Jack in the Pulpit (1930) by Georgia O'Keeffe (1887-1986)
Passados dois terços do Verão, ainda os pavimentos suavam, já ela distinguia cobre nas folhagens das tílias e plátanos, o verde murcho nos fetos dos pinhais e que escurece copas frondosas. Não o verde quase negro à mistura com cinzento que pinta arbustos e árvores em Nova Iorque. É outro. Remete para o dos ciprestes destacados no ocre dos solos agrícolas da Toscânia onde apetece rolar na imensidão aveludada pelas sobras de palha das colheitas. E se ela não o compara ao dos sobreiros do Alentejo amado, tem uma razão: caules laivados de vermelho se a riqueza da cortiça lhes foi escamada e os deixou nus como ovelhas sem lã após tosquia.
Passados dois terços do Verão, já ela conhecia pelo relógio íntimo o descair mais cedo do Sol no horizonte com suavidade dourada e ígnea sempre crescida até ao arrumo para sono tranquilo. E chegava a noite fria dos grilos, dos pirilampos lampejando em dança de sedução que as fêmeas aguardam. E por ali ficava esquecida da janta. Por ali, rente ao chão e à alma, esperava o azul noite que a despiria.
Hoje, é do Outono a chegada. E lembra ser o Outono a Primavera do Inverno.
CAFÉ DA MANHÃ
O título "Les Feuilles Mortes" foi extraído do álbum “Montand Chante Prévert”. O poeta surrealista francês escreveu o guião do filme "Les Portes de la Nuit" (1946) dirigido por Marcel Carné, baseado no bailado "Le Rendez-Vous" de Roland Petit com música de Joseph Kosma. Dos dois primeiros versos da canção de Prévert, "Les enfants qui s'aiment s'embrassent debout/contre les Portes de la Nuit", viria o título do filme. Jean Gabin e Marlene Dietrich aceitaram protagonizá-lo, mas viriam a optar pelo filme, "Martin Roumagnac". Um jovem cantor francês foi, entretanto, apresentado por Edith Piaf. Yves Montand protagonizou o drama "Les Feuilles Mortes".
Nota 1 – O poema foi publicado após o desaparecimento de Jacques Prévert no livro "Soleil de Nuit".
Nota 2 – No vídeo à direita, Jean Vilar faz brotar duma harmónica a música inolvidável.
“Oh ! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis.
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle.
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.
{Refrain:}
C'est une chanson qui nous ressemble.
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidèle
Sourit toujours et remercie la vie.
Je t'aimais tant, tu étais si jolie.
Comment veux-tu que je t'oublie ?
En ce temps-là, la vie était plus belle
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais,
Toujours, toujours je l'entendrai!”
CAFÉ DA MANHÃ
"O título "Les Feuilles Mortes" é extraído do álbum “Montand Chante Prévert”. O poeta surrealista francês escreveu as palavras para o filme "Les Portes de la Nuit" de 1946 dirigido por Marcel Carné, baseado no bailado "Le Rendez-Vous" de Roland Petit do ano anterior com música de Joseph Kosma. Dos dois primeiros versos da canção de Prévert, "Les enfants qui s'aiment s'embrassent debout/contre les Portes de la Nuit", viria o título do filme. Jean Gabin e Marlene Dietrich aceitaram protagonizá-lo, mas, por fim, mudaram-se para outro filme, "Martin Roumagnac". Um jovem cantor francês foi, entretanto, apresentado por Edith Piaf. Yves Montand desempenhou, então, o papel no pessimismo do filme "Les Feuilles Mortes".
O poema foi publicado após o desaparecimento de Jacques Prévert no livro "Soleil de Nuit" de 1980."
No vídeo à direita, Jean Vilar faz brotar duma harmónica a música inolvidável.
“Oh ! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis.
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle.
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.
{Refrain:}
C'est une chanson qui nous ressemble.
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidèle
Sourit toujours et remercie la vie.
Je t'aimais tant, tu étais si jolie.
