demais, os calos já doridos insuportavelmente apertados. Dizem-nos competentes, duros de convencer, impõem respeito, autoritários. No íntimo de cada português, a imagem concebida é de fuinhas com «dinheirama» séria que cortam nós górdios através de outros mais estreitos que dependuram ao pescoço de cada um. Assim foi nos atrasados oitenta, assim será.

 

E venham dizer que doravante viveremos menos angustiados, que a esperança voltará! Atentando na experiência irlandesa e na grega, os autóctones nada de bom têm para contar – um taxista irlandês, aceite seja o exemplo, anda deprimido, recebe hoje cerca de um terço do pré anterior; como antes nunca fora visto, fecham lojas, os jovens imigram aos milhares pelo desemprego, pelo custo dos créditos à habitação, regressam a casa dos pais pela impossibilidade de sustento independente.

 

Por haver males imediatos que a longo prazo se revelam curas, resta-nos sofrer e (re)aprender que as coisas realmente boas da vida não carecem de euro dispendido.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Ainda na senda de vozes portuguesas.

 

publicado por Maria Brojo às 08:32
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Sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

COM «Q’ENTONCES», HEM!…

Mark Keller

 

O direito à indignação padece de abulia. Indignamo-nos por dentro ou em conversetas de café. Preferimos a lamúria, dedilhar a guitarra dos valores fadistas sem que de solfejo façamos ideia. Poderia, ainda assim, ser tocada com mestria se existisse dom natural. Mas não. Arranhamos as cordas sem avançarmos da mnemónica ritmada uso de quem e perante candidato a tocador, em desespero, faz teste último: _ “Quantas putas tem Vinhó? Uma, duas, três, quatro.” Se o infeliz obtiver da guitarra som básico e adequado, Alleluia, Gloria in Excelsis Deo. Há esperança, Lord! No contrário, o aprendiz é despedido na hora e que empregue a vontade em fados chorados por instrumentos outros.

 

Havendo demissão individual  de reagir indignadamente ao que fere a colectividade/sociedade onde somos, rola no automático o clássico “deixa andar”. E há mandantes que deste laxismo se aproveitam. E convertem-se em «tiranozecos » impunes por anos, outros tantos em cima. E a caravana passa sem o ladrido dos cães.

 

Vem a arenga ao caso pela “circular do Ministério do Ensino Superior que permite às universidades fazer novas contratações, promoções e progressões na carreira (…).” Ora, ainda que cidadão aprecie a bonomia desmoraliza. Com «q’entonces» as Escolas do Básico ao Secundário pendem congeladas, arrastados na arca a menos de 0ºC pessoal docente e não docente, enquanto o Ensino Superior avança? Lembrados, chavões vários:

- escolas de primeira e de segunda;

- filhos e enteados;

- David e Golias.

 

Pueril, só pode!, imaginava prioritária a escolaridade básica que na sociedade e nas faculdades dá proveitoso lustro. Investimento a prazo médio como o outro. Escolas pejadas de docentes que, à medida do cumular de anos, actualmente pagam para trabalhar, feitas contas repartidas entre paixão e devoção, conduzem-nos ao abandono da actividade, seja por doutoramento ou por reforma. Outros voos, outras vidas espreitam à saída. E saem como tordos do ensino, abanada com violência a árvore onde fincaram vida dedicada. Com tumulto indignado, benza-os Deus, sabem desta excepção ao despacho anterior exarado pelo Ministério das Finanças que formata em números pessoas.

 

Teologia/política de libertação individual e de massas é precisa. E que ao Vaticano não ocorra interferir no assunto.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:37
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Sábado, 18 de Setembro de 2010

NÃO ‘ÉS UM MERDAS’, SABES?

Mark Keller

 

Ou é do ‘passamos-mal’ colectivo, ou de ido o meio do mês salarial, ou do crescente número de aderentes ao ‘locomove-te na cidade sem cavalos mas com os andantes com que nasceste’ o número de caminhantes cresce nos empedrados urbanos. Apressados na maioria, tranquilos se o horário laboral não os comprime. Entre estes, desempregados rumam a entrevista ansiando pelo ‘sim, é admitido’. No percurso, rente às montras, olham-nas sem que a cobiça dos bens expostos motive atenção - procuram anúncio dependurado que informe serem necessários colaboradores.

 

Cansados do monitor e dos jornais que diariamente esmiúçam à cata de proposta cujos itens cumpram, cansados de telefonar e ouvir ‘nãos’, cansados da obsessão que lhes desfaz os dias, cansados da ruptura financeira na família, cansados da culpa que carregam, cansados da auto-estima arruinada, cansados da insensibilidade dos amigos que sugerem noitadas e copos e almoços fora de casa e viagens sabendo, de antemão, vazia a carteira, cansados do constante sopro no ouvido ‘és um merdas!’, caminham.

 

Houvesse música nas ruas, harmonias dedilhadas nas esquinas e largos e recantos, talvez ‘calcantes’ adquirissem leveza, talvez se alegrasse o espírito, talvez ‘trauteios’ ou assobios voassem das gargantas, talvez volteassem pés num paço de dança rápido, talvez crença positiva depois.  

 

Não seremos Praga ou Viena, nem cópias são desejadas, mas saiam à rua violinos, violas, violoncelos, bandolins, saxofones, trompetes, flautas e outros que a diversidade de talentos seleccione. Espalhem música nas cidades. Venha jazz e canto e trecho clássico ou popular. Devolvam alegria e gosto pela música às vidas que carecem. E são todas se for melhor pensado.   

 

 CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:04
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