Comment veux-tu que je t'oublie ?
En ce temps-là, la vie était plus belle
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais,
Toujours, toujours je l'entendrai!”
De baixo para cima, pétalas coloram o perto das humildes e envergonhadas que pela noite se fecham em recato para abrirem com a madrugada, sempre abraçadas aos canaviais que bordejam linha férrea em desuso, às simples, porém envasadas e mimosas, em cantos protegidos de ventos que somente encantam quem as vê com olhar surpreso por novo amanhecer e, ainda de baixo para cima, os cotos sobrepostos da palmeira desembocam em ramalhete fendido, os cachos de glicínias encimam portão que oculta palacete.
Nas casas senhoriais, memórias garbosas de capelines protegendo alvuras de peles femininas, charretes, mais tarde nos anos, automóveis em entra e sai na hora de ‘receber’, meninas de luxo no luxo de sedas e damascos que pelas janelas meditam no mundo visto por cima dos muros, tão próximo e distante dos sonhos juvenis, idosos acomodados em cadeirões fofos, desinteressados do mundo além do descrito nos livros relidos e dos afectos presentes chegado o tempo de perspetivar o final, empregadas com farda e crista afadigadas em acender lareiras, servir os ‘senhores’ e, depois, rirem na cozinha das manias deles, víveres entregues pela porta da criadagem, namoricos soltos proibidos às donzelas/patroas e também servas dos seus pais/patrões.
Formosas moradias em banda, se hoje o não são é adivinhado que foram, ladeiam a Avenida do Brasil cruzada por ruas em declive obrigando a arfar quem as sobe, olhar atentamente o empedrado quem as desce, ladeiras, dizem-nas, pela inclinação e batismo, becos sem levarem a lado nenhum salvo aos moradores, toponímias curiosas, balcão de carnes frescas anunciadas como sendo de categoria.
Zona ‘nova’, que o não é porque já o foi, apresenta arquiteturas de más à excelência, a recente Almedina, encastoada sob vidros (...)
Nota: texto na íntegra acabado de publicar aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
A magia do antigo, a surpresa do novo.
Lluis Ribas – da coleção “As Cores do Branco”
São os leitos nodosos, turvos e densos, que melhor acolhem as raízes e permitem que a flor de lótus se erga delicada e vigilante. Toda a espera é uma promessa de incerteza e, por isso, ninguém pode saber o que vai dentro do coração de um lótus. Na realidade, são muitos os botões que permanecem fechados, numa obstinação imprevisível.
"Lótus de ouro" era o adjetivo mais generoso dirigido a uma cortesã chinesa; num registo mais amplo, o lótus simboliza a pureza também na união dos amantes.
Hollywood criou o mito das louras e os estereótipos a elas ligados. Ao platinar os cabelos, gerou uma nova versão da femme fatale. Marlene Dietrich em “Vénus Loura”, Rita Hayworth em “Dama de Xangai”, Bette Davis na “Floresta Perdida” e Vivian Leigh num “Elétrico Chamado Desejo”, ficaram inesquecíveis em papéis de louras, assim como Marylin Monroe. Depois, há as louras que por não o serem tão declaradamente nos esquecemos que o são: Jessica Lange, Sharon Stone e Liv Ullman. Todas sedutoras, todas protagonizando tórridos affairs.
Em idos, os affairs discutiam-se (ou escondiam-se) no recato do lar, na penumbra dos confessionários ou na rigidez dos tribunais. Hoje, o desejo sexual adquiriu alforria, embora ainda se queira precioso e com o perfume de especiaria rara. O homem receou o poder da sexualidade feminina e, por isso, tentou controlá-la ou anular reprimindo-a. A literatura e o cinema, frequentemente, consolidaram esses medos.
Herdámos o conceito do que se distancia do lugar almejado tido por «bem» é vivido como imperfeição ou pecado, contamina a liberdade e pesa como culpa, quantas vezes ociosa!, no indivíduo sem permitir que surja, pura, a flor de lótus.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros